Os pontos em causa no relatório elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, analisam várias situações, entre elas casos de sobrevivência por as pessoas terem permanecido em casa ou em tanques de água, alguns feridos que foram socorridos, as pessoas que foram encontradas já sem vida, mas salvaguardam a identidade dos envolvidos, bem como alguns dos locais onde ocorreram as situações.

A Comissão Nacional de Proteção Dados (CNPD) vetou a publicação integral do capítulo 6 do relatório elaborado por Domingos Xavier Viegas sobre os incêndios de Pedrógão Grande, permitindo apenas que os familiares das vítimas tenham acesso à informação.

Apesar do veto, a Comissão Nacional de Proteção Dados autorizou a publicação de alguns pontos do capítulo 6, desde que previamente sejam colocados no anonimato “alguns elementos que podem permitir indiretamente a identificação dos intervenientes” e que “cada um dos intervenientes der o consentimento”.

Os pontos hoje divulgados começam por analisar alguns casos de sobrevivência de pessoas que conseguiram escapar ao refugiar-se em tanques de água ou piscinas, como o caso de 11 pessoas que entraram num tanque em Nodeirinho.

O relatório analisa também casos de pessoas que permaneceram em casa e acabaram por sobreviver, mas também os motivos que levaram muitas a abandonarem as suas habitações.

O documento salienta ainda o testemunho de um dos primeiros bombeiros a sair para o incêndio, com uma análise detalhada do seu percurso e do que foi encontrando, tendo recolhido alguns feridos pelo caminho.

Esta pessoa fez um dos primeiros pedidos de socorro registados pela fita do tempo, cerca das 19:25.

É também revelado o percurso de um elemento que saiu para o local a pedido do Comandante Nacional para fazer o reconhecimento do perímetro do incêndio de Pedrógão Grande, acompanhado por elementos da Força Especial de Bombeiros, a 17 de junho, que descreve que encontrou “uma criança caída no chão” perto do Outão.

“A criança estava inconsciente e tinha queimaduras na parte posterior do braço e nas pernas também. Estava de calções, 't-shirt' e sandálias”, refere o documento, acrescentando que havia fogo de ambos os lados da estrada.

Depois de socorreram a criança e uns idosos numa fase seguinte, a equipa foi informada de que haveria problemas na estrada 236-1.

“Deixaram o carro parado porque havia um pinheiro caído, junto ao tronco encontraram um cadáver. Aqui começa todo o procedimento de levantamento dos corpos que iam vendo. Foram à procura nos veículos todos, nalguns foi possível identificar cadáveres, muitos dentro dos veículos (a maior parte)”, acrescenta o relatório.

Nesse troço fizeram a identificação de “19 ou 20 corpos” e fizeram essa comunicação.

“Uma vez que não conseguiram falar diretamente com o PCO - Posto de Comando Operacional - (não tinha rede telemóvel e o SIRESP também não permitia fazer isso) fizeram essa comunicação para Lisboa, via rádio. Trocaram de canal, ligaram o canal nacional e passaram essa informação para o Comando Nacional, quem estivesse via rádio naquele canal ouviria a conversa”, salienta o relatório.

A informação referia que foram detetadas 19 vítimas mortais nesse troço, mas que “o número seria superior”.

Ao longo do percurso que os bombeiros continuaram a efetuar, que decorreu até à manhã do dia 18, foram encontrando outras vítimas mortais, explicando que deixaram “os corpos tapados” e identificaram “as coordenadas geográficas”.

Os pontos hoje divulgados do relatório terminam com o caso de um homem que socorreu pessoas e acabou por voltar ao lugar de Adega, informando a GNR que sabia que ainda lá estavam mais pessoas feridas.

“Os agentes deixaram-no prosseguir, por sua conta e risco”, frisa o documento, referindo que o homem conseguiu recolher mais pessoas para serem socorridas.

Em 17 de junho e durante vários dias, fogos florestais devastaram extensas áreas, sobretudo em Pedrógão Grande, provocando 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos, além de elevados prejuízos materiais.

[Notícia atualizada às 23:08]