Na sua intervenção de hoje n a53.ª edição da Conferência de Segurança de Munique, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, afirmou que o tempo em que o Ocidente disparava acabou e, considerando a NATO como uma relíquia da Guerra Fria, afirmou: "Espero que [o mundo] venha a escolher uma ordem mundial democrática - uma ordem pós-Ocidente - em que cada país é definido pela sua própria soberania".
Moscovo pretende construir relações com Washington que seriam "pragmáticas com mútuo respeito e conhecimento da nossa responsabilidade pela estabilidade global", acrescentou Lavrov.
Os dois países nunca tiveram um conflito direto, afirmou, apontando até que são vizinhos próximos no estreito de Baring. A Rússia pretende encontrar "um espaço comum de boas relações de vizinhança desde Vancouver até Vladivostok", acrescentou o responsável da diplomacia russa.
A 53.ª edição da Conferência de Segurança de Munique junta na cidade alemã até domingo os Chefes de Estado e de Governo, ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa para debater desafios críticos de segurança.
Participam nos trabalhos o novo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.
"Será que vamos ser capazes de continuar a trabalhar bem juntos, ou vamos todos assumir papéis individuais", questionou Merkel
Na sua intervenção, a chanceler alemã, Angela Merkel, apelou, por seu lado aos Estados Unidos, para que apoiem e tornem mais fortes organizações como a União Europeia, as Nações Unidas e a NATO. Merkel defendeu que “agir em conjunto fortalece todos os países”.
O apelo da Chanceler alemã surgiu depois de o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, ter garantido, no mesmo forum, que o compromisso dos Estados Unidos com a NATO era “inquebrável”.
"Será que vamos ser capazes de continuar a trabalhar bem juntos, ou vamos todos assumir papéis individuais", questionou Merkel, acrescentando que espera que os países aliados da NATO encontrem posições comuns. "Vamos juntos fazer um mundo melhor porque assim tudo fica mais fácil para cada um de nós”, acrescentou.
No discurso, Merkel deu espaço para que fossem feitas algumas melhorias nas estruturas multilaterais, dizendo que em muitos locais elas não são suficientemente eficientes. "Estou firmemente convencida de que vale a pena lutar pelas nossas estruturas multilaterais internacionais comuns, mas precisamos de as melhorar", disse a chanceler, garantindo que o seu país está comprometido com o objetivo da NATO de contribuir com dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para a defesa, em vez dos atuais 1,3%.
"Faremos tudo o que pudermos para cumprir este compromisso, mas acredito que a NATO, apesar de ter muito interesse para a Europa, também tem para os Estados Unidos. É uma aliança muito forte onde estamos unidos", frisou.
Para Merkel, os países europeus não podem lutar sozinhos contra o terrorismo extremista islâmico, necessitando do “poder militar dos Estados Unidos".
Apelou também às autoridades religiosas islâmicas para que se demarquem do terrorismo cometido em nome do Islão.
A chanceler prometeu ainda continuar a trabalhar para melhorar as relações com a Rússia, enfatizando a necessidade de manter o acordo de Minsk (Bielorrússia) para que acabem os combates no leste da Ucrânia entre forças governamentais e separatistas pró-russos.
Antes da sua intervenção em Munique, numa conferência de imprensa em Berlim com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, Angela Merkel tinha já sublinhado a importância que atribui à NATO: “Creio que devemos todos estar conscientes do valor mútuo da NATO”, declarou. “É verdade para nós na Alemanha e para os membros europeus da Aliança Atlântica, mas também acredito que os Estados Unidos têm desenvolvido o seu poder através da NATO e que a NATO é uma organização importante também para os Estados Unidos da América”, adiantou a líder alemã.
O presidente norte-americano, Donald Trump, mostrou-se muito crítico da Aliança Atlântica durante a sua campanha para a Presidência, numa altura em que a Rússia intimida o Velho Continente e em que a NATO – dominada pelos Estados Unidos – parece ser o único baluarte face a Vladimir Putin. Trump qualificou a Aliança de “obsoleta” e criticou os aliados por não compartilharem o fardo financeiro.
O compromisso dos EUA com a Nata é "inabalável", disse Pence
Entre a frente russa e a frente alemã, o vice-presidente americano, Mike Pence, garantiu por seu lado que o compromisso dos Estados Unidos no seio da NATO é "inabalável", num discurso destinado aos aliados, preocupados com os comentários do presidente Donald Trump. "O presidente pediu-me para estar aqui hoje (...) para transmitir a mensagem de que os Estados Unidos apoiam firmemente a NATO e que seremos inabaláveis no nosso compromisso com a Aliança Atlântica", disse Pence durante a Conferência de Segurança de Munique.
Pence, que falava pela primeira vez perante a élite político-militar mundial, garantiu no seu discurso de cerca de 20 minutos que se expressava em nome do presidente dos Estados Unidos. "Sempre seremos seus maiores aliados", afirmou, lembrando os valores comuns de "democracia, justiça, Estado de Direito" partilhados pelos Estados Unidos e seus aliados europeus.
Com um discurso solene e pausado, o nº 2 americano reiterou, no entanto, as exigências de Washington por uma maior contribuição financeira de seus aliados da NATO."A defesa europeia exige tanto nosso compromisso quanto o de todos vós (...)", mas "a promessa de partilhar o fardo não é cumprida há muito tempo".
"O presidente Trump espera que os seus aliados cumpram a sua palavra" sobre os gastos militares, pediu.
Washington pede que os europeus gastem em defesa tanto quanto os Estados Unidos, na proporção da sua riqueza. Trump ameaçou várias vezes retirar-se da Aliança se os Estados-membros não cumprirem com as suas obrigações.
Artigo atualizado às 14h30
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