"Muitos mais virão, só pode", afirmou Nádia Piazza, quando questionada pela agência Lusa sobre o facto de o segundo comandante distrital de operações de socorro de Leiria, Mário Cerol, e do comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, terem sido constituídos arguidos no inquérito relativo aos grandes incêndios que deflagraram em 17 de junho e que causaram 66 mortos.
A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) recordou, numa entrevista à Lusa, que houve várias fases de combate aos incêndios, que envolveram os níveis local, distrital e nacional, e disse acreditar que o inquérito está a seguir uma ordem cronológica dos acontecimentos.
Nádia Piazza sublinhou que, à medida que se vai conhecendo o capítulo 6 do relatório encomendado pelo Governo à equipa de Xavier Viegas, começam também "a vir ao de cima as falhas do INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica] e da Proteção Civil naquilo que é o socorro e a emergência às populações".
Já sobre a responsabilização, ou não, do ex-comandante da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), Rui Esteves, sublinhou que "carece de factos", mas pode haver responsabilidades do comando nacional, designadamente no "desvio de meios".
"Houve relatórios e vários apontamentos. Mas, em matéria da investigação e inquérito, compete à PJ. Quem dirige é o Ministério Público (MP). Então, eu quero crer que eles estão a começar, até de acordo com as horas", afirmou.
"Vamos aguardar. Eu desconfio completamente do Estado hoje e das instituições públicas. Mas na terça-feira foi dado um indício de que o MP e a PJ estão a funcionar. Estão a ser coerentes naquilo que são os relatórios da Comissão Técnica Independente e do professor Xavier Viegas. Então, eu quero aguardar. Nessa matéria, o prudente é aguardar", sustentou.
Questionada sobre se a Ascendi, concessionária da Estrada Nacional 236-1, via onde morreu a maioria das vítimas, e a EDP, devem ou não ser responsabilizadas, Nádia Piazza foi taxativa: "Acho que sim".
"Como é que uma infraestrutura que é pública, uma estrada nacional, uma linha elétrica que é concessionada pelo próprio Estado, pode estar dependente de planos municipais, da maior ou menor capacidade técnica de os municípios aprovarem planos", pergunta.
Sobre esta matéria, contesta o parecer que a Ascendi trouxe à discussão, que desresponsabiliza a concessionária da limpeza da via devido à alegada caducidade dos planos municipais de Pedrógão Grande e Castanheira de Pera.
"Contradigo o parecer que a Ascendi trouxe à baila, muito oportunamente, em vésperas de constituição de arguidos. Contesto isso, naturalmente, e pessoas muito mais doutas do que eu também contestam isso", frisou.
Contudo, adianta que o poder local "também não esteve bem".
"As autarquias têm que ter os planos municipais. Enquanto eu, nas infraestruturas nacionais, não tenho dúvidas, nas municipais eram necessários os planos e, sobretudo, cumpri-los. Mais do que ter um papel, é preciso cumpri-los. As bermas das estradas municipais também tinham que ser limpas", disse.
Nádia Piazza entende que também houve "negligência" por parte dos municípios.
"E não é só neste caso [de Pedrógão Grande]. É o país todo. As pessoas demitem-se das suas competências", concluiu.
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