As obras de transformação do edifício Lis, situado na esquina entre a Rua da Palma e a Calçada do Desterro, exigiam que se tentasse perceber se havia ali vestígios arqueológicos.

A equipa da Era Arqueologia, contratada para o efeito, já tinha “noção do que ali estava”, partilhou com a Lusa a arqueóloga Arlete Figueira, lembrando que há fotografias, relatos e notícias que dão conta de que era naquele local que se situava, em finais do século XIX, o Real Colyseu de Lisboa, demolido para dar lugar ao edifício da Garagem Lis, construído em 1933 e entretanto classificado como Imóvel de Interesse Público.

Na fase de “sondagem, de diagnóstico, que tem de ser feito, em termos legais, dentro do contexto da obra”, os arqueólogos encontraram “parte do embasamento da estrutura do Coliseu, ou seja, de toda a zona onde se realizavam todos os espetáculos de ópera, teatro, e onde foi exibido pela primeira vez um filme em Portugal”.

Ao longo dos últimos meses, Arlete Figueira realizou sete sondagens, que demonstraram existirem de facto vestígios arqueológicos naquele local, tendo a escavação integral demorado cerca de duas semanas, “porque é acompanhamento feito através de mecanismos mecânicos, não foi feito à mão”.

No local é visível “um dos anéis de base do Colyseu”, com os espaços “onde encaixavam os barrotes de suporte para a bancada”, e onde a arqueóloga encontrou restos de madeira, que ficaram conservados todos estes anos devido às caraterísticas do solo.

Além dos pedaços de madeira, “o anel central do Colyseu ainda preserva parte do estuque pintado que estaria à vista”.

Atualmente é possível perceber-se também onde ficava situada a arena, bem como a zona e palco e a entrada para o Colyseu, que era igualmente a entrada principal da Garagem Lis. “A orientação do edifício mantém-se”, referiu Arlete Figueira.

Os achados, já registados e catalogados, serão agora soterrados, de acordo com o diretor de projeto da Sonae MC, Henrique Campos, responsável pela obra na antiga Garagem Lis, “sendo protegidos por uma camada de geotêxtil para que tudo fique preservado e enterrado tal como se vê agora”.

“Tudo o que se encontra agora foi documentado e registado, e o registo foi enviado para a Direção-Geral do Património Cultural [DGPC], para receber autorização de aterro das estruturas encontradas”, explicou à Lusa.

Segundo Henrique Campos, a Sonae MC prevê “fazer um espaço museológico” no edifício, mas ainda está “a estudar o modo de o fazer”.

“Não houve muita coisa que foi encontrada que possa ser exposta, o que interessa é o registo do espaço tal como é e da memória que tem. É isso que queremos preservar, e a melhor maneira de o fazer será com recurso a audiovisuais, mas ainda estamos a analisar com a DGPC e a Era para perceber qual é a melhor forma para tornar visível este achado, aquando da abertura do supermercado”, revelou.

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