No final da "reunião do Infarmed" que decorreu durante a tarde, a ministra da Saúde, ladeada por Tiago Brandão Rodrigues, indicou que o Governo se encontra "a preparar com segurança aquilo que é o regresso às atividades escolares”.

Tendo em conta que, no passado ano letivo, apenas foi possível promover o regresso às escolas dos alunos do 11º e 12º ano, assim como a reabertura das creches, Marta Temido lembrou que deste vez a reabertura far-se-á para todos os anos escolares e que "isso exige que a retoma das atividades escolares se faça com um conjunto de cuidados".

Referindo que esse foi um dos temas mais debatidos durante a sessão, a ministra disse também que o Governo está a olhar para a "evidência internacional que mostra também aquilo que são as dificuldades dos outros países", e que, sendo inédito em tempo de pandemia, este processo "vai contar com a capacidade de ir incorporando aquilo que é a nossa aprendizagem".

A ministra, porém, ressalvou que o país se encontra a postos para o regresso às aulas que terá começo na próxima semana. "Estamos preparados enfrentar o regresso à escola em segurança, das nossas crianças e dos nossos jovens adultos. E também estamos melhor preparados do que estávamos há seis meses para enfrentar um eventual recrudescimento da doença", garantiu Marta Temido.

"Temos mais capacidade de testes e de cuidados intensivos, temos equipas na saúde pública que estão mais preparadas para estas respostas localizadas em trabalho com autarquias e com os atores. Temos mais meios, mais experiência e conhecimento, apesar do contexto ser de grande exigência", frisou a ministra.

“É absolutamente primordial abrirmos as escolas"

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, lembrou também a "experiência acumulada" no passado ano letivo com a abertura parcial das escolas e que o "conjunto de critérios e de orientações da DGS e do Ministério da Educação" que a permitiu foi o que permite agora ao Governo dizer que não houve "praticamente casos e surtos em ambiente escolar”.

“É absolutamente primordial abrirmos as escolas", disse o ministro, referindo a importância dessa abertura para a saúde mental e a saúde física dos alunos, assim como o peso da literacia.

Depois de, em julho, ter sido enviado um conjunto de orientações para a escolas para que estas se preparassem, Tiago Brandão Rodrigues disse que tanto ele e Marta Temido como um líder da oposição, referindo-se a Rui Rio, tiveram a oportunidade de ver como as escolas se têm preparado. “Tenho a certeza que as escolas estão a fazer tudo para aumentar a segurança e confiança das nossas famílias, dos nossos alunos e de todos os profissionais nas nossas escolas”, apontou.

Agora, com as medidas enviadas no final da semana passada — referindo-se às orientações de atuação em caso de infeção por Covid-19 — Tiago Brandão Rodrigues disse que as escolas podem "juntamente com as autoridades de saúde locais, regionais e nacionais, fazer a gestão de casos suspeitos, de casos positivos ou da existência de surto".

Quanto às alternativas criadas para os alunos caso haja casos de infeção, o ministro da Educação disse que o foco do Governo está no ensino presencial. “O que nós queremos é que as crianças estejam na escola, é para isso que estamos a trabalhar", sendo que, “se as atividades letivas presenciais foram interrompidas, têm de sê-lo no menor espaço possível, isto é numa turma ou nas turmas que estiveram no edifício, e pelo menor tempo possível”.

No entanto, Tiago Brandão Rodrigues assegurou que estão a ser mobilizados meios para "se necessário, termos efetivamente condições para o ensino misto ou o ensino à distância". Por isso mesmo, o Governo está a "trabalhar com um enorme projeto nacional para a digitalização da escola e também com o Estudo em Casa", sendo que quanto a esta modalidade foram prometidas "novidades em breve".

Estado "não se demite" de garantir proteção aos utentes dos lares

A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou também hoje que o Estado “não se demite” de garantir a proteção dos utentes dos lares, apontando que estas são estruturas “muito complexas” e que o “dever de guarda” recai sobre os seus proprietários.

“Aquilo que estamos a falar é de uma área de atividade muito complexa, onde há vários atores, desde logo os proprietários das instituições, muitas destas instituição maioritariamente são instituições privadas ou do setor social. Há aqui um dever de guarda que incumbe, em primeira mão, às estruturas que abrem portas para receber estas pessoas e depois, há um dever do qual o Estado não se demite de garantir o seu melhor para aquilo que é a proteção destas pessoas”, salientou Marta Temido.

A ministra, que falava à margem da reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, que juntou peritos, políticos e parceiros sociais, no Porto, disse ainda que tem sido dada “toda a atenção” a estas estruturas, onde estão “os mais sensíveis a esta doença”.

“Sabemos da nossa experiência que as condições em que estamos a trabalhar têm de ter uma vigilância continua e uma presença regular das entidades de saúde, entidades da Segurança Social, entidades da Proteção Civil e concretamente, equipas de saúde familiar de forma a que seja garantido aquilo que são as regras”, referiu.

Questionada pelos jornalistas sobre o facto de o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, não compreender como é que ainda não se retiraram lições do que aconteceu nos lares numa primeira vaga da pandemia, Marta Temido disse não lhe “caber pronunciar” sobre o assunto.

“O que tentamos mostrar foi que foi esse o caminho que tínhamos cumprido desde o início da pandemia”, disse a ministra, acrescentando que o Governo “continua a responder” com meios necessários.

“Penso que a segurança que podem ter em nós é que temos aqui um problema a sério, difícil, de abordagem complexa porque exige um conjunto de meios articuladamente a responderem e que continuaremos a mobilizá-los para as melhores respostas possíveis”, reforçou a ministra.

Também questionada sobre os cuidados de saúde primários, Marta Temido admitiu que os mesmos necessitam de ser melhorados, pois têm “um papel muito importante”, nomeadamente, por garantirem, entre outras questões, a visitação domiciliária, o atendimento telefónico, a vigilância ativa dos doentes covid.

“Esta tem sido uma recuperação com que tem sido no nosso país, como noutros países com um ritmo de recuperação difícil, mas sabíamos isso desde o princípio. Sabíamos que fazer hoje uma consulta exige mais tempo”, afirmou Marta Temido, assegurando que as respostas vão ser intensificadas antes da próxima quinzena.

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, disse hoje não compreender como é que, nesta altura, ainda não se retiraram lições do que aconteceu nos lares numa primeira vaga da pandemia da covid-19.

“Como é que se compreende que continuem apenas a fazer-se testes quando há pessoas que acusam positivo. Quando há uma pessoa num lar que acusa positivo, o caminho já está prejudicado, o caminho para uma vaga nesse lar já é muito forte”, afirmou Ferro Rodrigues.

E prosseguiu: “É isso que não consigo perceber porque é que não se apreenderam lições da primeira fase e não se retiraram lições para a evolução da situação em julho e em agosto, nomeadamente”.

Estas declarações foram feitas na segunda parte da reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, que decorre esta tarde, no Porto, e que não é aberta aos jornalistas, que assistem à sessão numa sala preparada para o efeito, contudo, a transmissão não foi interrompida e acabou por se ouvir a intervenção de Ferro Rodrigues.

O encontro junta peritos, políticos e parceiros sociais e conta com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, líderes partidários, patronais e sindicais.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 889.498 mortos e infetou mais de 27,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.843 pessoas das 60.507 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.