A história é contada em "Frankly, We Did Win This Election", livro escrito por Michael Bender, jornalista do Wall Street Journal, e é revelada pelo The Guardian, que já recebeu uma cópia adiantada desta obra.
Em 2018, numa visita oficial do presidente dos EUA para assinalar o centenário do fim da Primeira Guerra Mundial, Donald Trump disse ao chefe de gabinete da Casa Branca "na verdade, o Hitler fez muitas coisas boas".
A frase, que deixou Kelly "chocado", como o próprio admite no livro de Bender, foi proferida no contexto de uma sessão de história em que o chefe de gabinete tentou explicar a Trump quais países estavam de que lado no conflito e "tentou fazer as conexões da Primeira para a Segunda Guerra Mundial e para explicar as atrocidades de [Adolf] Hitler", ditador que governou a Alemanha entre 1933 e 1945 sob a ideologia nazi.
Trump, que também foi entrevistado para este livro, nega ter dito tal coisa, mas tal posição contradiz várias testemunhas anónimas que dizem que o ex-governante não só proferiu tal frase, como a defendeu com a recuperação económica na Alemanha nazi nos anos 30, mesmo depois de Kelly "dizer ao presidente que estava errado".
"Kelly reagiu e defendeu que os alemães teriam ficado melhor pobres do que sujeitos ao genocídio nazi", terá dito Kelly, que sublinhou que mesmo que haja um fundo de verdade quanto à esfera económica "não se pode dizer nada que apoie Adolf Hitler".
Este foi só um dos episódios embaraçosos dessa viagem de Trump à Europa, tendo sido a mesma em que o ex-presidente se recusou a visitar um cemitério norte-americano com a justificação de que o seu helicóptero não conseguiria fazer uma aterragem segura por causa do mau tempo. Todavia, alguns relatos apontam que Trump na verdade não o fez porque temia que o seu cabelo ficasse despenteado e porque não queria perder tempo a lembrar "perdedores" que morreram na guerra.
Desde que saiu da Casa Branca — em 2019, ainda durante o mandato de Trump —, Kelly tornou-se um crítico do ex-presidente, tendo dito a amigos que o ex-presidente foi "a pessoa com mais falhas" que já conheceu. Entre elas está a "chocante falta de respeito pela História", mais concretamente as experiências de "qualquer raça, religião ou crença".
Este episódio agora revelado inscreve-se numa linhagem de declarações de Trump a elogiar a extrema-direita ou a relativizá-la. Em 2017, depois de um atentado em Charlottesville, no estado da Virginia, perpetrado por um supremacista branco e que vitimou uma pessoa e feriu outras 19 ao avançar com um carro sobre uma multidão em protesto, Trump atribuiu culpas iguais aos manifestantes de esquerda e de extrema-esquerda e aos apoiantes da extrema-direita que estiveram no local: "acho que há culpa dos dois lados", disse, depois de considerar haver "pessoas boas de ambas as partes".
Já em 2020, em pleno debate tido no âmbito das eleições presidenciais que acabou por perder, Trump recusou-se a condenar explicitamente milícias armadas de extrema-direita, proferindo antes "Proud Boys, afastem-se e aguardem”, numa referência ao grupo armado que tem estado envolvido a vários episódios violentos desde a sua formação, em 2016.
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