A localidade, conhecida como "a aldeia mais portuguesa do Luxemburgo", tem 948 habitantes com passaporte português e apenas 877 luxemburgueses.

Apesar disso, nos cadernos eleitorais os luxemburgueses estão em maioria, com 669 eleitores, estando inscritos para votar apenas 173 portugueses - uma proporção que subverte a demografia.

Na rue du Pain, no centro histórico da localidade, só uma das casas é de luxemburgueses: "É aquela ali, do portão", apontou Carlos Alberto.

O imigrante, de 55 anos, está no Luxemburgo há 27 e é um dos poucos portugueses recenseados para as eleições municipais, as únicas em que os estrangeiros podem votar.

"Infelizmente, para as outras [legislativas], não temos direito", lamentou.

Ao balcão do Café de l'Europe, propriedade de portugueses, a poucos metros da Câmara Municipal, o empregado nunca votou.

"Disseram-me que se uma pessoa vota uma vez tem de votar sempre, senão paga multa. Se fosse livre, está bem, uma pessoa votava quando quisesse, agora assim, não", justificou Fernando, de 38 anos, que chegou a Larochette com 12.

No Luxemburgo o Código Penal prevê uma multa entre 100 a 250 euros para quem não cumprir a obrigação de votar, subindo para 500 a mil euros em caso de reincidência, mas a última vez que houve um processo contra eleitores foi em 1964, disse à Lusa o porta-voz da Procuradoria do Luxemburgo.

Ainda assim, o voto obrigatório é uma das razões que afasta muitos portugueses do recenseamento, que terminou a 13 de julho para estas eleições.

Apesar do reduzido número de portugueses inscritos para votar, Larochette elegeu um dos primeiros candidatos com passaporte português, Alcides José dos Santos Mendes, em 2005.

O português foi reeleito para o conselho municipal nas últimas eleições, em 2011, com 242 votos - um número superior aos portugueses recenseados na localidade -, e este ano candidata-se pela terceira vez às eleições.

"É importante um português fazer parte da comuna [autarquia], para defender os nossos interesses", defendeu o imigrante natural de Trancoso, na Guarda.

O conselheiro comunal, que chegou a Larochette em 1980 e tem filhos e netos a viver na localidade, lamenta a fraca participação política dos portugueses.

"É pena. As pessoas vivem aqui bem, mas não se interessam pela política, senão seríamos muitos a votar".

A localidade tem menos de três mil habitantes e não há listas partidárias, sendo as candidaturas apresentadas em nome individual.

José dos Santos Mendes é o único português entre os 12 candidatos, que incluem também Natalie Silva, filha de imigrantes cabo-verdianos que chegaram ao Luxemburgo em 1971.

A luxemburguesa de origem cabo-verdiana, de 36 anos, é atualmente vereadora da autarquia, depois de nas últimas eleições, em 2011, ter tido o segundo melhor resultado (329 votos), ultrapassado apenas pelo burgomestre, Pierre Wies (483).

O autarca, no cargo há 26 anos, não se recandidata, e Alcides Mendes acha que a vereadora de origem cabo-verdiana e conselheira política do partido cristão-social (CSV) a nível nacional pode vir a ser a próxima burgomestre.

"É possível, e acho bem. E ainda por cima fala português".

No Luxemburgo vivem cerca de 100 mil portugueses, mas só 13.093 estão inscritos para votar nas eleições municipais de domingo, segundo dados do Ministério do Interior.

De fora dos cadernos eleitorais ficaram 47 mil imigrantes que cumpriam os requisitos para votar nestas eleições, reservadas aos residentes no país há mais de cinco anos.

Em maio, durante a visita de Estado que fez ao Luxemburgo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, prometeu que se houvesse “mais dez mil portugueses inscritos até 13 de julho”, a data-limite para o recenseamento para as eleições de 8 de outubro, voltaria ao Grão-Ducado antes do final do ano, mas essa meta ficou longe de ser atingida.