O Papa Francisco passou uma noite tranquila, disse o Vaticano esta manhã.

Ontem, a Santa Sé disse que estado de saúde do pontífice “permanece estável”, acrescentando que uma radiografia ao tórax confirmou “as melhorias registadas nos dias anteriores” do líder religioso hospitalizado há quase um mês com uma dupla pneumonia.

Esta quinta-feira, Francisco assinala um marco importante: o 12.º aniversário da sua eleição como Papa, desconhecendo-se ainda como poderá ser comemorado a data, que é um dia feriado no Vaticano.

A assessoria de imprensa deu conta que se o estado de saúde do Papa permanecer estável não haverá novo boletim médico no dia de hoje, mas haverá atualização das informações à imprensa ao final da tarde.

Quais s principais temas nestes 12 anos de pontificado?

Sucedendo a Bento XVI, o primeiro Papa que renunciou em 600 anos, Francisco foi eleito depois de ter discursado na Congregação dos Cardeais, que antecede o conclave, uma intervenção que, segundo muitos analistas, motivou a sua eleição.

“A Igreja está chamada a sair de si mesma e ir às periferias, não só às geográficas, mas também às periferias existenciais”, disse o então cardeal de Buenos Aires, considerando que se a instituição “não sai de si mesma para evangelizar, torna-se autorreferencial e então adoece”.

Desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, Francisco procurou ser um exemplo pessoal do discurso de humildade e de defesa dos mais desfavorecidos, ao recusar luxos tradicionais associados à figura papal.

A preocupação permanente com os mais desfavorecidos, a luta contra os abusos sexuais, a defesa do ambiente e da “casa comum”, a par da reorganização da cúria e da abertura da discussão do caminho a seguir a todos os católicos são alguns dos pontos que caracterizam a década do argentino Jorge Mário Bergoglio à frente da Igreja Católica.

O combate aos abusos sexuais foi assumido como uma das batalhas, levando-o a convocar uma cimeira no Vaticano em fevereiro de 2019, para “dar diretrizes uniformes para a igreja”, prometendo que “não se cansará de fazer tudo o que for necessário” para levar à justiça quem quer que tenha cometido algum tipo de delito.

Dois anos depois da eleição, com a encíclica “Laudato Si” (Louvado Sejas), o Papa argentino assumiu uma das suas grandes causas: que os países ricos devem sacrificar algum do seu crescimento e libertar recursos necessários para os países mais pobres.

Cinco anos depois, numa nova encíclica papal, “Fratelli Tutti” (Todos Irmãos), dedicada à fraternidade e amizade social, Francisco criticou o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico do mundo.

Identificou, então, o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social, mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais” e associou discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.

Sobre o racismo, Francisco disse ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.

A sua última encíclica, “Dilexit nos” (Ele amou-nos), publicada em 24 de outubro de 2024, faz críticas ao que considera ser um mundo preso no consumo e violência.

“Hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro”, escreve o Papa.

O papa promoveu a reforma da Cúria, um processo iniciado com a criação do Conselho de Cardeais, um mês após a sua eleição, e que teve como ponto alto, em 2022, a constituição apostólica ‘Praedicate evangelium’, extinguindo vários organismos e criando Dicastérios, que passam a funcionar como departamentos ministeriais do Vaticano.

Em dezembro de 2023, foi publicada a declaração “Fiducia supplicans” (Suplicando a Confiança), pela Doutrina da Fé, que aborda as chamadas “relações irregulares”, vínculos monogâmicos de pessoas que não casaram pela Igreja.

Os padres passaram a ter permissão de realizar bênçãos a casais do mesmo sexo, mas também casais do sexo oposto que ainda não são casados, sem que isso signifique que as relações passem a ser abençoadas.

Esta decisão foi criticada por conservadores por ser demasiado liberal e por progressistas por não promover mudanças relevantes, gerando uma das polémicas que mostram a atualização imposta por Francisco, num compromisso que não coloca em causa a doutrina.

Na gestão dos dinheiros do Vaticano, Francisco procurou também moralizar os processos e o cardeal Angelo Becciu, próximo do Papa, foi afastado por causa de um processo de corrupção que o levou a uma pena de cinco anos e meio de prisão.