“Seguindo o modelo inglês, constituirei um verdadeiro governo-sombra cuja composição, se eleito, apresentarei no Congresso do dia 4 de julho, no qual incluirei, obviamente, pessoas que não me venham a apoiar nesta eleição interna”, prometeu, na apresentação pública da sua candidatura.
E deixou um aviso ao Governo socialista: “Ficam os ministros e os secretários de Estado do governo socialista a saber que, a partir de agora, terão uma marcação direta por parte dos ministros sombra e dos secretários de Estado sombra do PSD”.
“E fica António Costa a saber que terá em mim um adversário enérgico. Não lhes daremos descanso, em nome do mandato que os portugueses nos conferiram”, assegurou, considerando que “tanto no governo como na oposição se serve o interesse comum”.
Na sua intervenção, Jorge Moreira da Silva deixou muitas críticas ao Governo, dizendo que o primeiro-ministro está “a pensar num cargo em Bruxelas” e alguns ministros estão “mais mobilizados pela corrida à sucessão do seu líder partidário do que pela resolução dos graves problemas do país e um Orçamento do Estado impregnado de fingimento”.
“No meio de uma gigantesca crise social e económica, os funcionários públicos e os pensionistas serão fortemente penalizados, com um nível de atualização dos salários e pensões muito inferior à inflação. Não me recordo de um governo cujo prazo de validade, aferido pelo mérito e pela credibilidade, se tenha esgotado tão depressa”, afirmou.
Por isso, o antigo ministro do Ambiente defendeu que o PSD só conseguirá dar resposta aos portugueses se as suas escolhas internas “estiverem sintonizadas com as expectativas dos eleitores”.
“Isto é, tal como sucedeu no passado, a responsabilidade dos militantes do PSD é agora enorme: quando votarem terão de saber interpretar a vontade daqueles que, não tendo direito de voto, são potenciais eleitores do PSD. Para esses não basta um líder capaz de criticar o governo. É preciso alguém que tenha um plano para Portugal. Que tenha provas dadas na liderança de reformas e na entrega de resultados, tanto no plano nacional como internacional. Fiz a minha parte e jogo tudo nesta eleição”, afirmou.
Na sua intervenção, detalhou ainda algumas das reformas com que se compromete, caso seja eleito líder do PSD nas diretas do próximo dia 28 de maio, considerando “confrangedor o imobilismo e a superficialidade que dominam o debate político nacional.”.
“O sistema partidário português padece de sonambulismo, servindo de pasto ao fogo do populismo e da descrença”, alertou, considerando que “Portugal foi ficando para trás nos indicadores económicos e sociais e é do PS a principal responsabilidade”.
Apesar de esta ainda não ser a apresentação da sua moção de estratégia, Moreira da Silva disse não querer apresentar-se aos militantes apenas com ‘soundbites’.
“Quero colocar Portugal, até 2030, no top 3 do ranking do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (hoje estamos na 27.ª posição), no top 3 do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (hoje estamos na 38.ª posição), no top 3 do Índice de Bem-Estar da OCDE (hoje estamos na 31.ª posição se, neste índice dinâmico atribuirmos o mesmo peso às várias dimensões em análise) e acima da média europeia no PIB per capita (hoje estamos na 22.ª posição)”, disse.
O antigo vice-presidente do PSD, que se apresentou com um ‘pin’ na lapela dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, prometeu fazer desses 17 compromissos “a matriz orientadora” da sua ação política, comprometendo-se com “missões críticas” como a modernização do Estado, o combate à corrupção, a melhoria na confiança na justiça, o combate às alterações climáticas e às desigualdades sociais, bem como a redução da dívida e da carga fiscal, entre outras.
“Defendo uma ampla reforma do sistema político que vá além da reforma dos sistemas eleitorais. O reforço da participação eleitoral e da relação entre os representantes políticos e os eleitores - através do alargamento do voto em movimento, da introdução gradual e segura do voto eletrónico e da criação de círculos uninominais – são reformas urgentes”, disse, defendendo que se deve aproveitar o trabalho preparatório que foi feito pela atual direção do PSD liderada por Rui Rio.
Moreira da Silva quer campanha “positiva” mas avisa que não promete cargos
Na apresentação, que se estendeu por mais de uma hora, entre discurso e respostas aos jornalistas, foram vários os ‘recados’ implícitos que deixou ao outro candidato já anunciado à liderança do partido nas diretas de 28 de maio, começando pela recusa de ambiguidades com o Chega e até por frisar que será ele próprio a elaborar a sua moção (a de Montenegro será coordenada por Joaquim Sarmento).
“As ideias não se subcontratam”, salientou Moreira da Silva, na sua intervenção inicial.
Já na fase de perguntas, e questionado diretamente sobre Luís Montenegro, disse ter “estima e amizade” pelo antigo líder parlamentar social-democrata.
“Tivemos um percurso comum em várias fases da vida política, mas somos diferentes, temos um perfil e uma experiência diferentes (…) Nesta eleição, não está em causa em escolher quem é o bom ou quem é o mau, mas quem é mais bem preparado para os desafios que o país tem de enfrentar. Passe a imodéstia, eu considero que tenho as melhores condições”, disse.
O antigo dirigente do PSD considera ainda que terá mais capacidade de unir o partido - “nunca dividi” - e assegurou que, se vencer, Luís Montenegro terá “o papel que quiser ter” no futuro do PSD, ao passo que, se perder, também contribuirá para a unidade.
Jorge Moreira da Silva disse que não entra nesta candidatura “a fazer de contas de cabeça” e apelou aos seus apoiantes que o acompanhem numa campanha pela positiva, à qual não quer que faltem os debates, sugerindo até à comunicação social que os possa organizar por áreas temáticas.
“Não quero uma campanha de questiúnculas, bota-abaixismo, que não enobrece a política”, disse, prometendo dividir a campanha entre as tradicionais sessões com militantes e uma vertente mais moderna de comunicação via redes sociais.
Questionado sobre os apoios à sua candidatura, Jorge Moreira da Silva - que preferiu apresentar-se apenas com a mulher, um dos filhos e um amigo como convidados - disse que poderá existir “uma avaliação precipitada” de que não tem tropas, afirmando que tem recebido muitos apoios e muitas promessas de filiação caso vença as diretas.
“Não ando na vida política de calculadora na mão, mas não ando aqui há dois dias”, resumiu.
O antigo dirigente social-democrata disse não ter querido pedir apoios antes de apresentar as suas ideias, e deixou um aviso.
“Quem gostar destas ideias, das 30 páginas que li, é bem-vindo, quem esperar que eu esteja disponível para oferecer lugares no Parlamento Europeu ou de vice-presidente do partido, comigo não estão bem servidos”, alertou.
Questionado sobre o facto de também, como Luís Montenegro, poder ser visto como um ‘herdeiro’ de Pedro Passos Coelho, ou de lhe serem atribuídos apoios entre a atual direção de Rui Rio, Moreira da Silva deu uma resposta bem-humorada.
“O meu pai chama-se Antero, não se chama Pedro nem Rui, nem o Pedro nem o Rui têm filhos chamados Jorge e Luís. Esse tema da filiação partidária é altamente redutor, peço que não existam nunca moreiristas”, afirmou.
Sobre Pedro Passos Coelho, de quem foi vice-presidente durante seis anos, disse não confundir admiração e proximidade com “qualquer outro tipo de filiação de candidatura”.
“Não contactei ninguém antes de fazer esta candidatura, terei o maior gosto em agora fazer esses contactos, incluindo com ex-lideres do PSD. Parece-me importante receber esse bom conselho”, disse.
Com ironia, disse tanto ler nos jornais que é um passista, como um herdeiro do aparelho de Rui Rio.
“Pelos vistos, eu sou aquele que consegue unir, se o Luís Montenegro aparece como passista e eu como passista e rioísta”, disse.
Questionado se conta com o recém-eleito líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, Moreira da Silva não respondeu de forma direta, embora deixando elogios ao ainda dirigente de Rui Rio.
“O grupo parlamentar é órgão próprio do partido, fez as suas eleições internas, foi eleito o professor Paulo Mota Pinto por uma larguíssima maioria. Tenho uma opinião pessoal, política e profissional muitíssimo favorável, mas coisa diferente é saber o que o partido deve fazer a seguir às eleições. Cá estaremos para trabalhar todos em conjunto”, disse.
Comentários