Pedro Barata passou pela Quercus, pela WWF, integrou a delegação portuguesa na Comissão Europeia e em 2007 foi convidado a participar num órgão de gestão das Nações Unidas, o UNFCCC. Voltou ao setor privado em 2012 — por onde já tinha passado para fundar a EcoProgresso — a convite de antigos colegas. Foi assim que chegou à Get2C, onde se dedica principalmente à área de estratégia climática, estando muito ligado aos projetos internacionais da empresa.

A Get2C atua na área das alterações climáticas, energia e mercados de carbono, trabalhando com empresas e governos. Entre os vários projetos que tem em curso, está liderar o roteiro português para a neutralidade carbónica (um cenário em que as emissões de gases com efeito de estufa não ultrapassam a capacidade de as remover), cujos resultados preliminares foram apresentados esta terça-feira, 4 de dezembro.

Esta conversa com o SAPO24 aconteceu três dias antes de arrancar a iniciativa COP by Electric Car, a estratégia que a Get2C encontrou para chegar ao público em geral por altura do arranque de mais uma cimeira do clima, a COP24. De Lisboa saiu um carro elétrico rumo a Katowice, na Polónia. Uma viagem para falar sobre alterações climáticas, mobilidade elétrica e estilos de vida sustentáveis — uma experiência que o SAPO24 está a acompanhar, quilómetro a quilómetro no dossier especial Missão Katowice. Sete países, oito dias, mais de 3200 quilómetros ‘ligados à corrente’.

Em Paris, há três anos, na COP21 alcançou-se um acordo que é considerado histórico, que veio substituir o chamado Protocolo de Quioto. Mas apesar de abrangente, ou por ser tão abrangente, melhor dizendo, o novo acordo focou-se em metas, mas não nos caminhos para lá chegar. Acha legítimo que exista uma certa desilusão quanto aos efeitos práticos do Acordo de Paris?

A diplomacia é a arte do possível. Aquilo que aconteceu na COP21 é um marco histórico, porque se alcançou um acordo global em que todos os países têm obrigações semelhantes de contribuir para a resolução do problema das alterações climáticas, e logo aí, é algo histórico. Depois, é suposto os países irem progressivamente aumentando o seu nível de ambição, e chegar a esse entendimento também é extremamente positivo, porque há 21 anos que se estava a tentar. O Protocolo de Quioto estava, digamos assim, ferido de morte, porque foi anunciado no final da década de 90, anos antes do boom económico da China, que fez com que de certa forma perdesse relevância. Não que fosse um mau tratado, mas porque era um tratado que, de certa forma, apontava o seu alvo para as economias desenvolvidas e deixava de lado as economias emergentes. Já o Acordo de Paris é global, abrange também as economias emergentes, e logo por aí é um enorme avanço.

Mas mudou alguma coisa efetivamente com o Acordo de Paris?

A discussão internacional pós-acordo é completamente diferente da discussão antes de Paris. Antes do acordo o principal foco era ‘vamos reduzir as emissões dos países desenvolvidos porque são eles que têm a responsabilidade histórica’. Agora, o foco — e claro que continua a haver uma responsabilidade histórica — visa também a responsabilidade de países que estão a hoje a crescer muito mais depressa do que a Europa ou os Estados Unidos e que precisam de limitar o aumento das emissões, reconhecendo todavia o seu direito ao desenvolvimento. Logo aí mudou muito o ambiente e a temática das negociações. Por esse lado, foi também extremamente positivo o Acordo de Paris.

"O que foi prometido em Paris era insuficiente"

E o que tem de menos positivo? Há sempre dois lados numa moeda…

O lado mais negativo é que constituímos no Acordo de Paris um mecanismo a que os peritos chamam de "mecanismo da ambição" e em que eu [país] apresento as minhas contribuições, digo o que estou disposto a fazer e depois olhamos coletivamente para o que todos se propuseram fazer e chegamos a uma conclusão. Se a conclusão é que falta um rasgo de ambição, então vamos coletivamente fazer esse salto. E onde é que estamos neste primeiro ciclo? O que foi prometido em Paris era insuficiente, já está claramente considerado como insuficiente. Este ano houve um marco nas negociações que foi o chamado relatório do 1,5ºC: as Nações Unidas publicaram um relatório há dois meses que teve um grande impacto porque demonstrou que ainda estamos muito fora de curso para atingir o mínimo que deveríamos atingir, que são os 2ºC de aumento máximo da temperatura, e para aquele objetivo que era tentar ainda o 1,5ºC. Concluiu-se que temos só 12 anos para corrigir o curso e para corrigir fortemente. Face a este relatório, os países chegam agora à COP24, na Polónia, com a obrigação de serem mais ambiciosos. O que se vai passar em Katowice é uma discussão sobre o grau de ambição, mas não é ali que vamos ter decisões.

"Em Katowice, a expectativa é de uma discussão mais técnica: como é que esta ambição dos países vai ser publicitada? O que é que os países têm de apresentar publicamente? Como é que vamos avaliar o grau de ambição?"

Vamos ter de esperar dois anos [Em Paris, os países comprometeram-se a rever de cinco em cinco anos as suas ambições, o que coloca o foco da discussão climática em 2020]

Vamos ter de esperar dois anos, porque é esse o ciclo acordado em Paris. Mas o que é importante é que a pressão seja mantida até lá. Em Katowice, a expectativa é de uma discussão mais técnica: como é que esta ambição dos países vai ser publicitada? O que é que os países têm de apresentar publicamente? Como é que vamos avaliar o grau de ambição?

E isso é suficiente?

O Acordo de Paris não tem previstas sanções. E vamos ser muito honestos: o Protocolo de Quioto tinha previstas sanções e viu-se no que deu, nunca ninguém foi sancionado, ou houve sanções a um nível muito baixo, digamos assim. Houve países, nomeadamente alguns países europeus, que foram sancionados, ou seja, não conseguiram vender os direitos de emissão que tinham debaixo do Protocolo de Quioto durante um período porque não entregaram os inventários, isto é, a sua contabilização, a tempo e horas. Isso funciona para países como a Roménia e a Bulgária, mas nunca funcionaria num quadro em que, de repente, já estamos a falar com a China e com os Estados Unidos.

A lógica do Acordo de Paris não é punitiva, mas antes facilitadora. Preferiu-se ter maior abrangência, ter países como os Estados Unidos — que tecnicamente ainda não saíram do Acordo —, a China e a Índia, que são fundamentais para a discussão deste problema, do que ter um acordo que é punitivo mas que no final só lá estão os três ou quatro países que de alguma forma se sentiram bem com esse tipo de acordo, como uma Alemanha ou uma Noruega. Portanto, o acordo é necessariamente não vinculativo. E o que é que nos convém? Convém, por exemplo, que a China considere que é do seu interesse económico e geoestratégico cumprir com aquilo a que se vincula e até ambicionar ir mais longe [no que toca à redução de emissões], sem que para isso seja necessário um quadro de sanções.

Está confiante no quadro de ambições e resultados que vamos encontrar em 2020?

Estou expectante e não propriamente confiante. Os temas alterações climáticas, mobilidade elétrica e a questão da própria eficiência energética deixaram de ser periféricos em termos de economia e até de competitividade. Aliás, passou a ser central. Por exemplo, a China ambiciona atingir no próximo ano uma penetração no mercado de 10% de veículos elétricos, o que significa que no espaço de 3 a 5 anos teremos carros elétricos a chegar aos lugares mais remotos do globo. Deixe-me dar outro exemplo, quando olhamos para as energias renováveis, se há dez anos comprasse um painel solar fotovoltaico ele era quase de certeza alemão, hoje provavelmente será chinês. O que aconteceu foi que a China, ao investir da forma como investiu no solar fotovoltaico, fez cair a pique o custo da tecnologia e hoje estamos com um custo da tecnologia que permite pensar em coisas que eram impensáveis há 10 anos atrás. Nós podemos ter uma atitude que é dizer ‘isto é terrível para os alemães’. Sim, pode ser terrível para os alemães, mas é benéfico para a humanidade.

"Sim, vamos ainda a tempo [de travar o aumento da temperatura], mas precisamos de acelerar o passo, e em muitas áreas ao mesmo tempo."

Contas feitas, vamos ainda a tempo de evitar uma subida da temperatura média global de 2ºC?

Sim, vamos ainda a tempo, mas precisamos de acelerar o passo, e em muitas áreas ao mesmo tempo. Há algumas tecnologias que são preponderantes — o solar fotovoltaico, com a progressão de custos, é efetivamente preponderante. Mas, dito isto, podemos polvilhar o mundo de solar fotovoltaico que não é por isso que limitamos a subida aos 2ºC ou 1,5ºC. E porquê? Porque ainda vai haver imenso consumo energético em áreas que, pelas suas condicionantes, a tecnologia não chega lá, como por exemplo na aviação. Começámos a ter os primeiros protótipos de aviões elétricos de curta distância, mas a densidade energética necessária para poder levantar aquelas toneladas todas faz com que, sobretudo para aviões de longo curso, não seja expectável que tenhamos uma solução tecnológica nos próximos 15 ou 20 anos. Nós temos hoje de começar a pensar não só no solar fotovoltaico — que sim, é preciso democratizá-lo, espalhá-lo por todo o lado —, mas também pensar noutras soluções, como combustíveis líquidos, os tais biocombustíveis, e pensar ainda que nalguns casos a única energia que temos com densidade suficiente é, apesar de tudo, a fóssil, e, nesse caso, temos de pensar como continuar a ter alguma extração fóssil, mas ela tem de ser neutralizada.

"Não podemos apostar as fichas todas num só cavalo. Há muitos cavalos e há cavalos que já correm com uma velocidade louca"

Isto é tudo um jogo de equilíbrio…

Há muitas soluções. Se nós dissermos assim ‘o mundo vai ser fóssil com captura sequestre de carbono’ [armazenar as emissões de carbono] eu digo que não vai ser. Não vai porque neste momento essa tecnologia não está disponível e vai demorar algum tempo a estar disponível. Isto para dizer que não podemos apostar as fichas todas num só cavalo. Há muitos cavalos e há cavalos que já correm a uma velocidade louca. A mobilidade elétrica está a correr. No armazenamento, por exemplo, as curvas de decréscimo do custo são quase, de ano para ano, de 30% a 40%.

Estamos a falar essencialmente de baterias. As baterias de iões de lítio estão a ter uma performance e um futuro que não se pensava há dois ou três anos atrás, cada vez são mais eficientes — as baterias de iões de lítio são aquelas que vemos nos carros elétricos que conhecemos —, mas há pesquisa neste momento em formas alternativas para outro tipo de materiais.

Em laboratório já temos baterias que, por exemplo podem utilizadas em automóveis e têm autonomias de 1000 a 1500 quilómetros. Quem nos dera que os nossos carros convencionais tivessem autonomias destas. A questão é que tudo isso ainda é muito experimental e vai ter ainda de se fazer um caminho até ao mercado, apesar de esse caminho até ao mercado também estar a ser mais rápido do que esperávamos. Por exemplo, a evolução dos veículos elétricos tem sido tão abrupta que pode dar-se o caso de haver, por exemplo, pessoas ou empresas que vão fazer a sua conversão para o elétrico ainda antes do tempo de vida útil da sua frota atual [movida a combustível]. E, quando digo que pode acontecer, não o digo por ser ambientalista, digo-o porque economicamente pode fazer sentido.

"Não chegamos lá só pela tecnologia. A questão é que a conversão tecnológica pode induzir mudanças de comportamento."

Temos falado essencialmente sobre desenvolvimento tecnológico. A tecnologia é o motor da transformação para uma economia verde?

Eu acredito que essa conversão tecnológica vai-se fazer, mas ainda assim não chegamos lá só pela tecnologia. A questão é que a conversão tecnológica pode induzir mudanças de comportamento. Pensemos na mobilidade daqui a dez anos, eu posso estar na situação de decidir se compro um carro elétrico ou passo a utilizar as plataformas de car sharing [veículos partilhados], e posso achar que a segunda opção é muito mais em conta, porque não tenho de pagar manutenção, seguros, impostos e a flexibilidade é muito maior. Assim, podemos ter muita gente a prescindir do automóvel próprio. É algo que o nosso chip atualmente não processa, mas que já se nota em algumas partes do mundo e com algumas gerações, como nos EUA com os millennials: ter um automóvel deixou de ser entendido com um símbolo de estatuto, e quando essa relação se altera, alteram-se uma série de coisas.

Isso significa que a mudança de comportamentos vai implicar profundas transformações na forma como vivemos, por exemplo, nas cidades…

Sim, e não vai ser sem problemas. Isto não é um mar de rosas. Pensemos primeiro a um nível geoestratégico: hoje, quando ligamos a televisão, vemos que uma boa parte das notícias internacionais que nos chegam têm origem numa parte do mundo em particular, o Médio Oriente, e parte disso está relacionado com a nossa dependência global petrolífera. Agora, se tudo o que estamos a ver ao nível da tecnologia renovável e da mobilidade se cumprisse, teríamos muito rapidamente um choque de procura a uma escala a que não estamos habituados. Sair do petróleo a uma velocidade demasiado rápida para a conversão economia e social daqueles países seria problemático. Logo aí temos um conjunto de problemas paralelos a toda esta neutralidade carbónica.

"O que nos cumpre a nós é tentar que as coisas sejam os mais risonhas possíveis e preparar-nos e ter o máximo de flexibilidade para esta transformação."

Depois, passemos para a nossa escala nacional: quando temos previsões — que podem ser muito futuristas ou extremas — mas que indicam que o parque automóvel pode diminuir em 40% ou 50%, há todo um conjunto de variáveis económicas a considerar, desde a fiscalidade, já que boa parte é proveniente do automóvel. Como vamos fazer essa reconversão das receitas? As nossas cidades são feitas para os automóveis, uma pessoa chega a Lisboa ou ao Porto e tem edifícios convertidos em autossilos, mas quando deixarmos de ter necessidade de estacionamento nem todos os efeitos serão benéficos. Sim, por um lado há libertação de espaço para outro tipo de atividades ou infraestruturas, mas podem existir efeitos, por exemplo, sobre o mercado da habitação, sobre o valor dos terrenos e das casas. Portanto, há fenómenos que ainda não conseguimos compreender muito bem.

Claro que há uma forma de apresentar isto, que é como se tudo fosse risonho, mas também há uma forma mais realista. O que nos cumpre a nós é tentar que as coisas sejam as mais risonhas possíveis e preparar-nos e ter o máximo de flexibilidade para esta transformação.

Por vezes considera-se que o aumento médio da temperatura global é um problema dos outros, das ilhas remotas do Pacífico.

No caso de Portugal o problema é mesmo nosso e é grave. Porque quando olhamos para o mundo num cenário com 3ºC ou 4ºC é importante salientar que isso se reflete de diferentes formas em sítios sítios. No caso particular de Portugal induzem uma média que é superior à media global, provavelmente 5ºC ou 6ºC em algumas regiões do país, o que as torna praticamente inabitáveis daqui até 2100. Talvez a minha filha ainda consiga ir para a nossa casa no Alentejo, mas o meu neto vai ver aquilo como uma zona de catástrofe. Isto para dizer que, claramente, no caso português nós não fazemos parte do lote de países que não é afetado por um aumento da temperatura global para 3ºC.

Num mundo 2ºC de aumento podemos ainda viver bem e alguns ainda ganham em termos da fertilidade dos solos e produzem melhor, e etc. Sim, mas isso é numa perspetiva muito egoísta e extremamente incerta, porque mesmo que o vinho inglês passe a ser melhor que o francês, a questão é que vamos estar num mundo climaticamente mais incerto. Portanto, podemos ter um bom vinho inglês e mais ciclones e inundações em Inglaterra. Estima-se também que um aumento da temperatura média global possa, por exemplo, inverter o fluxo turístico de norte para sul. Mais, as alterações climáticas vão deixar largas secções de África inabitáveis e, portanto, essas pessoas vão ter de emigrar. Isso vai acontecer em África e já acontece no Pacífico. O caso mais conhecido é o do arquipélago de Quiribati, que já reclamou para si o estatuto de nação em perigo e, portanto, toda a população está hoje protegida pela lei australiana como refugiado climático. Isto porque num cenário de 1,5ºC essas populações já estarão vulneráveis e as ilhas vão inundar. É triste dizê-lo, mas os filhos dos atuais cidadãos de Quiribati serão, talvez, cidadãos australianos. A Indonésia poderá ter fluxos migratórios gigantes…

"Não teríamos tido o Acordo de Paris se Obama não tivesse sido presidente"

Neste cenário, em que a ação se releva urgente, preocupa-o a postura de políticos como Donald Trump [que anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris e mostra-se cético quanto ao fenómeno das alterações climáticas], ou o seu impacto é limitado?

Eu tento ser otimista. Lembro-me perfeitamente do choque que foi quando ele foi eleito, estávamos na COP em Marraquexe, eu passei a noite da eleição com uma parte da delegação americana e vi-o em primeira mão. Do ponto de vista da diplomacia é claro que importa. Vamos colocar ao contrário: nós não teríamos tido o Acordo de Paris se Obama não tivesse sido presidente e se na altura os americanos e chineses não tivessem chegado a um entendimento — o que só foi possível com negociações, diplomacia. Nada disso será possível com administração Trump e, como tal, teremos muito menos avanços a nível negocial.

Agora, o que Trump não pode fazer é contrariar a parte económica e tecnológica da questão. Trump, por exemplo, foi eleito com a ideia de ia recuperar empregos no carvão, mas ainda não houve nenhuma abertura de central a carvão desde que ele foi eleito, e com boas razões, não há nenhuma empresa neste momento disponível para investir em aumentar a capacidade de carvão nos Estados Unidos, porque economicamente não é viável, só é possível à custa de subsídios enormes que nenhum estado está disponível para oferecer. O efeito prático de Trump é atrasar.

Estamos a falar sobre Trump, mas poderíamos estar a falar sobre Jair Bolsonaro [o Brasil — país do qual Bolsonaro é presidente-eleito — anunciou que não vai acolher, como estava previsto, a COP25]

Com Bolsonaro é um pouco diferente. O Brasil não é, do ponto de vista tecnológico, onde se espera que a agulha vá mexer, mas há um património importante que é a Amazónia e, aí sim, pode haver algum retrocesso. Mas mais uma vez, a prazo, com toda a evolução tecnológica que estamos a ter, não sei se aquilo que Bolsonaro poderá fazer vai ser suficiente para alterar significativamente esta evolução.

A Get2C, a sua empresa, prepara-se para apresentar em Lisboa [a 4 de dezembro] e na COP24 os resultados preliminares do Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Pode explicar-nos no que consiste?

O Acordo de Paris mandata todos os países a criarem uma estratégia que deve ser apresentada até 2020, uma estratégia de longo prazo. Ao mesmo tempo, o Acordo de Paris diz que o mundo deve caminhar como um todo para um cenário de emissões líquidas zero, a tal neutralidade carbónica, na segunda metade do século. O primeiro ministro António Costa quando foi à COP em Marraquexe, um ano depois de Paris, anunciou o compromisso português de alcançarmos a neutralidade carbónica em 2050. Porquê em 2050? Porque somos um país à escala mundial com uma economia de médio desenvolvimento e é esperado que estas economias cheguem à neutralidade carbónica antes da segunda metade do século. Foi aí o que o governo decidiu lançar um estudo, que é este roteiro, que deve dizer como é que isso é possível.

Assim, esteve a trabalhar-se durante um ano na criação de cenários sobre onde é que Portugal vai estar e quais os principais fatores de mudança social e económica até 2050, e o que é que isso gera em termos de procura e energia. Depois, colocamos aquilo tudo num modelo que está calibrado com várias tecnologias e esse modelo diz-nos qual é o rumo ótimo para chegarmos aos objetivos propostos de redução de emissões, nomeadamente chegar a 2050 com emissões líquidas nulas. O roteiro deve converter-se idealmente na estratégia que Portugal tem de apresentar em 2020.

Esta entrevista foi realizada a 29 de novembro, cinco dias antes da apresentação dos resultados preliminares do Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Enquanto o estudo era divulgado em Lisboa, o SAPO24 fazia a ligação Madrid-Burgos da viagem COP by Electric Car. 

Assim, esta terça-feira o governo estabeleceu metas mais ambiciosas do que as que constam atualmente no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), que apresenta este mês em Bruxelas, nomeadamente 47% do consumo de energia em 2030 proveniente de fontes renováveis. Esta meta foi apresentada pelo ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, na sessão encerramento da apresentação do Roteiro para a Neutralidade Carbónica. À margem desta apresentação, o ministro anunciou ainda que a neutralidade carbónica implicará mais 2.000 milhões em investimento por ano, a maioria privado.