“Foi uma coisa inédita, até para os próprios agentes efetivos era uma coisa nova. Para mim foi interessante poder estar no estágio num ambiente em que também para eles era uma coisa nova. Poder ver como é que as pessoas lidavam diariamente, as medidas a serem tomadas nas esquadras, a atuação na polícia na rua, o contacto com o público. Dentro das circunstâncias, acho que foi ótimo ter podido ter esta experiência”, contou à agência Lusa.
Tiago Esteves é um dos 571 novos agentes que a 13 de março viu a Escola Prática de Polícia (EPP), em Torres Novas, terminar com as aulas devido à pandemia, levando a terminar o curso e a fazer estágio numa esquadra do Porto, de onde é natural.
Por ter sido o melhor aluno do curso, Tiago é um dos 20 novos agentes que hoje vai estar em Torres Novas, nas instalações da escola, em formatura para a cerimónia de fim de curso. Os restantes instruendos vão estar nos comandos da Polícia de Segurança Pública onde realizaram os estágios e de onde são naturais para assumirem o compromisso de honra.
Pela primeira vez na história da escola, o compromisso de honra e o juramento da condição policial dos novos agentes não vai acontecer com todos os alunos na EPP, mas sim em todos os comandos do país e sem presença dos familiares e amigos.
Tiago Esteves confessou que o estágio feito em estado de emergência e também em situação de calamidade devido à pandemia de covid-19 foi “sem dúvida diferente”.
“O estágio inicialmente estava previsto para cerca de um mês, mas foi prolongado e tive a oportunidade de aprender muita coisa, apanhar diversas ocorrências e participar em muito do serviço”, disse.
O novo agente explicou que já conhecia “mais ou menos a esquadra” onde esteve a estagiar no Porto e sabia que era uma das que tinha mais ocorrências numa situação normal, mas quando lá chegou deparou-se com uma “diferença significativa”.
“Mesmo o pessoal de lá dizia que aquilo estava completamente diferente”, frisou.
Tiago disse que nunca pensou muito se ia ou não ficar infetado com covid-19.
“Estávamos sempre de máscaras ou de viseiras e uma das coisas que aprendemos é que para podermos dar segurança temos de estar nós em segurança. Uma das primeiras atitudes a tomar diariamente era a nossa própria segurança”, disse.
O aluno optou pelo curso de agente da PSP depois de ter tirado uma licenciatura em criminologia e feito um estágio da divisão de investigação criminal de uma esquadra do Porto, tendo ainda contribuído para aumentar “o bichinho e o interesse” pela polícia o facto da mãe ser polícia.
Este novo agente, que conta integrar o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP, quer agora andar na rua dois ou três anos para ganhar “alguma bagagem e experiência” e depois concorrer ao instituto superior de polícia.
Também Bárbara foi fazer estágio ao comando da PSP da Guarda, na esquadra de Gouveia, de onde é natural.
“Foi complicado porque estamos a viver uma fase muita inesperada em que ninguém sabe ao fim e ao cabo como lidar e acaba por ser difícil nesse aspeto porque é tudo muito novo. Então a PSP teve de se adaptar", disse à Lusa.
A nova agente considerou que o estágio correu “muito bem”, tendo aprendido algumas coisas, apesar da zona onde esteve ser mais calma e não existirem tantas ocorrências.
Bárbara confessou que “sempre teve uma panca para vir para a PSP” e sempre a fascinou “aquele trabalho chamado de homem”. Depois de ter sido militar na Força Aérea, concorreu para a PSP uma vez e entrou.
Manifestando-se sentir preparada para ser polícia, Barbara também vai integrar o efetivo do Cometlis e está a ponderar um dia mais tarde concorrer ao instituto superior de polícia.
Bárbara sente “alguma pena em não fazer o compromisso como manda a tradição” com todos os colegas juntos na EEP.
“Gostava imenso de viver isso”, confessou.
Os 571 novos agentes vão ser colocados no Cometlis e no Comando Regional dos Açores.
Primeiro curso que formou agentes da PSP em cenário de pandemia chega hoje ao fim
O primeiro curso que formou agentes da PSP em cenário de pandemia chega hoje ao fim e, depois de fazerem estágio num país em estado de emergência devido à covid-19, os novos polícias estão agora “mais preparados” para iniciarem a missão.
Depois de um estágio em ambiente diferente, os 571 novos agentes da Polícia de Segurança Pública também vão ter hoje uma cerimónia de encerramento do curso e de prestação do compromisso de honra fora do habitual, sendo substituída por atos solenes a realizar em todos os comandos da PSP do país.
Tal como aconteceu em todos os estabelecimentos de ensino, a Escola Prática da Polícia (EPP), em Torres Novas, deixou de dar aulas devido à covid-19 em 13 de março, tendo sido os futuros agentes mandados para a casa para concluírem o resto do curso nas esquadras dos comandos da PSP da área de residência.
Em declarações à agência Lusa, o chefe da divisão de ensino da EPP, intendente António Monteiro, disse que com esta medida se conseguiu evitar cadeias de contágios por covid-19.
“Nesta escola os alunos estão em regime de internato, vêm de todos os pontos do país, vivem na escola e só vão a casa ao fim de semana. Optou-se por mandá-los para as suas residências e depois cumprirem o resto do que estava planeado nesses locais em estágio, que foi único e com frutos até interessantes”, precisou.
O curso começou em junho de 2019 e quando as aulas terminaram em 13 de março faltava uma semana de avaliações e o estágio.
“O que alterou fundamentalmente foi a avaliação, que em vez de ser feita na escola, foi feita nos comandos”, afirmou, acrescentando que o estágio também decorreu de forma diferente, uma vez que estes alunos foram colocados em esquadras numa altura em que o país estava em estado de emergência.
O responsável pelo curso sustentou também que estes novos polícias "seguramente” que saem mais preparados.
“Seguramente saem com um preparação que talvez nós próprios, em termos de escola e da formação, também não estávamos a contar quando o curso começou. O curso está balizado, está devidamente planeado, tem o estágio, eles aprendem a ser polícias, aprendem a conhecer o que é ser polícia e as suas funções”, disse.
No entanto, frisou, “o estado de emergência, o estado de calamidade e as cercas sanitárias” levaram os instruendos "de certeza a praticar, a ter outros conhecimentos e a aplicar outros conhecimentos que lhes vão ser absolutamente úteis” em situações limite e de alteração grave da normalidade.
Segundo o mesmo responsável, não houve “uma alteração substancial” do estágio, que cumpriu com os objetivos.
“Os alunos tiveram a vivência da esquadra, acompanharam um elemento policial no seu dia a dia e nas suas ocorrências, obviamente que a pandemia, o estado de emergência e agora o estado de calamidade veio impor novas regras, veio condicionar a vida de todos os portugueses e veio de facto alterar algumas premissas do estágio”, sublinhou.
Para o chefe da divisão de ensino da EPP, os novos agentes “provavelmente saíram mais reforçados na ótica da anormalidade e na ótica do empenhamento operacional que todos foram alvo em várias situações”.
António Monteiro referiu também que a Escola Prática da Polícia monitorizou e centralizou a informação no que diz respeito aos alunos infetados com covid-19 e em quarentena.
Segundo o mesmo responsável, vários alunos estiveram de quarentena e três ficaram infetados com covid-19, situações que não invalidaram a conclusão do curso com êxito.
“É um curso único pelo que passou, pelas vicissitudes que teve de passar, pela capacidade de adaptação que a Escola Prática da Policia teve que ter para que tivesse o fim que vai ter”, disse, ressalvado que os alunos “não foram prejudicados, nem beneficiados” em relação aos outros cursos.
António Monteiro sublinhou ainda que, pela primeira vez na história da escola, o compromisso de honra e o juramento da condição policial dos novos agentes não vai acontecer com todos os alunos na EPP, mas sim nos comandos do país, numa cerimónia que não contará com mais de 20 instruendos, nem contará como habitualmente com a presença de familiares e amigos.
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