“O Douro já não é moda, é obrigatório para quem quer viajar”, afirmou à agência Lusa António Pinto, da empresa Douro à Vela.
Maio seria um dos melhores meses do ano para o negócio deste operador que leva os visitantes à descoberta da região pelo rio. Seria, se não fosse uma pandemia que parou o turismo.
“Enquanto eu olhar para o céu e não vir os riscos deixados pelos aviões a passar é como se estivesse parado (…). Enquanto não houver aviões não vai haver clientes”, salientou.
Por estes dias, os três barcos de António Pinto estão atracados no cais da Folgosa, em Armamar. Faz-se a manutenção, pinturas, reparações, trabalhos que a paragem forçada da atividade agora permite.
António Pinto quer pôr os motores de novo a trabalhar a partir de 01 de junho, mas está apreensivo porque praticamente “100%” dos seus clientes são estrangeiros provenientes dos Estados Unidos da América (EUA), Brasil, Canadá, Austrália, França e Reino Unido. No início da pandemia foram desmarcadas 57 reservas para programas de um dia inteiro.
“Não estamos a pensar fechar, mas temos a noção clara que vamos estar cá e, provavelmente, vamos usufruir nós disto, porque não cremos que venham pessoas e as que vierem (…) vai ser uma coisa tão ínfima que não vai dar sequer para pagar as despesas que todas estas operações têm”, referiu.
Despesas como, elencou, a manutenção dos barcos, as taxas, seguros e licenças.
A Douro à Vela oferece um serviço privado, exclusivo, para famílias ou um grupo pequeno, que pode ser de duas horas ou dias, com a possibilidade de pernoitarem num dos veleiros, com provas de vinho ao pôr-do-sol, refeições a bordo e visitas a quintas.
“É um isolamento no meio da natureza, a aproveitar o sol e o Douro”, especificou.
Por causa da covid-19, a região vira-se para o turismo nacional. No entanto, António Pinto mostrou-se preocupado porque os “portugueses não aderem muito a este tipo de propostas”.
A empresa teve, nos anos anteriores, atividade diária de abril até outubro, mas com meses altos em maio e setembro. “Agora, é sinónimo de dizer que de maio até setembro todos os dias vamos estar parados. Esta é a realidade”, lamentou.
Para si, este “ano terminou” e enquanto empresário a sua “preocupação já é 2021″.
“Na verdade, nem sabemos muito bem como é que vamos fazer. Vamos estar atentos e vamo-nos adaptando, fechar não vamos fechar, clientes não vamos ter, portanto estamos aqui numa encruzilhada complicada. Vamos ver”, frisou.
A Douro First, sediada em Vila Real, dedica-se a fazer ‘tours’ pelo Douro, com passagem por miradouros, provas de vinho, passeios de barco. Os clientes são maioritariamente provenientes dos EUA, Canadá, França ou Inglaterra.
A empresa comprou no ano passado duas carrinhas e preparava-se para adquirir mais uma este ano para reforçar o negócio. “Saiu tudo ao contrário e aconteceu esta coisa que não sabemos como é que havemos de sair dela”, afirmou à Lusa José Ricardo Fonseca.
Em março já tinha várias reservas e, segundo o responsável, teve de fazer a devolução dos pagamentos “a 100%”.
“A nossa empresa está muito dependente do estrangeiro. O que perspetivo é que, enquanto não houver voos internacionais, não vamos funcionar”, frisou.
Terá também de ser feita uma readaptação ao modelo de negócio para atrair clientes portugueses. “Já estamos a trabalhar nesse sentido, mas não sabemos como o mercado se vai comportar”, frisou.
Sem “dinheiro a entrar em caixa” e “só com despesas”, o empresário disse esperar que haja, por parte do Governo, um “prolongamento em termos de moratória” para as “empresas se aguentarem pelo menos até ao final do ano”.
“Quanto ao ‘lay-off’, espero que não acabe em junho e que haja um prolongamento de, pelo menos, mais três meses e relativamente aos empréstimos deviam ser mais prolongados no tempo para que, quando as empresas reabrirem, terem algum tempo para respirar e não estarem afogadas nesses empréstimos”, acrescentou.
Neste momento, os três funcionários da empresa estão em ‘lay-off’. José Ricardo Fonseca não pode porque é sócio-gerente.
“Sei que isto vai mudar, não para voltar aos níveis de 2019, porque isso vai demorar três a quatro anos, mas julgo que é uma questão de tempo até as pessoas ganharem alguma confiança”, afirmou.
Natalie Monteiro criou a Douro with Soul em 2018 para guiar turistas a pé pelos socalcos de vinha e encostas montanhosas do Douro, esteve parada nos últimos dois meses e prepara-se para retomar a atividade em junho.
Para o efeito, já solicitou o selo “Clean & Safe” do Turismo de Portugal. Os passeios são feitos com grupos privados e pequenos e agora, em vez de idas a restaurantes, a proposta passa por fazer piqueniques para “desfrutar melhor da natureza”.
“O nosso trabalho assenta no turismo sustentável e o piquenique inclui os produtos locais. Fazemos aquilo que chamamos uma caminhada meditativa. É um dia para sair da rotina e para perceber como se vive no Douro”, salientou.
Seguem por trilhos, quelhos e também pelo meio das aldeias, e podem partir de Moura Morta e Covelinhas, no Peso da Régua, ou de Santa Marta de Penaguião.
Até ao momento tem apenas uma marcação para julho, mas está pronta para trabalhar mesmo que as reservas sejam feitas com pouca antecedência.
Nos anos anteriores a maior parte dos clientes era estrangeira. “Este ano estamos a contar com os portugueses. Acho que este produto vem responder às necessidades que surgiram com esta pandemia e estou esperançosa que vai haver clientes”, salientou.
Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março, e está a concretizar, de forma faseada, o plano de desconfinamento e de retoma da economia.
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