As sondagens colocam a economia entre as principais preocupações dos eleitores antes das presidenciais de 05 de novembro. A perceção do desempenho económico da administração de Joe Biden, de quem é vice-presidente a candidata democrata Kamala Harris, não é positiva e, para tornar a situação mais complicada, este parece ser o ponto forte de Donald Trump.
Primeiro negócio de Rosemary Pereira, o restaurante Little Portugal arrancou com o final da pandemia e durante a última campanha eleitoral. A comerciante luso-americana, que investiu numa zona onde não há portugueses, mostra-se satisfeita com o negócio, mas queixa-se do custo de vida e aponta o dedo a Biden.
“Se a economia estivesse melhor, mais gente saía, a gente da classe média estaria mais livre para não estar a contar cada dólar, cada nota”, afirma à Lusa a comerciante com origens em Mineola, Nova Iorque.
“Tenho pessoas que vinham duas vezes por semana e agora vêm uma. E vêm porque gostam e porque querem estar cá, clientes de há anos e com quem temos aquelas amizades”, adianta, no restaurante decorado com padrão de azulejos portugueses e um grande galo de Barcelos, lembrança das suas raízes minhotas.
Em pior situação, sublinha, estão os reformados, cujos aumentos de pensões não têm acompanhado o do custo de vida.
Na Carolina do Norte, mas também na Florida e na Georgia, eleitores queixaram-se à Lusa do aumento do custo de vida. Aqueles que exprimiram preferência por Trump apontaram, geralmente, este como o principal fator para a sua escolha, invocando o passado do ex-presidente como empresário.
Num comício na semana passada em Raleigh, perto do Little Portugal, Kamala Harris comprometeu-se a fazer da redução do custo de vida a sua principal prioridade, caso derrote Trump.
Perante um anfiteatro lotado, Harris reforçou a mensagem de que Trump é instável e “obcecado com a vingança e à procura de poder sem limites” e contrastou o que seria a “lista de inimigos” com que o republicano voltaria à presidência, com a sua “lista de coisas a fazer pelo povo americano”, perante uma audiência entusiástica.
“No topo da minha lista está baixar o vosso custo de vida”, disse a candidata democrata.
As eleições entram na reta final com Trump e Harris praticamente empatados nas sondagens em estados como a Carolina do Norte, Georgia e Pensilvânia, onde uma vitória fará a diferença em termos de votos do colégio eleitoral. Foi com vitórias neste estado que Trump conseguiu derrotar Hillary Clinton em 2016, apesar de a democrata ter sido a mais votada no total nacional.
Muito em função da questão dos preços – ou da perceção desta – Rosemary já escolheu Donald Trump e revela mesmo entusiasmo pelo magnata.
“Há quatro anos [final do mandato de Trump] não estávamos nesta situação, as coisas eram melhores. Quem não vê isso… ‘I´m sorry’!”, exclama, recorrendo ao inglês para mostrar incompreensão da opinião contrária. E dá o exemplo do preço da gasolina, que passou de 70 dólares por galão (3,8 litros) no tempo de Trump para 100 dólares no início do mandato de Biden: “fiquei… wow!”.
“Para alguém que está reformado, esse dinheiro era comida para por na mesa e que já perderam”, sublinha.
A Carolina do Norte foi o estado onde nas últimas eleições Donald Trump ganhou por uma margem mais estreita, tendo perdido pontos em relação a 2016, e é neste estado que repousam muitas das esperanças democratas de evitar um regresso do republicano à Casa Branca.
Depois de um pico de inflação na primeira metade do mandato de Biden, a subida dos preços tem de facto vindo a abrandar de maneira consistente. Dados oficiais divulgados na quinta-feira indicam que a inflação atingiu 2,1 por cento no último ano.
Mesmo as estatísticas de perceção da inflação mostram que esta tem vindo a recuar entre os consumidores: é o caso dos indicadores de confiança da Universidade de Michigan e do Conference Board. Mas continuam abaixo do histórico em períodos de crescimento económico sólido e de evolução positiva do mercado de trabalho, como o atual.
Joanne Hsu, economista da Universidade de Michigan, afirmou na semana passada que “não é que [os consumidores] tenham perdido noção da realidade”. “Os preços elevados continuam a pesar nas suas finanças pessoais e isso continua a ser muito frustrante”, disse ao jornal New York Times.
É o caso de Rosemary, que relata que os preços aumentaram após a pandemia “e depois nunca baixaram”, sobrecarregando os pequenos empresários.
“Onde podia fazer-se a publicidade por 200 dólares, agora faz-se por 500. Os produtos já custam mais, os empregados querem ser pagos mais… É tudo, é tudo!”, exclama à Lusa. E queixa-se de que, trabalhando com produtos portugueses, sofre também com o encarecimento do transporte desde New Jersey, onde junto da comunidade portuguesa estão concentradas as empresas importadoras.
Para Rosemary, mãe de três filhos, o problema é sobretudo ao “trabalho duro” não corresponder um rendimento equivalente: “Dá, mas podia dar mais se as coisas não estivessem como estão”.
*Paulo Dias Figueiredo e Nuno Veiga (foto), da Agência Lusa*
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