As autoridades israelitas, no entanto, insistem que a sua luta contra o movimento libanês pró-Irão não acabou, sugerindo inclusive a possibilidade de uma operação terrestre, ao mesmo tempo que celebram a morte de um dos "maiores inimigos" do país.
O Hezbollah confirmou no sábado que Nasrallah, líder do movimento durante mais de três décadas, morreu na sexta-feira num bombardeamento israelita no sul de Beirute.
Esta não foi a primeira vez que Israel matou um inimigo importante desde 7 de outubro de 2023, quando um ataque do movimento islamista palestiniano Hamas desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.
Em julho, um bombardeamento atribuído a Israel matou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão, pouco depois de outro ataque israelita em Beirute ter eliminado Fuad Shukr, chefe operacional do Hezbollah.
Grandes potências, incluindo os Estados Unidos, alertaram para o risco de uma guerra total, mas a morte de Nasrallah fortalece Netanyahu internamente, segundo o analista Kobi Michael.
"Há um amplo consenso na sociedade israelita a favor de finalizar o problema com o Hezbollah", disse Michael, investigador do Instituto Nacional de Estudos de Segurança e do centro de estudos Misgav.
"E se isso exige uma guerra total, que seja uma guerra total", acrescentou.
O assassinato tem o benefício adicional de enviar um alerta severo aos inimigos de Israel, destaca James Dorsey, especializado na política do Oriente Médio.
"Se for o Irão, se for a Síria, os huthis, um grupo xiita iraquiano e, francamente, muitos outros grupos no Oriente Médio, vai analisar a sua segurança com muito cuidado", disse.
"Inimigo comum"
Netanyahu tem enfrentado uma pressão crescente dos críticos em Israel, que o acusam de não fazer o suficiente para alcançar um acordo de trégua que permita a libertação dos reféns sequestrados pelos islamitas em 7 de outubro.
Os aliados na coaligação de extrema direita, apoio imprescindível para a continuidade no poder, rejeitam um acordo e exigem que o primeiro-ministro mantenha o seu objetivo de destruir o Hamas.
Uma pressão que o levou, na quinta-feira, a rejeitar uma proposta de cessar-fogo de 21 dias com o Hezbollah no Líbano, ideia que havia sido coordenada entre Israel e Estados Unidos, segundo o jornal Haaretz.
Netanyahu também enfrenta um isolamento crescente no cenário internacional. Durante a Assembleia Geral da ONU, vários governantes utilizaram os seus discursos para condenar a ofensiva israelita em Gaza.
Mas Netanyahu minimizou as críticas no seu discurso de sexta-feira, alegando que a campanha militar israelita contra o Hamas beneficiará inclusive aqueles que mais a criticam.
"Sim, estamos a defender-nos, mas também estamos a defender-vos de um inimigo comum que, por meio da violência e do terror, tenta destruir o nosso modo de vida", disse o chefe de Governo israelita.
Um acordo para normalizar as relações com a Arábia Saudita, que parecia possível há um ano, foi adiado, pelo menos temporariamente, pelas mortes e destruição em Gaza.
Mas uma fonte das forças de segurança de Israel negou que a guerra esteja a minar as alianças de Israel no Médio Oriente e afirmou que muitos governantes da região agradecem a campanha contra os grupos islamitas.
"A região está observando a guerra (...) Observam de maneira muito, muito cuidadosa", disse a fonte, que pediu anonimato. "Eles sabem que agora estamos a travar a guerra deles".
A coronel reformada Miri Eisen, do Instituto Internacional Antiterrorismo da Universidade Reichman de Israel, disse à AFP que a morte de Nasrallah deve ser celebrada por "todas as pessoas que são contra o terrorismo no mundo".
Insistiu que "isto não é apenas sobre Israel e os israelenses".
Obra incompleta
Mas, assim como o ataque israelita de 1992 que matou o antecessor de Nasrallah, Abbas al-Musawi, não eliminou a ameaça do movimento libanês, o bombardeamento de sexta-feira não significa um grande avanço contra o considerável arsenal do Hezbollah, admitiram fontes do governo israelita.
O movimento pró-Irão "ataca-nos há um ano e podemos assumir que continuarão a atacar ou a tentar", disse o porta-voz militar Nadav Shoshani, que não descartou a possibilidade de uma incursão terrestre no Líbano.
Eisen classificou a morte de Nasrallah como um "ponto de viragem a nível de comando" e disse que as operações terrestres poderiam ser necessárias.
"O Hezbollah ainda tem muitos ativos. Não desaparecem porque o alto comando desaparece", disse, antes de apontar que o grupo "se organiza para o longo prazo".
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