“A poluição é a [questão] que menos me preocupa, pois com capacidade de investimento, conseguimos resolver”, disse João Matos Fernandes, acrescentando que também os problemas ambientais na área da energia, nomeadamente as emissões de dióxido de carbono, já estão no caminho da resolução e considerou o objetivo fixado pelo primeiro-ministro, António Costa, de tornar Portugal neutro em carbono em 2050, “um desafio brutal”.
Mas, a escassez de materiais é um problema diferente pois se não houver uma mudança de comportamentos não tem recuperação, explicou João Matos Fernandes ao realçar a importância da economia circular que é muito mais que a reciclagem, é um novo conceito de produtos que têm de ser mais duráveis, e preferencialmente integrar materiais reciclados e ser passíveis de reutilização.
“A pior eficiência de materiais regista-se no setor da construção”, disse.
Está em causa a transição de uma economia linear, em que são extraídos recursos à natureza, usados e deitados fora, para uma economia circular, com base na redução do uso dos materiais primários e na aposta na reciclagem e reutilização de produtos.
João Matos Fernandes defendeu que “o desafio não é o despojamento coletivo, para uma vida com menor bem-estar”, mas sim ter o mesmo nível de bem-estar, mas sem esgotar os recursos naturais, por isso, a necessidade de apostar na economia circular.
O ministro do Ambiente falava na sessão de abertura da conferência que decorre hoje em Lisboa para assinalar os 20 anos do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), atualmente presidido por Filipe Duarte Santos.
A conferência reúne várias personalidades da área do ambiente, além do ministro e do secretário de Estado adjunto do Ambiente, de deputados, representantes de organizações não governamentais (ONG) e investigadores.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deu o seu contributo para esta conferência através de uma mensagem vídeo em que realçou a importância dos desafios atuais da proteção do ambiente, nomeadamente no âmbito da agenda para o desenvolvimento sustentável, e das alterações climáticas, o que o levou a convocar uma cimeira sobre o clima para 2019.
O CNADS foi criado quando António Guterres era primeiro-ministro, o que foi recordado por João Matos Fernandes, mas também pelo presidente do Conselho.
Filipe Duarte Santos referiu os bons indicadores do desenvolvimento humano no último século, ao contrário dos indicadores globais do ambiente, com a maioria a refletir uma situação pior, da biodiversidade, à sobre-exploração de recursos naturais, como a água, solos, florestas ou recursos minerais.
O investigador, especialista em alterações climáticas, realçou que as atenções se concentram no desenvolvimento económico global, que se acredita que a evolução tecnológica vai ajudar e que o ambiente, “muitas vezes, é visto como um empecilho”. Para Filipe Duarte Santos, “esta é uma visão errónea”.
“Se não cuidarmos da nossa casa [do planeta], o crescimento económico vai tornar-se mais difícil ou mesmo impossível”, advertiu.
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