Ghosn acusou a empresa e a justiça japonesa de um "conluio a todos os níveis" para prolongar indefinidamente a sua prisão sem um veredicto, o que caracterizou como um "golpe".

"Quando perguntei aos meus advogados (...) eles disseram-me que temiam que se passassem cinco anos até eu receber um veredicto", acrescentou

"Sais daqui ou vais morrer no Japão", disse o empresário ao descrever os seus sentimentos sobre o caso. "Senti-me um refém num país que servi durante 17 anos".

Apesar de tudo, o ex-líder da Renault-Nissan disse acreditar que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, "não está envolvido" na sua detenção.

Nos minutos iniciais da sua conferência de imprensa, Ghosn disse que não ia explicar como fugiu do Japão, mas que o fez porque tinha sido "arrancado dos seus familiares e amigos", referindo-se ao facto de, após a libertação sob fiança, ter sido proibido contactar com a sua esposa, Carole Ghosn.

"As acusações contra mim não têm base nenhuma", salientou, acrescentando que o sistema judicial japonês já o considerava o "suposto culpado".

O ex-presidente da Renault-Nissan afirmou ainda que as duas empresas do setor automóvel perderam, desde a sua detenção no Japão, em novembro de 2018, dezenas de milhões de dólares por dia.

"O valor da Nissan, desde a minha detenção baixou mais de 10 mil milhões de dólares. Eles perderam mais de 40 milhões de dólares por dia durante este período", afirmou aos jornalistas em Beirute. "A Renault não ficou melhor, porque o seu valor baixou, desde a minha detenção, mais de 5 mil milhões de euros por dia", acrescentou.

O empresário, que chegou ao Líbano, o seu país de origem, a 30 de dezembro, repetiu que não fugiu da justiça japonesa: "Eu escapei da injustiça e da perseguição", reiterou.

Carlos Ghosn, ex-presidente do conselho de administração e ex-presidente executivo do grupo Nissan e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, foi detido em Tóquio em 19 de novembro de 2018 por suspeita de abuso de confiança e evasão fiscal.

Detido vários meses no Japão, o empresário foi libertado em março de 2019, após o pagamento de uma caução. No início de abril passado, foi novamente detido e outra vez libertado sob caução. No final desse mesmo mês, Ghosn ficou sob detenção domiciliária, a aguardar julgamento por evasão fiscal, entre outros crimes.

Desde então, estava em prisão domiciliar e não podia deixar o país à espera de julgamento (a data ainda não tinha sido definida).

Ghosn chegou à Nissan em 1999 como presidente executivo para liderar a recuperação do fabricante, com sede em Yokohama, nos arredores de Tóquio, depois de ter oficializado uma aliança com a francesa Renault.