Soares, disse Carlos César, "foi perfeito e imperfeito, foi ousado e cometeu imprudências, apostou e ganhou, apostou e perdeu", mas "nunca foi, porém, desinteressante e muito menos irrelevante".

"Nunca faltou ao seu país. Era cosmopolita. Foi sempre universalista. Foi sempre, por conseguinte, um grande português", vincou o presidente do PS, falando no parlamento, em plenário, na sessão de homenagem ao ex-chefe do Estado, que morreu no sábado aos 92 anos.

Esta sessão especial da Assembleia da República, dedicada à evocação da memória de Mário Soares é, prosseguiu Carlos César, "a celebração da sua vida e da sua dedicação patriótica" a Portugal, país "sem o qual o mundo não seria igual".

"Devemos a Mário Soares a lembrança, insistente, constante da nossa vocação e da nossa projeção universal. Por isso, ele percorreu o Mundo, como nosso procurador, ajudando ao nosso reconhecimento", vincou o socialista.

César traçou uma retrospetiva da vida política do fundador do PS, lembrando aos presentes que Soares "viveu, até aos primeiros 49 anos da sua vida, sem conhecer, no seu país, o respeito pelos direitos, liberdades e garantias, públicas e individuais".

"Quer isto dizer que viveu a sua infância e juventude sob o signo da perseguição permanente ao seu Pai, o pedagogo distinto que foi o dr. João Soares. Quer isto dizer que, sendo quem era, desde que chegou à idade da razão, aos 17 anos, não deu tréguas à opressão durante os 32 anos seguintes. Quer isto dizer que o fez partilhando com a sua mulher, Maria de Jesus, e com os seus filhos, Isabel e João, antes e depois de 1974, os entusiasmos mais íntimos e os sofrimentos mais angustiantes dessas lutas", assinalou.

Sem o Mário Soares "antifascista, Portugal não teria o Mário Soares que "viria a ser o maior agente da consolidação da democracia política" portuguesa, sublinhou o líder parlamentar socialista.

Em razão da "eficiência do combate antifascista", Soares entrou para o Partido Comunista Português (PCP), "como o fizeram tantos outros" a quem Portugal "tanto" deve, recordou Carlos César.

"Acompanhado e acompanhando aqueles a quem a autonomia da ação e do juízo políticos não dispensavam um livre arbítrio não-consentâneo com a férrea disciplina partidária, abandonou essa filiação", prosseguiu o socialista, antes de falar no papel de Soares na fundação do PS.

Citando depois palavras do Presidente da Assembleia da República, Carlos César assinalou a "frase feliz" de Ferro Rodrigues em que este definia Soares como "mais do que o militante número um do PS, o militante número um da democracia portuguesa".

"É verdade. Como presidente do PS, isso orgulha-me", concluiu César.