O líder da Liga, o vice-presidente e ministro do Interior, Matteo Salvini, já tinha anunciado na quinta-feira a intenção de abandonar a coligação e pedir eleições antecipadas, dadas as divergências em várias questões.
“Demasiados ‘nãos’ prejudicam a Itália, que precisa voltar a crescer e voltar a votar rapidamente. Quem perder tempo prejudica o país”, refere, num comunicado divulgado pelo partido.
Salvini exigiu que os senadores e deputados suspendam as férias e regressem a Roma para que o primeiro-ministro constate a sua falta de apoio no parlamento, apresente a sua renúncia e o chefe de Estado, Sérgio Mattarella, convoque novas eleições.
Na quinta-feira, Conte acusou Salvini de acabar com a coligação para aproveitar os bons resultados das eleições europeias (em que obteve 34%) e adiantou que vai ao parlamento para pedir explicações.
Neste momento, o parlamento está fechado, devendo ser marcada uma reunião dos líderes partidários nos próximos dias para marcar a reunião de votação da moção de censura, o que deverá acontecer a 20 de agosto, de acordo com a comunicação social local.
Caso Sérgio Mattarella dissolva o parlamento e convoque eleições, estas deverão acontecer num prazo mínimo de 45 dias e máximo de 70, pelo que a campanha deverá ocorrer em outubro.
No entanto, Mattarella é abertamente contrário a eleições no outono, período em que o Governo deverá estar a preparar o Orçamento para o ano seguinte, a discuti-lo com Bruxelas e a aprová-lo no parlamento.
Um governo cessante, que esteja só a gerir o dia-a-dia, não teria o peso de negociar com Bruxelas e essa situação poderia prejudicar a Itália nos mercados.
O chefe de Estado poderia também tentar formar Governo com a atual composição do parlamento, eleito a 04 de março de 2018, designando um Governo técnico e provisório.
Esta opção foi rejeitada tanto pela Liga como pelo M5S.
Segundo uma sondagem realizada em 31 de julho pelo instituto Ipsos para o Corriere della Sera e publicada na quinta-feira, a Liga de Salvini obteria 36% dos votos numas próximas eleições gerais e alcançaria 50,6% em coligação com o partido de extrema-direita Irmãos de Itália (7,5%) e o partido de Sílvio Berlusconi Forza Italia (7,1%).
Salvini já anunciou que se apresentará às eleições como candidato a primeiro-ministro.
O anúncio de Salvini aumentou o clima de instabilidade da economia italiana — terceira maior da zona do euro -, tendo os investidores mostrado hoje de manhã a sua preocupação.
Logo na abertura dos mercados financeiros, o ‘spread’ – diferença entre a taxa da dívida italiana e a taxa de referência alemã a dez anos –subia 25 pontos, para 235 pontos.
Cerca das 10:30 de Milão (09:30 em Lisboa), a Bolsa daquela cidade estava a cair cerca de 2%, com todo o setor bancário em baixa.
O clima de “incerteza tem um preço, que se chama ‘spread’ e potencial descida da classificação da Itália pelas agências de ‘rating'”, explicou à agência de notícias francesa AFP o professor universitário Carlo Alberto Carnavale Maffe.
Alguns especialistas ouvidos pela AFP admitem que a instabilidade política possa “afundar” a economia italiana, que já no segundo semestre do ano passado registou uma “recessão técnica”, e apresentava, até final de junho de 2019, um crescimento nulo no Produto Interno Bruto (PIB).
A economia italiana está a ser afetada pela desaceleração que toda a Europa está a viver, pelas tensões comerciais entre Pequim e Washington, mas também pela cautela das empresas, que estão a investir menos.
Bruxelas tem pressionando Roma para reduzir o seu défice público criando uma tensão com o Governo italiano, que, entretanto, aceitou reduzi-lo para 2,04% em 2019, em vez dos 2,4% projetados.
Salvini criticou Bruxelas e chegou mesmo a classificar o ministro da Economia, Giovanni Tria, como demasiado conciliador face à Comissão Europeia.
O ministro do Interior avisou ainda que no próximo Orçamento de Estado, o défice não poderá ficar abaixo de 2%, afirmando que “os dogmas de Bruxelas não são sagrados”.
“Haverá certamente um confronto com a Europa que só pode ser feito por um Governo e um parlamento legitimados pelos italianos”, disse, pedindo ao país que lhe dê uma “clara maioria”.
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