Em 2017, a descoberta do primeiro objeto interestelar, com a forma de um charuto, veio sugerir semelhanças entre a formação de planetas no Sistema Solar e noutros sistemas estelares.
O objeto em causa, um asteroide batizado com o nome "Oumuamua", que significa "mensageiro" em havaiano, foi detetado a 19 de outubro pelo telescópio Pan-STARRS1, no Havai, nos Estados Unidos, e provém de um outro sistema solar, medindo 400 metros de comprimento, o equivalente a cerca de dez vezes a sua largura.
Para o conceituado astrónomo de Harvard Avi Loeb, a melhor e mais simples explicação para as características extremamente incomuns do objeto é dizer que é tecnologia alienígena.
"Pensar que somos únicos, especiais e privilegiados é arrogante", disse à AFP numa entrevista por videochamada. "A postura correta é ser modesto e dizer: 'Não somos nada especiais, existem muitas outras culturas por aí e só temos de encontrá-las".
As credenciais estelares de Loeb — foi o professor de Astronomia com mais anos de serviço em Harvard, publicou centenas de artigos inovadores e colaborou com grandes nomes como Stephen Hawking — tornam difícil rejeitar totalmente a sua tese.
Um visitante misterioso
Loeb, de 58 anos, expõe o argumento das origens extraterrestres do "Oumuamua" no livro "Extraterrestrial: The First Sign of Intelligent Life Beyond Earth" (Extraterrestres: o primeiro sinal de vida inteligente além da Terra).
Em 2017, os astrónomos observaram um objeto que se movia tão rápido que só poderia ter vindo de outra estrela. Ou seja, este seria o primeiro intruso interestelar registado.
Além disso, o objeto não parecia ser uma rocha comum, porque depois de andar ao redor do Sol, acelerou e desviou-se da trajetória esperada, impulsionado por uma força misteriosa.
O objeto viajante também tremia de maneira estranha, conforme inferido pela maneira como se tornou mais brilhante e escuro nos telescópios dos cientistas, e era excepcionalmente luminoso, o que possivelmente sugere que era feito de metal brilhante.
"As ideias que surgiram para explicar as propriedades específicas de "Oumuamua" envolvem sempre algo que nunca vimos antes", disse Loeb. "Se esta é a direção que estamos a tomar, porque não considerar uma origem artificial?"
O astrónomo lembra ainda outro aspeto da descoberta: o objeto "não foi fotografado de perto durante a sua breve estadia; só ficámos a saber da sua existência quando já estava a sair do nosso Sistema Solar".
Antes de se encontrar com o Sol, "Oumuamua" estava "em repouso" em relação às estrelas próximas, o que é estatisticamente muito raro.
"Talvez 'Oumuamua' fosse como uma boia que repousava na expansão do universo", escreve Loeb. Como um arame deixado por alguma forma de vida inteligente, à espera para ser ativado por um sistema estelar.
Um novo ramo na astronomia — e conflitos com a comunidade científica
As ideias de Loeb colocaram-no numa posição questionável face aos seus colegas astrónomos.
Num artigo na Forbes, o astrofísico Ethan Siegel referiu-se a Loeb como "um cientista que já foi respeitado" e que, ao não conseguir convencer os seus colegas com os seus argumentos, passou a agradar ao público.
Loeb, por sua vez, protesta contra uma "cultura da intimidação" na academia que pune aqueles que questionam a ortodoxia, assim como Galileu foi punido quando propôs que a Terra não era o centro do universo.
Em comparação com ramos especulativos mas respeitados da física teórica, como a busca por matéria escura ou multiversos, "a procura por vida extraterrestre é um caminho muito mais sensato a seguir", disse.
É por isso que Loeb está a promover um novo ramo da astronomia, a "arqueologia espacial", para investigar sinais biológicos e tecnológicos de vida extraterrestre.
"Se encontrarmos evidência de tecnologias que demoraram um milhão de anos para serem desenvolvidas, então poderemos obter um atalho para essas tecnologias, poderemos utilizá-las na Terra", disse Loeb, que passou a sua infância numa quinta israelita a ler sobre Filosofia e a refletir sobre as grandes questões da vida.
*Por Issam Ahmed / AFP
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