Rita Oliveira está pela primeira vez na manifestação que se repete anualmente. Veio, explicou à Lusa, "porque já estava na hora" e porque "num ano como este não sabemos o que as mulheres sofrem em silêncio".
"Já morreram 30 mulheres este ano, é um número preocupante. A pandemia encobre muita coisa. Nem que vejam na televisão ou na Internet, é importante para estas mulheres vítimas de violência saber que há alguém disposto a apoiá-las", disse, enquanto segurava um cartaz pelas as mulheres que não puderam estar presentes por terem morrido às mãos de "violência machista".
Rita acredita que os mais jovens, como ela, estão cada vez mais sensibilizados para a problemática e demonstram espírito crítico, mas entende que "de uma maneira geral a questão da violência não é sequer valorizada e as vítimas continuam a ser ridicularizadas".
Patrícia Vassallo e Silva, do coletivo 'Por todas nós' e da organização da manifestação de hoje, disse que este foi um ano em que a situação "piorou muito", com as mulheres a conviver 24 horas por dia com os agressores, e mostrou-se pouco crente nos números das polícias que apontam para menos queixas de violência doméstica, contrapondo que debaixo de maior controlo dos agressores há menos liberdade para as vítimas apresentarem queixa.
Apesar dos números persistentes de femicídios, a ativista entende que ano após ano se têm conseguido conquistas, a começar pela visibilidade que a temática da violência contra as mulheres alcançou.
Patrícia Vassallo e Silva, que ao megafone pôs cerca de uma centena de pessoas a repetir consigo "juízes machistas, vão ver se chove, não vamos voltar ao século XIX", sublinhou que um dos problemas é o país não aplicar as leis que tem, deixando agressores sem punição e vítimas desprotegidas.
Uma das medidas que considera urgente é a garantia de mais apoio jurídico para as vítimas, uma vez que muitas acabam reencaminhadas para associações de maior dimensão quando se dirigem a outras mais pequenas, sem capacidade de resposta nesse campo.
Durou cerca de uma hora a manifestação na praça do Rossio, depois de um compasso de espera para deixar chegar os participantes mais atrasados.
Faixas no chão, cartazes nas mãos, bandeiras LGBTI iam dando algum colorido à um protesto que começou muito tímido com palavras de ordem trazidas de manifestações anteriores sem que tenham perdido sentido ou atualidade.
Patrícia Vassallo e Silva reconheceu que a adesão deste ano não se compara com anos anteriores, quando houve marchas, este ano retiradas do programa por ser difícil garantir questões de segurança como o distanciamento físico necessário.
Ainda assim, garantiu estar "bastante contente com o resultado".
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