"Muito boa tarde, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa e sou professor. Hoje vou matar saudades". Foi desta forma que o Presidente da República iniciou a sua aula na plataforma telescola, em direto, na RTP Memória, sobre as "lições da pandemia".
A lição, que inicialmente seria sobre cidadania, começou com um 'abraço' aos professores, "que tanto trabalharam para meter de pé estas aulas", e aos pais e avós, "que nunca estudaram tanto na vida como nos últimos tempos". Os agradecimentos estenderam-se ainda ao Ministério da Educação e à RTP. "Foi um grande serviço ao país", disse o Chefe de Estado.
E a aula prosseguiu.
"Vocês sabem o que é uma pandemia?", perguntou e explicou. Seguiram-se, depois, as 10 lições que o agora, e sempre, Professor Marcelo Rebelo de Sempre, dela retira.
- "A coisa mais importante da vida é, precisamente, a vida e a saúde. Tudo o resto perde sentido sem vida e saúde (...) E devemos agradecer ao nosso Sistema Nacional de Saúde (SNS). Aos médicos, aos enfermeiros, aos auxiliares... Todos foram e são excecionais";
- "Se a pandemia é de todo o mundo, deve ser todo o mundo unido a tratar da pandemia. A prevenir, a evitar, e, depois, a responder e a combater. Infelizmente, isto não aconteceu. Em muitos momentos, cada um foi para seu lado. E quem sofreu mais? As pessoas. E é bom que isso não venha a acontecer quando chegarem os medicamentos (...) Não pode haver cidadãos de primeira ou de segunda.";
- "A Europa andou distraída no início. Houve países que pensaram que escapavam ao vírus, como se o vírus não conhecesse fronteiras (...) Mas a Europa percebeu, tarde mas percebeu. Apesar de tudo foi menos egoísta do que foi boa parte do mundo";
- "Só pudemos ficar em casa durante semanas ou meses porque houve quem fosse trabalhar para não parar a economia ";
- "O vírus ataca toda a gente, mas ataca sobretudo os mais idosos — como eu, que tenho 71 anos — e os mais doentes. A vossa obrigação, que são mais jovens, é não pensar que são eternos e devem seguir as regras de saúde para proteger os mais velhos e mais doentes";
- "O vírus ataca todos, mas ataca sobretudo os mais pobres, os mais fracos e os mais carenciados. E esses têm menos capacidade de resposta";
- "Tivemos de pedir aos milhares de emigrantes que costumam vir nas férias da Páscoa para não virem. E eles não vieram, sacrificando o encontro com as famílias (...) Agora estamos a pedir, aos milhares que vêm de férias de verão, para terem cuidado. O que é espantoso é que os nossos irmãos, espalhados pela Europa e pelo Mundo, perceberam, aceitaram, colaboraram e vão colaborar";
- "Nunca nos últimos anos tiveram, porventura, tanto tempo juntos com os vossos irmãos e com os vossos pais (...) Isso é uma sensação única. É inesquecível, do melhor que temos na vida";
- "Mudou muita coisa na nossa vida nos últimos meses (...) Nunca se estudou tanto pela Internet e com o apoio da televisão; nunca se trabalhou tanto de casa com o computador; nunca se falou tanto com amigos através da Internet (...) Não sei se aconteceu com vocês, mas aconteceu comigo: descobri o valor das pequeninas coisas. De tanto passear no Palácio de Belém, passei a conhecer todos os cantos. Todos. Andei quilómetros no Palácio de Belém. E isto fica para a vida (...) Vocês estiveram algum tempo presos em casa, agora deem valor aqueles que estão presos em casa contra-vontade";
- "Só foi possível chegar onde chegámos porque fizemos o sacrifício que tínhamos de fazer".
Fora das lições, e a terminar, Marcelo falou sobre os afetos. "Agora o que me apetece é que chegue ao fim a proibição de abraçar e beijar as pessoas", disse, assumindo que tem "fama de beijoqueiro". E tranquilizou os mais jovens: "a grande aula da vossa vida foi terem vivido o que viveram".
E, por fim, sublinhou: "Não há aula — de português, física ou inglês — que valha a aula que tiveram de vida. Um dia mais tarde, contem-na aos vossos filhos e aos vossos netos".
O projeto #EstudoEmCasa é uma parceria entre o Ministério da Educação e a RTP para a produção de conteúdos televisivos dirigidos aos alunos do 1.º ao 9.º anos de escolaridade, que estão sem aulas presenciais neste período de pandemia de covid-19.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, proferiu no dia 20 de setembro de 2018 a sua "última lição formal" como professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde foi aluno e depois docente, durante mais de 40 anos, desde 1972.
Nessa ocasião, prestes a completar 70 anos, a idade de jubilação, descreveu como uma "fascinante aventura" o seu percurso no ensino universitário, que disse ser a "verdadeira vocação" da sua vida, a partir da qual fez tudo o mais.
Comentários