“Tomei a decisão de me afastar do partido, mas não da causa ambiental, hei de ser sempre ambientalista”, afirmou Joaquim Sousa em declarações à Lusa, indicando que a decisão foi comunicada na noite de quinta-feira, através de uma carta enviada às estruturas nacionais do partido após a reunião da Comissão Política Nacional.

Na missiva, à qual a Lusa teve acesso, o autarca comunicou que deixa desde hoje de ser porta-voz regional do PAN e também de “fazer parte do PAN”, justificando ser “impossível continuar a trabalhar com uma porta-voz que patrocina golpes nas estruturas locais do PAN, que promove purgas por delito de opinião, que mente sobre os factos que ocorrem de modo a condicionar a ação dos membros dissonantes do partido”.

“Não consigo compactuar com tantas ilegalidades normativas que são cometidas pela porta-voz nacional, que usa e abusa dos estatutos a seu belo prazer para cumprir os seus devaneios e vinganças pessoais, com a agravante do órgão regional ser inútil pois as nossas decisões são ignoradas, os nossos meios foram pirateados pelo seu gabinete, as escolhas são suas e ostensivamente, por sua indicação, a Comissão Política Regional deixou de funcionar”, lê-se na carta.

O dirigente demissionário indicou que tomou esta decisão porque a “situação em si foi drástica” e indicou que não tem “confiança política em Inês de Sousa Real e na sua Comissão Política Permanente”.

“Em consciência, não podia continuar a compactuar com os mandos da doutora Inês de Sousa Real. Prefiro sair, ter a liberdade cívica e política que entendo que devo ter, sem estar preocupado com hierarquias e regulamentos disciplinares de partidos como PAN, em que a porta-voz quer controlar tudo e todos, limitando a liberdade de cada um”, salientou.

Lembrando que pediu na quinta-feira a demissão da porta-voz nacional do partido, Joaquim Sousa sustentou: “Era ou ela ou eu”.

O órgão máximo de direção do partido entre congressos decidiu na quinta-feira à noite suspender o porta-voz regional madeirense com efeitos imediatos e desencadear um inquérito disciplinar por ter colocado ”em causa o bom nome” do partido.

Questionado sobre esta decisão, o dirigente disse não ter sido informado e que teve conhecimento da mesma naquele momento, mas considerou que a decisão “já estava tomada”.

“Eles precisam que eu saia, porque para assinar o acordo com o PSD/Madeira convém que não passem por cima da Comissão Política Regional da Madeira, e foi o que fizeram” alegou, apontando que o partido entrou “numa espiral de ilegalidades”.

O porta-voz demissionário considerou também que “era apenas um empecilho no caminho de Inês de Sousa Real e dos seus amigos”.

Joaquim Sousa referiu que participou numa parte da reunião da Comissão Política Nacional, na qual respondeu a perguntas dos comissários políticos do partido, mas não teve oportunidade de ouvir nem o início nem o final da reunião.

O dirigente demissionário, que se filiou no PAN em 2020, acusou a líder do PAN de “falta de caráter”, de “mentir muito”, e de estar a levar a cabo uma “purga estalinista” que “está a matar o ideário” do partido.

“A política é um espaço de farsa, e Inês de Sousa Real enquadra essa farsa”, criticou.

Sobre as acusações que lhe são feitas, Joaquim Sousa — que chegou a encabeçar a candidatura do PAN às eleições do último domingo, lista que foi depois alterada – indicou que escreveu um texto no qual refere as razões pelas quais não iria votar no PAN.

“Depois do que eu passei, acharem que votaria no PAN é absurdo. Não me sinto minimamente mal por tê-lo escrito”, indicou.

Joaquim Sousa lamentou ainda ter sido afastado de candidato às eleições, considerando que Mónica Freitas passou a cabeça de lista “em circunstâncias totalmente ilegais e anti-estatutárias”.

O PAN elegeu uma deputada nas eleições regionais de domingo – vencidas pela coligação PSD/CDS-PP, sem maioria absoluta – e celebrou um acordo de incidência parlamentar para os próximos quatro anos.