No passado dia 22 de julho, o investigador na área da proteção civil Duarte Caldeira alertou para um novo comportamento dos incêndios florestais, que este ano têm uma “progressão aceleradíssima” e “uma grande intensidade”, por vezes impossíveis de combater.
“Analisando com detalhes e cruzando informações, nomeadamente dos incêndios que têm estado a ocorrer em Espanha, há um dado que seguramente deve fazer refletir todos aqueles que estudam esta matéria, que é a progressão aceleradíssima das frentes de fogo e depois, por outro lado, a intensidade e a energia que é criada pelo próprio incêndio”, disse então o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC).
Agora, o Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra vai construir um túnel térmico, com apoio da REN - Redes Energéticas Nacionais, destinado a investigar a propagação de grandes incêndios, revelou hoje aquela instituição de ensino superior.
De acordo com a Universidade de Coimbra, o túnel térmico a construir é “inovador a nível internacional”.
“Tem a capacidade de gerar um escoamento do tipo de camada limite atmosférica, com gradientes verticais de temperatura e de velocidade, que permitirão estudar e caracterizar a interação entre o fogo e a atmosfera em condições muito diversas, mas que se podem encontrar em alguns grandes incêndios, e contribuir assim para uma melhor compreensão do seu desenvolvimento”, informou o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, Domingos Xavier Viegas.
Este equipamento, que contou com um “importante donativo da REN” para a sua aquisição, “deverá entrar em funcionamento dentro de alguns meses”.
O professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) realçou também que, nos últimos anos, o CEIF tem dado especial atenção ao estudo do comportamento extremo dos incêndios florestais, apontando o seu caráter dinâmico, resultante da interação entre o fogo e a atmosfera.
“É reconhecido que a estrutura vertical da atmosfera, que define o seu grau de estabilidade ou instabilidade térmica, deverá condicionar esta interação entre o fogo e o meio ambiente, mas não se conhece ainda bem o modo como o faz”, acrescentou.
Com a construção deste túnel térmico pretende-se “compreender melhor como atuam estes processos, se favorecendo ou inibindo as correntes ascensionais, que poderão por sua vez potenciar o desenvolvimento mais ou menos rápido de um incêndio”.
Sobre o apoio à compra do equipamento, o administrador executivo da REN, João Faria Conceição, indicou que é “mais um passo para a compreensão e prevenção dos grandes incêndios que assolam o país anualmente”, especialmente num período de seca como o que se atravessa.
“Sendo a REN responsável pela gestão e limpeza de milhares de hectares, é do interesse da empresa contribuir para a investigação e prevenção das florestas nacionais, aumentando a sua resiliência e permitindo um combate mais eficiente dos incêndios”, concluiu.
Segundo a Universidade de Coimbra, a REN tem vindo a apoiar a atividade de investigação que o CEIF tem desenvolvido no estudo do comportamento dos incêndios florestais e da melhoria da segurança pessoal, no âmbito da sua estratégia de sustentabilidade, nomeadamente o pilar da proteção ambiental.
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