A conclusão consta de uma investigação, a que a Lusa teve hoje acesso, que procurou avaliar o impacto da violência na qualidade de vida de 4.467 indivíduos (2.559 mulheres) com idades entre os 60 e os 84 anos, de sete países europeus (Alemanha, Grécia, Itália, Lituânia, Espanha, Suécia e Portugal).
O trabalho, assinado por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e da Mid Sweden University, apresentou como principal conclusão que a exposição a diversos tipos de violência durante a idade adulta afeta negativamente a qualidade de vida dos idosos.
A nível de violência registada por país, verificou-se que Portugal ocupa o lugar de destaque no relato de episódios de violência severa a nível físico e financeiro, estando também acima da média na área da violência psicológica.
De acordo com Joaquim Soares, um dos investigadores do estudo, que tem como primeira autora a investigadora Sílvia Fraga, “diversos estudos mostram que a qualidade de vida é influenciada pela exposição à violência, mas são poucos os que analisaram o seu impacto nos idosos”.
Nesta investigação, “analisamos se a violência era um fator único para a redução de diversos parâmetros de qualidade de vida nesta população, como o nível de autonomia, de participação social, ou de intimidade”, sublinha, em comunicado enviado à Lusa.
Os resultados mostram que quase metade (45,5%) dos participantes refere ter tido pelo menos uma experiência de violência durante a vida adulta. A agressão psicológica é a mais comum (34,5%), seguida da violência financeira (18,5), física (11,5%) e sexual (5%).
No que toca a diferenças em termos de género, verifica-se que as mulheres tendem a reportar mais experiências de violência sexual e financeira (forçadas a abdicar de dinheiro, posses ou património) do que os homens, mas os relatos de agressões psicológicas e físicas estão muito aproximados tanto nas mulheres como nos homens.
Verificou-se que cada tipo de violência pode afetar diferentes parâmetros da qualidade de vida do idoso. Por exemplo, uma maior exposição à violência psicológica ao longo da vida conduz a um aumento de perda de autonomia, à incapacidade de participar em atividades sociais, e à dificuldade de criar intimidade com outras pessoas.
Também a exposição a agressões físicas leva o idoso a ter uma participação menos ativa a nível social.
“Os resultados mostram que, ao contrário do que as pessoas pensam, a violência psicológica talvez seja mais prejudicial do que a física, porque afeta estruturas interiores”, sublinha Joaquim Soares.
Defende, por isso, que “é importante que os decisores políticos, os assistentes sociais e os cuidados de saúde primários olhem com atenção para estes resultados, que realçam a necessidade de detetar precocemente episódios de violência, para evitar consequências negativas na qualidade de vida das pessoas”.
Os dados utilizados no estudo constam do projeto ABUEL, um projeto da União Europeia que visava avaliar a prevalência da violência contra os idosos e as consequências para a saúde em amostras da população com idades compreendidas entre os 60 e os 84 anos, de sete países europeus.
A investigação intitulada “Lifetime abuse and Quality of Life among older persons” foi publicada na Revista “Health & Social Work”.
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