A capa desta edição mostra um leitor sentado sobre uma arma, a sorrir enquanto lê o jornal. O autor é Riss, atual diretor e um dos sobreviventes da redação.

"A sátira tem uma virtude que nos ajudou a superar estes anos trágicos: o otimismo. Se alguém quer rir é porque quer viver. O riso, a ironia e a caricatura são manifestações de otimismo. Não importa o que aconteça, seja trágico ou feliz, a vontade de rir nunca vai desaparecer", destaca Riss no editorial.

Na capa desta edição especial é referido que 76% dos franceses são a favor da caricatura, segundo dados de uma sondagem do Instituto Francês de Opinião Pública.

Além disso, 62% das pessoas são a favor do "direito de criticar de forma provocativa uma crença, símbolo ou dogma religioso". Porém, o mesmo percentual acredita que "não dá para rir de tudo".

É ainda referido como tópico da edição as caricaturas de Maomé, que será abordado através da "história de uma manipulação", diz o jornal.

Das 12 pessoas que morreram no ataque perpetrado pelos irmãos Cherif e Said Kouachi, franceses de origem argelina que tinham jurado fidelidade à Al-Qaida, oito eram membros da redação do semanário satírico, que se tornou um símbolo a nível mundial da liberdade de expressão. As restantes vítimas foram dois polícias, um visitante da redação e um funcionário da receção do jornal.

Após uma perseguição de dois dias, os atacantes seriam abatidos por uma força de elite da polícia militarizada francesa.

Para assinalar a data estão previstas cerimónias que terão a presença do presidente francês, Emmanuel Macron, de vários ministros e da presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo.

Um dos locais das cerimónias serão as antigas instalações do Charlie Hebdo, onde ocorreu o ataque, e uma rua das imediações, na qual o polícia Ahmed Merabet foi morto a tiro no mesmo dia. Também está prevista uma homenagem às quatro vítimas que morreram durante um ataque a um supermercado judeu em Paris a 9 de janeiro de 2015.

O Charlie Hebdo, jornal irreverente e de espírito anarquista fundado em 1970, com um público fiel mas pequeno, tornou-se um dos símbolos globais da liberdade de expressão.

Depois do ataque, foi assumida essa bandeira decisivamente e tornou-se mais do que nunca um órgão de imprensa, com longos artigos que comentam temas da atualidade.

"Para quê editar um jornal sem ser com este objetivo", pergunta-se Riss neste editorial.

"Hoje em dia, os valores do Charlie Hebdo, como o humor, a sátira, a liberdade de expressão, a ecologia, a laicidade e o feminismo, para mencionar apenas alguns, nunca haviam sido tão questionados", prossegue.

"Talvez porque é a própria democracia que se encontra ameaçada por novas forças obscurantistas", explica.