Ouça aqui a conversa entre Francisco Sena Santos, Simone Duarte e José Couto Nogueira:

Simone Duarte estava "no lugar na notícia", em Nova Iorque, a cerca de 60 quarteirões do World Trade Center aquando do ataque e relatou-o em direto pela TV Globo. Recorda-se de que nesse dia entrou às 08h00 e saiu já a meio da madrugada. Estava na redação quando o primeiro avião embateu contra uma das torres. Acidente? As dúvidas esfumaram-se ao segundo embate.

"Não houve tempo para passar nada pela minha cabeça, era relatar, o que via, ou que ouvia, as sirenes. (...) Nem à minha mãe liguei", recorda. "O mais impressionante para mim foi o Pentágono, ninguém ataca o Pentágono".

Quando voltou a sair à rua nessa noite diz que a sua zona da cidade estava "completamente deserta", porque toda a agitação se concentrou a sul de Manhattan. "Foi um silêncio como eu nunca ouvi em Nova Iorque. E ali eu senti que estava mudando algo. Nunca mais [o mundo] vai ser como era".

Do outro lado do Atlântico, em Lisboa, José Couto Nogueira, que tinha vivido em Nova Iorque nos anos  da presidência Reagan, não teve dúvidas: "tive a noção nesse dia [11 de setembro] de que estávamos perante uma mudança de paradigma". "A represália era inevitável", ao ataque real somava-se o simbolismo, tudo o que representava para a América. Assim, "não havia como George W. Bush não fazer alguma coisa", reitera.

E "Osama Bin Laden sabia que o Afeganistão iria ser atacado", acrescenta Simone. Era esse o plano do líder da Al-Qaeda — levar os Estados Unidos a travar uma guerra em solo desconhecido para as tropas americanas e bem conhecido daqueles que seguiam o saudita. O que ninguém poderia imaginar, mesmo que a História o pudesse ter lembrado, é que se seguiriam 20 anos de intervenção militar no país que russos e ingleses já tinham invadido — e falhado.

É este o ponto de encontro para a conversa que juntou os cronistas do SAPO24 Francisco Sena Santos e José Couto Nogueira e a jornalista Simone Duarte que acabou de lançar o livro "O Vento Mudou de Direção", cuja pré-publicação pode ler aqui, em que foi ouvir pessoas em três países onde o 11 de setembro nunca acabou: Afeganistão, Iraque e Paquistão. "O 11 de setembro foi um dia, mas o nosso 11 de setembro não acabou". A frase é de um dos entrevistados e dá corpo ao ressentimento daqueles que pagam ainda hoje o preço dos atentados de há 20 anos. "Os americanos fizeram lobby com a vida dos afegãos", diz a jornalista, mas não são os únicos. China, Índia, a própria Rússia antecipam (e disputam) uma nova hegemonia num futuro que se revela agora ainda mais incerto.

Aquele dia, 20 anos depois

A 11 de setembro de 2001, entre as oito e as dez da manhã, os Estados Unidos da América sofreram o maior ataque terrorista da sua História. Dois aviões de passageiros foram desviados e levados a colidir contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque. As explosões e os incêndios que se seguiram comprometeram de tal forma a infraestrutura dos arranha-céus que estes desabaram pouco depois, levando outro edifício com eles. Um terceiro avião colidiu contra o Pentágono, o coração militar dos EUA, mesmo ao lado de Washington DC. Ninguém sabe qual era o alvo do quarto avião tomado pelos terroristas, mas que acabou por se despenhar sem atingir o objetivo. Talvez o Congresso ou a Casa Branca, desconfia-se.

A represália ao atentado que provocou cerca de 3000 mortos materializou-se numa campanha internacional de combate ao terrorismo, mais conhecida como "Guerra ao Terror", liderada pelos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, arrancou a intervenção militar no Afeganistão e foi derrotado o governo talibã que resistiu a entregar Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda e principal suspeito de estar por trás dos ataques de 11 de setembro. Seguiram-se operações no Iraque e no Paquistão.

No ano em que se assinalam os 20 anos do atentado, os EUA saíram do Afeganistão, colocando fim à mais longa guerra da sua história. Mas, antes mesmo de o último avião sair de Cabul, já os talibãs tinham reconquistado o poder, depondo à força o governo afegão democraticamente eleito em 2019.

LEIA TAMBÉM

11 de setembro: aquele dia de infâmia

Pré-publicação de "O Vento Mudou de Direção". O outro lado do 11 de Setembro

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.