Um autocarro de dois andares a ocupar mais do que uma via. As imagens repetem-se nas redes sociais desde que as obras nas avenidas do Brasil e de Montevideu, na Foz, foram concluídas, em outubro passado. Várias pessoas queixam-se de que a intervenção está a prejudicar o trânsito naquela zona do Porto.

Na página de Facebook “Porto. O lado abandonado da cidade”, que regularmente tece duras críticas à gestão do independente Rui Moreira, são partilhadas várias fotografias que mostram autocarros a invadir a via do lado para circular.

Os autores da página, que se identificam apenas como “pessoas normais”, defendem que “as obras em questão causaram um problema de trânsito e de segurança. A ciclovia devia ter-se mantido no passeio (balizada para evitar acidentes com os peões). E as faixas de rodagem deviam ter ficado como estavam”.

A empreitada nestas avenidas custou 400 mil euros e tirou a ciclovia do passeio para a colocar na estrada. A autarquia justifica a medida com o facto de a faixa para ciclistas ter “um tipo de utilização que foi mudando ao longo do tempo, e atualmente não se coaduna com circulação de peões, por uma questão de segurança”. O município diz mesmo ter “registo de atropelamentos graves de ciclistas a peões” no passeio das avenidas do Brasil e de Montevideu.

Numa resposta por escrito, o grupo do Facebook defende, no entanto, que “a situação atual representa um perigo quer para automobilistas, quer para ciclistas e peões.” “As vias estão muito estreitas e apesar do presidente da câmara ter dito que cabiam dois autocarros lado a lado, a verdade é que não cabem”, afirmam.

Fonte oficial da autarquia reafirma ao SAPO24 que “existe largura suficiente para circularem dois veículos em cada sentido ou para se realizar uma ultrapassagem de um veículo parado.”

Reconhecendo o “estreitamento intencional” das vias, o município explica que a diminuição da largura da faixa foi “precisamente para obrigar à redução da velocidade”. A ultrapassagem é possível, porém, sublinha, — porque “nunca será demais reforçar” —, “todas estas manobras terão necessariamente de se realizar a velocidades mais baixas do que acontece atualmente”.

Do lado da operadora dos autocarros que se veem nas imagens, “as crescentes obras nas cidades são uma realidade e afetam a circulação dos autocarros”. Porém, sublinha a “forte preocupação de diálogo com a STCP para se encontrarem opções de mobilidade eficazes nas linhas, de modo a minimizar estes constrangimentos, em especial para os clientes e operação. É um facto que acontece em todos os concelhos onde operamos”.

Apesar disso, a STCP defende que as “novas modalidades de mobilidade, como sejam as bicicletas”, precisam igualmente de uma “resposta que tem de ser enquadrada nas soluções de compromissos entre todos os modos de mobilidade encontrados nas diferentes cidades”.

“Trata-se de uma responsabilidade das autarquias, com as quais a STCP tem vindo a trabalhar, no sentido de se obter melhorias de circulação e coexistência ‘na estrada’ entre os diversos modos de mobilidade”, diz a empresa numa resposta por escrito.

Também a linha de pequenos pilaretes para separar a ciclovia da via de automóveis está a gerar polémica. Nas primeiras semanas após a abertura das vias, sucederam-se relatos de pneus furados e suspensões afetadas depois de os veículos pisarem a barreira. "Mais de uma dezena de viaturas", afirmam os autores da página, acrescentando que o incidente mais recente ocorreu esta segunda-feira.

Até ao momento, a câmara diz não ter “quaisquer reclamações e não existe registo de qualquer acidente ocorrido até à data nas avenidas em apreço como consequência das alterações efetuadas”. Agora que a componente rodoviária do projeto está concluída, “será devidamente monitorizada como acontece sempre que termina uma empreitada desta natureza”, explica a autarquia. “Se desta monitorização resultar alguma necessidade premente de retificação de algum pormenor, nomeadamente no que respeita a reforço de sinalização, assim faremos”, conclui.

Para os autores da página no Facebook, no entanto, “era desnecessário gastar 400.000€ naquela avenida que estava em boas condições quando temos muitas outras a precisarem de intervenção urgente como é o caso da rua de Gondarém que fica mesmo ali ao lado”.

“A preocupação da autarquia em relação as ciclovias devia ser espelhada na conservação das já existentes, como no caso da ciclovia de Gustave Eiffel junto à ponte D Maria. Desde que foi construída apenas é usada para estacionamento”, criticam.

O executivo camarário sublinha, porém, que “esta obra era essencial”: “o piso das Avenidas Brasil e Montevideu encontrava-se em muito mau estado, tendo já obrigado a uma operação de recurso/emergência em 2018 para tapar as fendas e travar a degradação do betuminoso.”

“A reorganização do espaço é intencional para resolver problemas funcionais e de segurança rodoviária, mas é igualmente uma oportunidade pela necessidade de intervenção na infraestrutura”, defende a autarquia.