Setembro é sinónimo de regresso às aulas e, para os estudantes universitários que ingressam no primeiro ano de faculdade, ou mesmo para aqueles que voltam para mais um ano, a mudança pode ser difícil de gerir. Esta é, no entanto, uma altura de teste não só às preocupações dos alunos, como às dos encarregados de educação.

Para além do stress habitual de um dia-a-dia e do esforço para alcançar notas e médias desejadas, muitos estudantes estão a lidar com outras questões como a pressão das redes sociais ou a ansiedade climática.

Por sua vez, desde a pandemia da covid-19 que a saúde mental dos mais jovens entrou em decadência, motivo pelo qual nos Estados Unidos da América (EUA) foi declarado "estado de emergência mental do jovens", em 2021.

Segundo os Centros do Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, citados pela CNN, a situação melhorou, mas não significativamente. “Infelizmente, o quadro não é bom”, diz a psicóloga Nance Roy, diretora clínica da The JED Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada no bem-estar emocional de adolescentes e jovens adultos, no podcast Chasing Life.

"Veja o que está a acontecer no mundo. Quero dizer, os fatores ambientais, os tiroteios em escolas, os crimes de ódio, a divisão política, a insegurança financeira, as guerras”, nota Roy. “Essas são as coisas com as quais os nossos jovens estão a crescer", alerta.

No entanto, realça: “Muitas pessoas dizem que estamos a ter uma crise de saúde mental entre os nossos jovens'”, mas “eu gostaria de reformular isso. 'Crise' é uma palavra difícil porque sugere que não há esperança, quando na verdade há alguma esperança”.

Roy diz que um dos maiores desafios enfrentados pelos estudantes é o mesmo que a sociedade em geral enfrenta: a solidão. “Nós realmente vemos a solidão como o maior problema para os alunos do primeiro ano”, explicou. “Eles estão a afastar-se das famílias, dos amigos e de conexões que tinham", afirma.

Quanto a este problema, a psicóloga referiu que a construção de relacionamentos na faculdade leva algum tempo, completando que, sobretudo, para os mais recentes estudantes universitários, pode ser motivo de alguma ansiedade: “Eles estão a percorrer o seu caminho pela primeira vez de forma independente. Eles estão a ter que desenvolver o seu próprio senso de rotina. Nada é construído como geralmente é quando eles estão no ensino secundário e moram em casa dos pais”.

Já em relação aos efeitos da pandemia, Roy explica que as pessoas não recuperam de um momento para o outro. “Leva muitos anos para as pessoas lidarem com um trauma que vivenciaram. E a pandemia não é diferente", continua.

“Precisamos de permitir que as pessoas, especialmente os jovens, se recuperem e sejam capazes de voltar a retomar habilidades que ficaram adormecidas”, diz a diretora clínica.

De forma a facilitar a transição e o regresso para alunos e encarregados de educação, a especialista sugeriu:

  • Espere emoções confusas: a transição ou o retorno à faculdade pode trazer sentimentos de ansiedade e entusiasmo. A norte-americana sugere que o estudante estabeleça uma agenda, que inclua tempo para estudar, relaxar e conhecer pessoas: “Viver de forma independente, conhecer novas pessoas e fazer amigos são algumas das melhores partes da experiência universitária, mas leva tempo e paciência para se ambientar a uma nova rotina”;
  • Saiba que os relacionamentos vão mudar: as relações com os familiares e os amigos, provavelmente, mudarão durante a faculdade. De acordo com Roy, "leva tempo e paciência para se ajustar a novos limites e dinâmicas de relacionamentos”. Nesta fase, é essencial que os encarregados de educação estejam disponíveis e que os alunos saibam que não há problema em pedir ajuda quando for necessário;
  • Procure um núcleo de apoio forte: esta altura pode revelar-se muito desafiadora, por isso, às vezes, é necessária ajuda profissional. E, mesmo para os encarregados de educação "é importante estar atento às suas próprias ansiedades para tentar separar as suas preocupações daquelas que o estudante está realmente a viver”. Ter conversas empáticas e fazer perguntas gentis pode ajudar a entender o que está a acontecer, ao mesmo tempo que permite que o jovem se sinta compreendido e apoiado;
  • Pratique o autocuidado regularmente: é necessário reservar tempo e espaço para cuidar de si mesmo, tempo esse que deve ser pensado e planeado. "Dormir o suficiente, comer bem, exercitar-se e praticar atividades prazerosas" são algumas das recomendações de Nance Roy.
  • Conheça os recursos disponíveis na sua universidade ou campus: entre estes recursos estão o auxílio financeiro, o apoio académico, a acessibilidade, os serviços de saúde e o aconselhamento. “Lembre-se: estes serviços servem para ajudar em caso de dúvidas ou se precisar de ajuda", realçou.