A questão dos cuidadores “é muito mais do que um subsídio, o setor social aqui é fundamental”, afirmou o coordenador do Observatório Português dos Cuidados Paliativos (OPCP), Manuel Luís Capelas, numa audição na Comissão de Saúde requerida pelo PSD e pelo CDS-PP sobre o acesso a cuidados paliativos em Portugal

“O apoio financeiro pode ser uma ajuda, mas eles precisam de tempo, precisam de respirar”, disse Manuel Luís Capelas, exemplificando com a situação de confinamento que a população foi obrigada a fazer devido à pandemia de covid-19.

“Depois de estarmos confinados durante algum tempo sentimos uma necessidade de tirar a máscara e respirar (…) Aqueles cuidadores que trabalham sete dias por semana, 24 horas por dia a cuidar dos seus entes queridos precisam mais do que dinheiro, embora o dinheiro seja fundamental, precisam de momentos de respirar”, defendeu.

No seu entender, são estes momentos que o estatuto do cuidador lhes deve conferir.

Pode ser “apoio dos serviços sociais, serviços paroquiais, das várias religiões o que quisermos chamar, mas que seja uma plataforma para deixar estas pessoas serem ativas”, defendeu Manuel Luís Capelas.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), Duarte Soares, também ouvido na Comissão de Saúde, há medidas que podiam ser desenvolvidas para ajudar estas pessoas sem ser “necessariamente mais dinheiro”.

“Parece-nos terem sido tomadas decisões de forma muito solitária, muito autista, se me permitem dizer, sem ouvir as entidades, sem nos reunirmos, sem perceber aquilo que realmente importa aos cuidadores”, afirmou Duarte Soares.

Para o médico anda-se “a medicalizar os cuidadores”, porque não há formas de os acompanhar.

“Há muitas coisas que podiam ser implementadas para ajudar estas pessoas que não são necessariamente mais dinheiro”, como uma linha SNS 24 dedicada a estas pessoas ou “uma via verde” de cuidados paliativos e criar forma de descanso, afirmou o médico de cuidados paliativos.

Também a coordenadora da Rede Nacional de Cuidados Paliativos, Edna Gonçalves, defendeu na audição ser “muito importante que se desenvolva o estatuto do cuidador informal e que se dê mais apoio aos cuidadores”.

Os projetos-piloto experimentais dos cuidadores informais vão avançar este mês, depois de o seu arranque ter sido suspenso devido à covid-19, anunciou no final de maio a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

A medida experimental do Governo foi suspensa devido à pandemia da covid-19, mas o Governo assegurou desde o início que iria pagar os subsídios desde a data prevista com direito a retroativos.

Estes projetos-piloto experimentais fazem parte do Estatuto do Cuidador Informal e preveem um novo subsídio a juntar aos já existentes da Segurança Social.

O Estatuto do Cuidador Informal foi aprovado em 05 de julho de 2019.

E estima-se que existiam em Portugal cerca de 800 mil cuidadores informais.