Por outro lado, segundo o ministro, "há lições a retirar" do pacto trilateral de defesa entre Estados Unidos da América, Reino Unido e Austrália para a região do Indo-Pacífico – denominado AUKUS, com as letras dos três países anglo-saxónicos – que levou ao cancelamento por parte da Austrália de um contrato com a França para o fornecimento de submarinos, e também "da maneira como se processou a saída do Afeganistão em agosto".
Em declarações aos jornalistas, em Nova Iorque, Augusto Santos Silva apontou 2022 como "um ano decisivo", realçando que será o ano da "conclusão do trabalho de redefinição das orientações de política externa e de segurança da União Europeia" e ao mesmo tempo da "aprovação do novo conceito estratégico da NATO".
"Evidentemente, na elaboração quer do novo conceito estratégico da NATO quer na bússola estratégica da União Europeia as lições do Afeganistão, mas também as lições que decorreram agora destes acontecimentos em relação ao Indo-Pacífico têm de ser consideradas", defendeu.
Sobre o pacto AUKUS, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que teve oportunidade de discutir o assunto na terça-feira numa reunião com a secretária de Estado Adjunta dos Estados Unidos da América, Windy Sherman, e que aguarda "com bastante expectativa" o próximo contacto direto entre os presidentes norte-americano, Joe Biden, e francês, Emmanuel Macron.
"A preocupação portuguesa é só uma: que nós restauremos o mais depressa possível a parte de confiança que se perdeu nestes últimos dias, porque é muito importante que as estratégias da União Europeia, dos Estados Unidos e do Reino Unido para o Indo-Pacífico sejam tão aliadas quanto possível", afirmou.
No seu entender, "com vontade, com tempo e com clareza, sabendo distinguir as questões principais das questões secundárias", é possível haver uma reaproximação, mas "claro que isso demorará algum tempo".
"É preciso compreender que, quer do ponto de vista da forma, quer do ponto de vista do conteúdo, a maneira como Estados Unidos, Austrália e Reino Unido negociaram entre si foi desconfortável para com os europeus, a União Europeia", referiu.
O ministro argumentou que "norte-americanos, britânicos e europeus são os parceiros mais próximos, quer do ponto de vista dos valores, quer do ponto de vista das instituições, quer do ponto de vista dos interesses" e salientou a que "Portugal está disponível para ajudar nesse esforço de reaproximação".
Questionado sobre o relacionamento da atual administração norte-americana com a NATO, Augusto Santos Silva respondeu que "comparando com a administração anterior", de Donald Trump, se vive "um momento de felicidade".
"Como todos os momentos de felicidade, não isento de problemas. Os problemas devem ser enfrentados. Com a administração Biden nós temos um interlocutor que compreende esses problemas e que está disposto a enfrentá-los. Basta ver, aliás, o discurso muito apaziguador em relação aos seus aliados europeus do Presidente Biden ontem na Assembleia Geral", acrescentou.
Quanto ao papel que a União Europeia deve assumir em matéria de defesa, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros declarou: "A política de defesa da União Europeia tem de continuar e de prosseguir, mas não é uma política contra os Estados Unidos, nem é uma política que se deva fazer ignorando os nossos compromissos no âmbito da NATO, pelo contrário, é uma política para reforçar a capacidade de defesa própria e de influência do Atlântico Norte".
[Inês Escobar de Lima, da agência Lusa]
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