É o impensável — mas está tudo pensado para quando ocorrer. A Direção Geral do Património Cultural (DGPC) tem planeados planos de segurança que “estipulam tudo o que é necessário fazer em caso de incêndio (ou qualquer acidente natural)”, explicou aquele organismo do Ministério da Cultura.
Para executar estes planos, todas as equipas de segurança são “formadas na organização de segurança e utilização dos extintores e bocas de incêndio existentes”, acrescenta em resposta por escrito ao SAPO24.
O mesmo foi dito pelo diretor do Mosteiro da Batalha, um dos equipamentos tutelados pela DGPC, que afasta o risco de destruição por incêndio daquele monumento em Leiria. “A DGPC tem estabelecido um plano de segurança e emergência, que já foi testado no Mosteiro, e prevê a atuação imediata de equipas de primeira intervenção”.
As zonas mais sensíveis, como “os serviços administrativos, e auditório onde existe realmente material mais suscetível de rápida combustão”, estão equipadas com sensores de incêndio, estando ainda todo o edifício com extintores “que são regularmente verificados ou substituídos e portanto dentro desse princípio da máxima segurança”, assegurou Joaquim Ruivo, em entrevista ao SAPO24.
A Direção Geral do Património Cultural é responsável por 23 monumentos e cinco museus, como o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, o Palácio Nacional de Mafra ou o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
É nestes 28 equipamentos que a DGPC diz estar “a investir na melhoria sistemática dos espaços afetos, respeitando a sua especificidade patrimonial e procurando mitigar situações que possam contribuir para o risco de incêndio. Na atualidade, todos os Museus, Palácios e Monumentos tutelados pela DGPC estão dotados de meios de combate a incêndio, plano de evacuação e saídas de emergência.”
“Quanto aos sistemas automáticos de deteção de incêndios, na área de Lisboa todas as instalações estão ligadas aos Bombeiros através do Sadiconnect, sistema que informa em tempo real o Quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros sobre a ocorrência de qualquer situação, 24 sobre 24h, todos os dias do ano”, explicou a DGPC, questionada pelo SAPO24 sobre as medidas de proteção dos monumentos nacionais.
“Nos espaços localizados nas restantes regiões do país, existem ligações telefónicas normais e automáticas aos Serviços de Bombeiros ou a empresas de segurança.”
Por fim, diz ainda o organismo, “existe também o Programa periódico de inspeções das instalações, para verificação da adequação dos Planos de Segurança, através de vistorias dos bombeiros”. Este programa surge no âmbito de uma resolução do Conselho de Ministros de fevereiro do ano passado, “sendo seguidas todas as indicações dos Serviços de Bombeiros com o respeito pelo Património Classificado e pela segurança dos utilizadores.”
Este é um dos fatores que leva o diretor do Mosteiro da Batalha a afastar a possibilidade de um incêndio de dimensões semelhantes ao que destruiu parte da Catedral de Notre-Dame, em Paris, o monumento mais visitado da Europa.
Apesar disso, Joaquim Ruivo teme que “nem todos os edifícios patrimoniais por esse país fora possam ter níveis de segurança adequados ao seu valor e à sua importância”, afirmando que “tem de haver grande investimento, porque se não vamos lamentar mais tarde ou mais cedo também alguma catástrofe nalgum edifício — no caso do Mosteiro da Batalha, sou muito otimista e tenho razões que já deram evidência.”
As diferenças na estrutura do mosteiro leiriense tornam-no mais resiliente às chamas que a catedral francesa, onde as chamas demoraram cerca de 15 horas até serem extintas, destruindo parcialmente um dos edifícios icónicos da capital francesa.
O telhado, de estrutura em madeira e cobre, foi consumido ao final desta segunda-feira, provocando alguns danos também no interior do monumento.
Este "Majestoso e sublime edifício", como escreveu em 1831 o escritor francês Victor Hugo no seu romance “Notre-Dame de Paris”, começou a ser construído em 1163 e iniciou a função religiosa em 1182.
A tragédia de Notre-Dame gerou mensagens de pesar e de solidariedade de chefes de Estado e de Governo de vários países, incluindo Portugal, bem como do Vaticano e da ONU.
A Procuradoria de Paris disse que os investigadores estavam a considerar o incêndio como um acidente e o Presidente francês prometeu que a catedral do século XII será reconstruída.
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