“A minha opinião sobre a ciclovia mantém-se: foi um erro. Aliás, ela foi feita e refeita, construída e reconstruída, portanto eu não quero agora cair outra vez aqui numa polarização de fazer e depois voltar a desfazer e voltar a fazer. Vamos pensar a longo prazo”, declarou Carlos Moedas (PSD), que governa sem maioria absoluta.
Em declarações aos jornalistas, após uma reunião privada do executivo, em que decidiu retirar a sua proposta de avançar com o projeto de solução provisória para a ciclovia, o social-democrata disse que outra das razões para “não se fazer agora nada” e se pensar a longo prazo tem a ver com as obras do plano de drenagem, que devem começar em setembro e prolongar-se por “alguns meses”. Um dos pontos de intervenção é precisamente nesta artéria.
“Quero focalizar-me nesse futuro, repensar a Almirante Reis, [para] que possa ter bicicletas, possa ter carros e possa ter pessoas […]. O pior que se pode fazer nesta área das mudanças climáticas é entrar em ideologias e fricções. Sei que há um lado esquerdo que gosta muito de entrar nessas fricções, porque isso de certa forma lhes interessa para uma luta política. Acho que as alterações climáticas não devem ser uma luta política, devem ser uma luta de todos”, expôs.
Apesar de já ter anunciado que votará contra a proposta do BE, do Livre e da vereadora independente Paula Marques (eleita pela coligação PS/Livre) para que, “antes de qualquer alteração na configuração do perfil da avenida”, seja apresentado o projeto de alteração fundamentado para a pista ciclável - abrindo um período de recolha de contributos de no mínimo 45 dias -, o presidente da câmara disse que respeitará a decisão da maioria.
O vereador do PS João Paulo Saraiva manifestou-se surpreendido com a decisão de Carlos Moedas de retirar a proposta para uma solução provisória na avenida, que seria viabilizada com a abstenção dos socialistas, e acusou o presidente da câmara de “não querer decidir nada sobre a cidade”. No seu entender, corre-se o risco de Lisboa “ficar paralisada, com esta falta de capacidade de decidir, com este medo de decidir”.
“Carlos Moedas prefere a vitimização a decidir, portanto em cada momento tenta encontrar um facto político para tentar vitimizar-se”, criticou, explicando que, para o PS, o presidente da câmara deve poder definir qual o traçado de uma ciclovia, uma vez que não se trata de uma grande estratégia de ciclovias da cidade.
Sobre a consulta pública pedida por BE, Livre e Paula Marques, o vereador do PS adiantou que ainda não se sabe se essa proposta vai ter continuidade.
Da parte do PCP, o vereador João Ferreira criticou Carlos Moedas pelas diferentes posições sobre o futuro desta pista ciclável: “Para quem num dado momento tinha tantas certezas sobre aquela ciclovia e sobre o que era necessário fazer na Almirante Reis, de repente passámos a um momento em que é só hesitações e alguma desorientação. Isso não deixa de constituir motivo de alguma surpresa, mas, de facto, parece indiciar é a falta de uma visão sobre o que se pretende para aquele eixo.”
O PCP apresentou uma proposta para um plano urbano para todo o eixo que vai do Martim Moniz à Praça do Areeiro, incluindo a Almirante Reis e a área envolvente, que inclui a participação das populações, “com uma dimensão social e ecológica”. Pretende-se uma intervenção de cariz mais global, que equacione a ciclovia, mas todo um conjunto de outras questões.
Contudo, para o partido, “não há da parte do atual presidente grandes ideias”.
Mantendo a proposta de consulta pública, os vereadores do BE, Livre e Cidadãos por Lisboa defenderam que o recuo de Moedas é “uma oportunidade” para estudar a melhor solução para a ciclovia.
A vereadora do BE, Beatriz Gomes Dias, referiu que “os pareceres da EMEL, da Carris e dos bombeiros desaconselham a alteração que estava a ser pensada”, pelo que é importante que sejam feitos estudos, “para poder avançar com segurança numa solução que será a melhor solução para a cidade”.
Em substituição de Paula Marques, Rui Franco realçou o contexto de que “em setembro toda a Avenida Almirante Reis vai ficar durante anos interrompida pelas grandes obras do plano geral de drenagem”, acusando Carlos Moedas de “uma birrinha” ao dizer que a ciclovia que existe não funciona e de querer “mudar só por mudar”, quando a alteração proposta, do ponto de vista técnico, é “para pior do que o que está”.
Do Livre, Carlos Teixeira considerou positiva a decisão do presidente de retirar a sua proposta, para “poder começar a pensar no reperfilamento que aquela avenida pode vir ter, de forma a beneficiar toda a gente”, inclusive ciclistas e automobilistas.
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