“É com um enorme peso no coração, que vos dou a notícia da partida da minha Celestinha, da nossa Celeste. Hoje deixou uma vida plena do que quis e sonhou, amou muito e foi amada, mas acima de tudo, foi a pedra basilar da nossa família, da minha mãe, da minha tia, dos meus irmãos, sobrinhos e filhos, somos todos orgulhosamente fruto do ser humano extraordinário que ela foi”, escreveu Diogo Varela Silva na rede social Facebook, remetendo para mais tarde informações adicionais.

Nascida no Fundão, em 14 de março de 1923, a irmã de Amália Rodrigues iniciou a carreira há 73 anos, ao aceitar o convite feito pelo empresário José Miguel (1908-1972), detentor de vários teatros e casas de fado, entre os quais o Café Casablanca. Do seu repertório constam, entre outros temas, “A Lenda das Algas” e o “Fado das Queixas”.

Ao longo da carreira fez parte dos elencos de várias casas de fados, como o Café Latino, o Marialvas, Adega Mesquita, Tipóia e Adega Machado e a Parreirinha de Alfama, de Argentina Santos.

Além do Brasil, onde regressaria no início da década de 1950 a fadista atuou em Espanha e em Áfica, ainda antes das independências, em territórios como o do então Congo Belga, nos países que se encontravam então sob administração britânica e em Angola e Moçambique.

Em 1953 casou-se com o ator Varela Silva e, em 1957, tornou-se proprietária do restaurante típico A Viela, ao qual renunciará quatro anos mais tarde. Ainda em finais da década de 1950 foi das primeiras fadistas a atuar na televisão, ainda no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular, e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares”, segundo o "Álbum da Canção”, de maio de 1967.

Em 2005, o encenador Ricardo Pais, então diretor do Teatro Nacional São João, no Porto, convidou a fadista a participar no espetáculo "Cabelo Branco é Saudade", ao lado de Argentina Santos, Alcindo de Carvalho (1932-2010) e Ricardo Ribeiro, e com o qual fez uma digressão europeia.

Em 2007 editou o álbum “Fado Celeste”, no qual gravou fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho, José Luís Gordo e Tiago Torres da Silva.

Nesse ano de 2007 foi homenageada pela Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), no Museu do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e regularidade de uma carreira”, segundo declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à agência Lusa.

Em 2010, estreou o documentário sobre a sua vida, “Fado Celeste”, realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva, e recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Lisboa, no cinema S. Jorge. Em 2015, pelos seus 70 anos de carreira, a secção Heart Beat do Festival DocLisboa, abriu com uma remontagem do documentário, intitulado, apenas, “Celeste”.

Em 2012 o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva condecorou-a com a Ordem do Infante D. Henrique, grau de comendador.

“Cantar é sempre uma alegria"

Em entrevista à Lusa, no passado mês de maio, a fadista, confessava que: “Cantar é sempre uma alegria, mas ainda mais nesta idade, porque não é fácil ter ainda um bocadinho de voz para me atrever a cantar”.

Um mês depois da atuação no Town Hall, em Nova Iorque, no âmbito do II Festival do Fado da cidade norte-americana, Celeste Rodrigues afirmou-se “muito contente por os mais novos pegarem” nos seus fados, até porque já não tinha idade, como considerou, para cantar certos fados, nomeadamente, os de amor.

“Já não tenho idade para falar de amor, já não namoro, não posso dar a mesma força aos fados que falam de amor e que eu cantava antigamente. E gosto de ouvir os mais novos cantá-los”, disse à Lusa a fadista, que garantiu não se poder queixar de nada.

Recorde aqui a entrevista à Agência Lusa a propósito do concerto de celebração dos seus 73 anos de carreira no TivoliBBVA, em Lisboa.