Ao ser conhecida a publicação da Resolução do Ministério de Energia, Turismo e Agenda Digital de Espanha a avançar aquela decisão, "o Encarregado de Negócios da Embaixada de Espanha em Lisboa foi de imediato chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros", segundo este ministério.
Também na tarde de quinta-feira o embaixador de Portugal em Madrid efetuou uma diligência junto do Ministério dos Assuntos Exteriores e Cooperação de Espanha, avança hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em resposta a questões da agência Lusa.
O Governo espanhol deu luz verde à construção do armazém para resíduos nucleares na central de Almaraz, localizada a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa, através de uma resolução da Direção-Geral de Política Energética e Minas do Ministério da Energia.
De acordo com o Boletim Oficial do Estado (BOE), divulgado na quarta-feira, que reporta a resolução de 14 de dezembro de 2016, da Direção-Geral de Política Energética e Minas, "autoriza a execução e montagem da modificação do desenho correspondente ao Armazém Temporário Individualizado da Central Nuclear Almaraz, Unidades I e II".
Nos contactos diplomáticos em Lisboa e em Madrid, "foi manifestada a surpresa do Governo português ante a decisão tomada", refere o Ministério e acrescenta que "foram solicitados esclarecimentos às autoridades espanholas, tendo em conta a carta dirigida pelo senhor ministro do Ambiente à sua homóloga espanhola no início de dezembro".
Nesta carta, o Governo comunicava não terem sido avaliados os impactos transfronteiriços da construção do armazém, conforme previsto pela legislação comunitária sobre a matéria.
Na quinta-feira, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, transmitia à Lusa a sua surpresa com esta decisão de Espanha.
"Temos três princípios muito claros, o primeiro é o da legalidade e ela não foi cumprida", afirmou, referindo-se à diretiva comunitária a exigir a existência de uma avaliação de impactos ambientais transfronteiriços.
"Não deixaremos em situação alguma de recorrer à Comissão Europeia que é quem tem a responsabilidade máxima pelo cumprimento dessas diretivas para deixar claro que isso não foi cumprido", voltou a referir o ministro do Ambiente.
O governante considera ainda que está em causa um princípio de lealdade na relação entre dois povos vizinhos.
João Matos Fernandes recordou que a 01 de dezembro foi enviada uma carta à ministra espanhola que tutela o Ambiente para a apreciação da informação enviada a Portugal que, "não sendo completa, deixa claro que não foram avaliados os impactos transfronteiriços".
O ministro disponibilizava-se para que uma reunião se realizasse rapidamente, tendo ficada agendada para 12 de janeiro, e solicitava que "não houvesse uma decisão formal sobre a possibilidade de construção do aterro para resíduos nucleares".
A construção de um armazém para resíduos nucleares pode indiciar que a central de Almaraz vai prolongar a sua atividade, apesar dos problemas que tem tido nos últimos tempos.
Esta possibilidade tem levado a vários alertas de organizações ambientalistas portuguesas e espanholas, mas também das populações e de alguns partidos que na Assembleia da República têm questionado o Governo sobre o assunto.
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