“Pergunto porque é que não há nenhum governante, porque é que não há nenhum deputado arguido neste processo, já que fizeram as leis e não nos deram os meios? Não pode ser só os autarcas ou não pode ser só o comandante dos bombeiros ou outras pessoas”, afirmou José Carlos Alexandrino, que é também presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
O autarca discursava na sessão solene do Dia do Município de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.
Antes, José Carlos Alexandrino referiu que “era bom que o tribunal (…), se calhar, começasse por outros que fazem leis na Assembleia da República, que fazem leis para as câmaras municipais cumprirem”.
“É que há leis que para nós as cumprirmos temos de ter meios de financiamento para o fazer”, realçou, considerando: “É fácil nós determinarmos e os presidentes de câmara que se desenrasquem, que façam, mesmo que não haja verbas”.
Assumindo que tem sido uma voz inconformada relativamente a este processo, José Carlos Alexandrino defendeu não ser preciso arranjar bodes expiatórios.
“Porque há sempre. Quando acontece qualquer coisa, precisamos de arranjar um conjunto de bodes expiatórios para todos ficarmos de consciência tranquila”, declarou.
Lamentando que queiram julgar pessoas “como se fosse possível dominar esse fogo”, o autarca adiantou que testemunhará no Tribunal Judicial de Leiria, pois não acredita que “uma limpeza de 10 metros de cada lado da estrada evitasse qualquer morte”, quer em Pedrógão Grande, quer em Oliveira do Hospital.
Reiterando que este é o “julgamento da vergonha”, o presidente da Câmara de Oliveira do Hospital adiantou, referindo-se ao comandante dos Bombeiros Voluntários e a outros arguidos, que “nenhum tribunal vos pode condenar por uma coisa que vocês não podiam evitar”, ouvindo-se palmas, de seguida.
Em junho, José Carlos Alexandrino apelidou de “julgamento da vergonha” este processo judicial, na sessão de apresentação de um sistema de videovigilância para a prevenção de incêndios, presidida pela secretária de Estado da Administração Interna, que decorreu em Cantanhede.
“Aquelas pessoas não morreram por causa das faixas de proteção, aquelas pessoas morreram porque foram incêndios com características que nunca tinham sido vistas em Portugal. Era um fenómeno novo, como quando nos acontecem determinados furacões”, disse então José Carlos Alexandrino.
O incêndio que deflagrou em junho de 2017 em Pedrógão Grande, e que alastrou a concelhos vizinhos, provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
O julgamento para determinar responsabilidades neste fogo tem 11 arguidos, incluindo os presidentes de Câmara de Pedrógão Grande e de Figueiró dos Vinhos, Valdemar Alves e Jorge Abreu, respetivamente, o ex-presidente de Castanheira de Pera Fernando Lopes e o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut.
Os incêndios de outubro de 2017 na região Centro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.
No caso de Oliveira do Hospital, ardeu “97% do concelho”, tendo-se registado 13 mortos.
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