Num debate parlamentar de urgência requerido pelo Chega, sobre “as suspeitas de corrupção no Ministério da Defesa Nacional”, os partidos da oposição criticaram a atuação de João Gomes Cravinho na sua anterior pasta no Governo, entre 2018 e 2022.
Pela voz do deputado Jorge Paulo Oliveira, o PSD defendeu que neste processo Cravinho “fez praticamente tudo aquilo que não se espera que um ministro faça”, acusando-o de desvalorizar, “quiçá autorizar, a brutal derrapagem” das obras de requalificação no antigo Hospital Militar de Belém.
O social-democrata defendeu que Gomes Cravinho “ignorou olimpicamente a essência das empresas destinatárias dos ajustes diretos” e “desprezou o teor dos dois despachos proferidos pelo seu secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches, os quais denunciavam a prática de atos por parte do ex-diretor-geral dos Recursos da Defesa Nacional à margem das suas competências legais e identificavam despesas realizadas por aquele, mas não autorizadas”.
“Para cúmulo, mesmo conhecendo os problemas de comportamento do ex-diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional e das inúmeras suspeitas que sobre aquele recaíam, resolveu não só elogiá-lo, considerando-o “uma pessoa extremamente qualificada e capaz” e que “prestou enormes contributos ao ministério”, como foi mais longe, nomeando-o para a presidência da Empordef — Tecnologias de Informação, empresa pública na área das indústrias de Defesa”, criticaram.
No início do debate parlamentar, o líder do Chega, André Ventura, salientou que o seu partido requereu a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros no parlamento devido ao “desprestígio enorme” que causou às Forças Armadas, após “o escândalo terrível que abanou os alicerces” daquela instituição.
Depois de considerar que tudo o que está a ser atualmente alvo de investigação “cheirava a suspeita” e “aparentava a suspeita”, Ventura acusou Gomes Cravinho de, “contra todas as evidências, contra as inúmeras questões da oposição, contra as consecutivas chamadas de atenção neste parlamento”, ter decidido “manter a confiança” em quadros do setor da Defesa que estão agora a ser investigados.
“É nossa convicção que o senhor ministro não tem condições para continuar como ministro da República”, defendeu.
Pela Iniciativa Liberal, a deputada Patrícia Gilvaz também criticou a nomeação de Alberto Coelho e notou “um padrão comportamental” no qual o Governo “trata as informações sensíveis sempre da mesma maneira: primeiro esconde-as, depois desvaloriza-as e, por fim, ignora-as sem assumir as devidas responsabilidades”.
“O senhor ministro optou por não ser ministro e optou por nada fazer com receio das consequências. Com isso, prestou um mau serviço ao país, prejudicou a imagem de transparência que deve prevalecer na utilização de quaisquer dinheiros públicos e permitiu que se continuasse a especular sobre a promiscuidade entre os poderes públicos e os interesses dos partidos do sistema”, atirou.
Francisco César, vice-presidente da bancada do PS, surgiu em defesa da atuação de João Gomes Cravinho e do antigo secretário de Estado Adjunto e da Defesa e atual deputado socialista, Jorge Seguro Sanches.
“Se há algo que podemos dizer hoje com certeza, por muito que custe ao Chega, ao PSD e à IL, é que se houve investigação e escrutínio sobre esta matéria, que levaram também à intervenção dos órgãos judiciários, esta intervenção deve-se sobretudo à atitude pronta, zelosa do interesse público, diligente e responsável do senhor secretário de Estado da Defesa Nacional e do senhor ministro da Defesa João Gomes Cravinho”, considerou.
Francisco César acrescentou que “não deixa de surpreender encontrar uma oposição mais preocupada em atacar quem denunciou um alegado esquema de corrupção do que criticar quem alegadamente cometeu um crime”.
Joana Mortágua, do BE, questionou Gomes Cravinho sobre se tinha aprovado os custos que triplicaram nas obras do antigo Hospital Militar de Belém e considerou que existe uma “cultura do PS de desresponsabilização, menorização, relativização e desvalorização de práticas que não contribuem para a transparência e salvaguarda do Estado”.
Pelo PCP, João Dias pediu um “completo apuramento de todas as responsabilidades no plano criminal e político” e defendeu que tendo em conta o investimento feito, as instalações do antigo Hospital Militar de Belém devem ser utilizadas para apoiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Pelo PAN, Inês Sousa Real também considerou “particularmente estranha” a nomeação de Alberto Coelho para a Empordef e pelo Livre, Rui Tavares perguntou ao ministro se perante a mesma situação voltaria a fazer o mesmo.
No início deste mês, a Polícia Judiciária desencadeou, em coordenação com o Ministério Público, a operação “Tempestade Perfeita”, que resultou em cinco detenções, entre as quais três altos quadros da Defesa e dois empresários, num total de 19 arguidos, que respeita ao período em que João Gomes Cravinho tutelou aquele ministério.
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