Apesar de a propriedade dos concelhos ser privada, pelo que "qualquer intervenção deverá contar com os principais interessados", o ministro Luís Capoulas Santos acredita que "esta tragédia deveria e poderia levar a iniciar a reforma da floresta precisamente naqueles municípios".

"Não sendo a reforma [da floresta] visível de imediato à escala nacional, se concentramos todas estas medidas, de forma antecipada, naquele território e transformá-lo num laboratório daquilo que a prazo pode ser a floresta portuguesa bem gerida e bem ordenada", afirmou aos deputados da Comissão da Agricultura e do Mar da Assembleia da República.

O ministro da Agricultura garantiu ainda estarem a ser dadas ajudas aos agricultores afetados pelos incêndios registados no Centro do país, pormenorizando os apoios dados na alimentação animal.

“É com muita satisfação que estamos a coordenar a logística da distribuição dos alimentos para os animais, que na sua maioria foram doados por organizações de agricultores, produtores de leite e 16 empresas agroalimentares, que ofereceram várias dezenas de toneladas de rações”, afirmou o governante na comissão parlamentar de Agricultura.

Capoulas Santos acrescentou que o seu ministério integrou a lista de doadores, através da Companhia das Lezírias, tendo disponibilizado até agora 90 toneladas de alimentos para “acudir aos primeiros dias”.

“Sei que o ministério da Administração Interna está também a preparar, a exemplo do que fizemos no ano passado, um conjunto de medidas para dar apoio financeiro para alimentação animal, porque desde esta data até que venham as primeiras chuvas não existirão pastagens no terreno”, explicou.

Aos deputados, Capoulas Santos referiu ainda que o apoio passará também pela recuperação do potencial produtivo, referindo a possibilidade de alocação a fundos perdidos para pagar entre 50% a 80% do valor dos bens e equipamentos perdidos.

O governante admitiu ainda que possam ser mobilizados recursos extraordinários do Orçamento de Estado.

Luís Capoulas Santos criticou ainda quem procura utilizar as consequências dos incêndios da região centro em “benefício próprio”.

“Neste momento quem usar a tática política, quem procurar utilizar este tema em benefício próprio vai-lhe suceder exatamente o contrário, como o triste episódio protagonizado pelo líder do seu partido [o líder do PSD, Pedro Passos Coelho]”, afirmou o governante, numa resposta ao deputado social-democrata Maurício Marques.

Na comissão parlamentar de Agricultura e do Mar, Capoulas Santos começou por defender que nas “questões vitais para o país exige-se a todos os decisores políticos que façam um esforço”, como o Governo está a fazer e a “dialogar com todos sem procurar ‘fait-divers’”.

O ministro da Agricultura disse estar disponível para “acolher todas as propostas”, que no caso do PSD “foram zero”. “Vou recusar neste debate e em qualquer outro que politizemos ou que partidarizemos este tema e a recomendação que faria é: vamos todos discutir a floresta, vamos discutir as propostas e o que faz falta”, instou.

Na resposta a estas palavras, Maurício Marques referiu que “não entraria no estado de espírito” do ministro e solicitou uma “discussão séria”. “É isso que estamos fazer, contrariamente ao senhor ministro, que está a dizer que a colaboração e prestação do meu partido foi zero, mas entrou neste parlamento uma proposta subscrita pelo PSD e CDS-PP para uma das reformas que está hoje em discussão: o sistema nacional de informação cadastral”, sublinhou.

Na segunda-feira de manhã, após uma visita ao quartel dos bombeiros de Castanheira de Pera, distrito de Leiria, o presidente do PSD acusou o Estado de falhar no apoio psicológico às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, dizendo ter tido conhecimento de que um suicídio ocorreu por falta desse apoio. No final desse dia, Passos Coelho pediu desculpas por ter usado “informação não confirmada" ao falar num suicídio, depois desmentido, e o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, assumiu ter dado uma informação errada ao líder social-democrata sobre um alegado suicídio na sequência dos incêndios.

Os incêndios que deflagraram na região Centro no dia 17, e que demoraram uma semana a serem extintos, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos. Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

A área destruída por estes incêndios - iniciados em Pedrógão Grande, no distrito de Leira, e em Góis, no distrito de Coimbra - corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em março.

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra. O incêndio de Góis atingiu ainda Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais.

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