Agendado para Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, de 18 a 20 de setembro, o congresso vai acontecer fruto da parceria entre a Iniciativa Médica 3M e o Centro de Estudos e Desenvolvimento dos Cuidados Continuados e Paliativos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Segundo o coordenador, Hugo Ribeiro, os números do “primeiro estudo epidemiológico sobre as vítimas [de dor crónica] feito em 2012 são idênticos ao efetuado em 2023”, concluindo, por isso, “que nos últimos 10, 15 anos (…) pouco se fez em Portugal para combater este enorme flagelo”.
“É um flagelo para a qualidade de vida das pessoas que sofrem com a dor crónica, mas também para o país”, destacou o médico, enumerando o “prejuízo brutal, que vai desde o presenteísmo laboral até às ausências ao trabalho e às contribuições que o Estado terá de suportar para as pessoas que não conseguem ser produtivas”.
Hugo Ribeiro referiu que pode haver outros prejuízos, mencionando ainda a “influência ao nível da doença psiquiátrica, cardiovascular e mesmo as respiratórias, que pioram quando uma dor crónica está mal controlada”.
“A dor crónica tem vários fatores associados, particularmente patologias do foro musculoesquelético, osteoarticular que, com o envelhecimento, provocam mais dor que se não for adequadamente avaliada e tratada evolui para dor crónica, que já não é um mecanismo fisiológico, adaptativo, de resposta a um dano, mas uma situação em que o nosso cérebro interpreta um determinado conjunto de sinais e espoleta dor que acaba por prejudicar o sono, o humor, a nossa capacidade de gestão e de concentração”, descreveu.
E prosseguiu: “com o envelhecimento temos mais dor porque também temos mais causas para essa dor. Os nossos dados são alarmantes. Chegamos a ter 83% dos idosos com dor crónica, para além de que 75% dos doentes queixam-se que a dor ou não está bem tratada ou controlada ou até, de alguma forma, foi desvalorizada pelos profissionais de saúde”.
Ainda sobre os resultados dos dois estudos, o coordenador do congresso aponta para uma “falha na formação”, lamentando que a dor “seja um problema não abordado nas faculdades de medicina” em Portugal.
“Assistimos, nas últimas décadas, a uma disparidade entre aquilo que é a oferta formativa para os médicos e para outros profissionais, e a sua responsabilidade assim que chegam ao efetivo trabalho com os doentes, porque nós temos doenças e problemas de saúde aos quais não estamos a dar resposta na formação pré-graduada”, disse.
Para Hugo Ribeiro, especialista em Medicina Geral e Familiar, a existência de um problema que “afeta mais de 40% da população portuguesa espelha que “a parte formativa falhou estrondosamente”.
Apontando que uma das soluções passa pela aposta na formação, defende que o que “resulta melhor é a abordagem multidisciplinar (…) como o exercício físico, as abordagens espirituais e relacionadas com a psicoterapia, com outros profissionais”.
“Uma intervenção holística não vai ferir sensibilidades porque toda a gente que se dedica à área da dor já sabe que tem de ser assim. Está mais que comprovado”, insistiu.
Como exemplos internacionais úteis, apontou “os países nórdicos em que se trabalha mais próximo da comunidade”, enquanto Portugal continua “muito concentrado em unidades de tratamento da dor nos hospitais”, quando o essencial é que “passe a haver consultas de dor crónica, por exemplo, nos centros de saúde, com médicos, psicólogos e enfermeiros que estejam mais especializados na dor crónica”.
No congresso, o IM3M – grupo de médicos de várias especialidades unidos pela vontade de organizar e potenciar formação médica em Geriatria, Medicina da Dor e Medicina Paliativa – vai homenagear o médico José Gomes Ermida e atribuir uma bolsa de doutoramento em cuidados paliativos à coordenadora nacional dos Cuidados Paliativos de Cabo Verde, Valéria Semedo.
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