“Não queria pronunciar-me em relação ao processo [judicial, sobre os acontecimentos de junho de 2017] em si, mas o alerta que eu faço é que não tornem as coisas simples, particularmente aquelas que são demasiado complexas. Não se encontre bodes expiatórios em relação a um fator, até a uma responsabilidade, esquecendo as responsabilidades maiores de políticas durante décadas que levaram o nosso interior à situação em que se encontra”, afirmou Jerónimo de Sousa.
Em declarações aos jornalistas no final de uma visita aos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, frisou que o comandante da corporação, Augusto Arnaut – um dos primeiros a ser constituído arguido no âmbito da investigação do Ministério Público – está “naturalmente preocupado” e “com um sentimento de injustiçado”.
“Percebe perfeitamente porque é que está como arguido. Mas seria tudo muito fácil, mas não resultaria, nós procurarmos que o fracasso que existiu no combate aos fogos fosse a causa primeira e principal do drama que aqui ocorreu. Não, foi um conjunto de fatores”, argumentou o líder do PCP.
Jerónimo de Sousa adiantou que esse conjunto de fatores se prende, em Pedrógão Grande, com a realidade do concelho do interior do distrito de Leiria, realidade económica e social “que conduziu a este drama”.
“Para além da particularidade de um fenómeno excecional, brutal que aqui aconteceu há um ano”, acrescentou.
O líder comunista disse ainda que o comandante Augusto Arnaut “com todas as preocupações, quer continuar” em funções “a dar o seu contributo e a sua demanda contra os fogos”.
Jerónimo de Sousa considerou que um ano após a tragédia “mudou pouco” em Pedrógão Grande, exemplificando com o espaço do quartel de bombeiros, alvo de melhoramentos, mas onde o investimento que foi feito “resultou de fundos de solidariedade que muitos e muitos portugueses tiveram com estas populações devastadas pelos incêndios”, observou.
“Alguma melhoria em relação às instalações, alguma evolução positiva particularmente na formação de bombeiros, mas há aqui um obstáculo que continua a bloquear as soluções que é o processo de desertificação e despovoamento”, frisou Jerónimo de Sousa, alegando que “muito e muitos” eventuais jovens candidatos não têm disponibilidade para abraçar o voluntariado nos bombeiros por não estarem a trabalhar e a residir no concelho.
“Há aqui um retrocesso, uma dificuldade, em relação a meios humanos disponíveis para responder a este problema”, acrescentou.
O secretário-geral do PCP apontou ainda a “pouca ação, e pouca é uma palavra otimista, em torno da questão da coordenação e do papel da Proteção Civil”.
“Têm decorrido umas reuniões normais, que acontecem, mas muita indefinição em relação a quem é quem e faz o quê, nomeadamente num quadro integrado, em que, do nosso ponto de vista, continuam a existir grandes atrasos e dificuldades de implementação de um verdadeiro serviço de Proteção Civil”, declarou.
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