"Vou-vos dizer aqui uma coisa que nunca disse na campanha, vou-vos dizer aqui pela primeira vez, para ser muito claro sobre isso: se eu algum dia tiver de cortar um cêntimo numa reforma, demito-me", declarou Luís Montenegro.
Esta promessa foi feita durante uma ação de rua da Aliança Democrática (AD) em Portalegre, perante quatro ex-operárias têxteis reformadas que estavam sentadas à mesa de um café, que o presidente do PSD procurou convencer a não temerem novos cortes nas suas pensões.
Uma delas, que estava sentada mais ao canto, disse não ter gostado de ver o ex-primeiro-ministro e antigo presidente do PSD Pedro Passos Coelho em campanha ao lado de Luís Montenegro: "Tenho de ser sincera, ele é que me roubou".
"Eu trabalhei 43 anos. Com uma reforma de miséria, habituei-me sempre a ganhar pouco, mas sempre cresce sempre um bocadinho. E com o senhor Passos Coelho não cresceu nada, diminuiu tudo, tudo, tudo, tudo", queixou-se esta idosa.
O presidente do PSD respondeu-lhe que Passos Coelho "não roubou nada", pediu-lhe que "não diga isso" e argumentou que o ex-primeiro-ministro "foi obrigado a fazer isso", que aquele Governo "apanhou a bancarrota" e conseguiu recuperar a situação do país.
Focando-se no futuro, Luís Montenegro repetiu que "podem ter a certeza absoluta" de que se for primeiro-ministro não fará cortes nas pensões: "É uma promessa de honra minha, podem estar mesmo despreocupadas. E, por mais que os nossos adversários vos tentem dizer isso para vos assustar, não acreditem. É palavra de honra, mesmo".
"O que foi feito naquele período foi feito depois de o PS ter assinado um compromisso em que aquilo tinha de se fazer. É só isso que eu queria que vocês percebessem. Não foi por vontade, foi mesmo por obrigação", sustentou, acrescentando: "Mas nós agora estamos a olhar para a frente, não estamos a olhar para trás".
"Nós agora já temos medo", explicou outra das reformadas, Maria dos Prazeres, que foi quem conversou mais com o presidente do PSD. "Mas não tenham", retorquiu Luís Montenegro, que ao despedir-se ouviu em resposta votos de "boa campanha".
O presidente do CDS-PP, Nuno Melo, juntou-se à conversa mais no fim, para dizer que "quem tirou foi quem arruinou o país, não foi quem pagou as contas".
Depois deste diálogo, interrogado pela comunicação social se está arrependido de ter trazido Passos Coelho para a campanha da AD, o presidente do PSD negou: "Era o que faltava. Não, de maneira nenhuma".
Segundo Luís Montenegro, a reconciliação com os idosos "está em curso".
"Há efetivamente uma perceção errada relativamente àquilo que foram os últimos anos [de Governo PSD/CDS-PP], em que os portugueses foram obrigados, pelo trabalho do PS no Governo, que deixou Portugal numa situação em que não havia dinheiro para pagar nem salários nem pensões. E as pessoas têm ainda esse tempo de sacrifício um bocadinho na sua memória. E é preciso esclarecê-las e dizer-lhes que nós estamos noutra fase, estamos a olhar para o futuro", considerou.
Uma vez mais, o presidente do PSD reiterou que se formar Governo não fará "nenhum corte de pensões", nem "de salários", e acusou o PS de "vir agora com esse papão", com "visões retrógradas, olhar para trás, olhar para o passado".
Por outro lado, Montenegro rejeitou que Passos Coelho lhe tenha aumentando a pressão para a vitória ao defender que esse é "o resultado natural" das legislativas antecipadas de 10 de março: "Não sei quem pode tirar ilações dessas, com franqueza".
"Desde o início que o nosso compromisso é vencer as eleições. Desde o início que digo que estou obrigado a ganhar as eleições", afirmou.
Em resposta aos jornalistas, desvalorizou ainda que PSD e CDS-PP na Madeira não vão juntos a votos em caso de eleições regionais antecipadas.
"São as estruturas regionais a cumprirem o seu papel, nós estamos mobilizadíssimos nesta AD nestas eleições legislativas e também na Madeira", disse Montenegro, ao lado de Nuno Melo, que hoje regressou à campanha após ter testado positivo à covid-19.
Em Portalegre, o presidente do PSD teve outro diálogo sobre pensões, com uma mulher que estava à porta de casa e o abordou em voz baixa: "Passos Coelho quando esteve nas eleições disse que não ia tirar a reforma aos pensionistas, e isso aconteceu logo a seguir. Você vai fazer isso? Se não fizer isso, o meu voto é seu".
"Não, isso pode ter a certeza absoluta. Nós não vamos mexer nada nas pensões a não ser atualizá-las todos os anos, atualizar mais as mais baixas e dar um complemento, que se chama Complemento Solidário para Idosos (CSI) a quem tem um rendimento inferior, neste caso, a 550 euros, e que nós queremos que esse valor de referência seja 820 euros no fim destes quatro anos", respondeu-lhe.
Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar em 10 de março para eleger 230 deputados à Assembleia da República.
A estas eleições concorrem 18 forças políticas, 15 partidos e três coligações.
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