Num percurso que começou na Praça Martim Moniz e subiu pela Avenida Almirante Reis até à Alameda, largas centenas de manifestantes entoaram cânticos de protesto e empunharam dezenas de cartazes e tarjas. Entre estas, algumas alertavam que “Não há planeta B!” e para a “Precariedade planetária”, exigindo aos governos “Energias renováveis para todos” e que “Não fritem o planeta!”
A concentração, que contou também com as presenças da porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, e da coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, foi sempre controlada de muito perto por vários agentes da PSP, que se colocaram tanto à frente dos manifestantes, como no final do cortejo, que condicionou parcialmente durante a tarde de hoje a circulação rodoviária nesta artéria da capital.
Entre os manifestantes seguia Ana Pereira, uma analista financeira de 30 anos que tinha um cartaz pendurado nos ombros e um fantoche de dinossauro na mão esquerda para lembrar o cenário de extinção do próprio planeta, se nada for feito para conter as alterações climáticas.
“As alterações climáticas não têm tempo de antena suficiente nos meios de comunicação e é importante chamarmos a atenção”, disse à Lusa, defendendo que “a questão económica atrasa a questão climática” e lamentando que o planeta tenha passado “há muito” o ponto de não retorno: “A temperatura já vai subir mais do que aquilo que devia. O que temos de tentar agora é que não suba muito mais do que os 1,5 graus [Celsius] que tinham sido acordados”.
Também Manuel Tibo, de 76 anos, marchava, com a companheira, em passo lento, pelo clima: “O clima cada vez está pior, cada vez está mais calor, não chove e quando chove é só para estragar”, disse, acrescentando que “para quem tem filhos e para a ‘malta nova’ isto não é nada bom”.
De seguida, Manuel Tibo avisou que são os mais novos “quem vai pagar mais por estas alterações do clima” e pediu “vontade” aos governos, particularmente os dos países mais poluentes, que “são os que fazem menos para mudar”.
Equipada com uma bicicleta elétrica que a trouxe desde os Olivais até à ‘Baixa’ de Lisboa, Elsa Mota, de 53 anos, sublinhou ter vindo participar na iniciativa não apenas pela preocupação com a sua geração, mas, especialmente, pelos mais jovens, que a surpreenderam por não serem em maior número na marcha desta tarde.
“Não se veem muitos miúdos na manifestação. Estava à espera de mais miúdos”, admitiu a professora, reconhecendo ainda haver “um défice de consciência coletiva em termos de proteção ambiental, mas notando que é preciso agir: “Não podia ficar de braços cruzados, tenho três filhos”.
Em nome dos mais jovens, Catarina Mota, de 18 anos, apontou as suas críticas à falta de resultados concretos da 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26). “Eles reúnem-se e nós somos as marionetas. Estamos no meio, lutamos e eles não fazem nada. Falam, falam, e não fazem nada. Metem o mundo neste estado e depois somos nós que temos de estar a lutar pelo nosso planeta”, vincou.
Enfatizando o “estado grave” do planeta a nível ambiental e climático, a jovem estudante avisou que, se não forem feitos esforços, “daqui a 10 anos” já não haverá margem de salvação para a Terra e deixou uma mensagem aos líderes mundiais: “Deixem de se preocupar em ganhar dinheiro e terem grandes carros e grandes casas e preocupem-se mais com o planeta. Se a democracia é o Titanic, nós somos os violinistas”.
Convocada pela plataforma Salvar o Clima, a manifestação reuniu várias organizações portuguesas que apelam a cortes drásticos nas emissões de gases com efeito de estufa, a uma transição justa e à justiça climática global, numa iniciativa à escala global para criar pressão sobre a COP26.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos estão reunidos até 12 de novembro em Glasgow, na Escócia, para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
Comentários