Durante a conferência de imprensa, o secretário de Estado da Saúde vincou hoje, a um dia de o país entrar numa nova fase de desconfinamento, que o medo da covid-19 "não deve paralisar" os portugueses, mas sim torná-los os cidadãos "mais atentos e vigilantes".
Portugal, lembrou António Lacerda Sales, entra na segunda-feira numa nova fase de desconfinamento "onde a responsabilidade dos portugueses é tão determinante como tem sido até aqui".
"O medo não nos deve paralisar mas sim tornar mais atentos e vigilantes na nossa missão coletiva: zelar pela nossa saúde e pela de quem nos rodeia", disse o governante na conferência de imprensa diária de atualização dos dados da covid-19.
Lacerda Sales indicou ainda que o projeto piloto de sequenciação do novo coronavírus já "analisou, até à data, 433 sequências do genoma do Sars-CoV-2, obtida de amostras colhidas em 44 laboratórios".
O estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, "é muito importante para identificar de cadeias de transmissão, avaliar o eficiência das medidas de contenção, determinar perfis mutacionais da covid-19 e aferir a resistência de determinadas linhagens do vírus a certos fármacos”, disse o secretário de Estado da Saúde.
O que nos diz o boletim da DGS deste domingo?
Portugal regista hoje 1.218 mortes relacionadas com a covid-19, mais 15 do que no sábado, e 29.036 infetados, mais 226, segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção Geral da Saúde.
Em comparação com os dados de sábado, em que se registavam 1.203 mortos, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 1,2%. A taxa de letalidade situa-se nos 4,2%.
Relativamente ao número de casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus (29.036), os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) revelam que há mais 226 casos do que na sexta-feira (28.810), representando uma subida de 0,77%.
O número de recuperados aumentou de 3822 para 4636, representando mais 814 casos. Depois de ontem ser sido batido o recorde de recuperações, 494, hoje volta a ser registado o maior número de sempre, representando 16% do total dos casos.
Segundo o boletim hoje divulgado, há ainda 2704 casos a aguardar resultado laboratorial e 25.640 casos em contacto de vigilância.
Registam-se atualmente 649 casos de pessoas internadas, 108 nos cuidados intensivos. Tratam-se de menos 8 internados e menos 7 internados na UCI.
A região Norte é a que regista o maior número de mortos (693), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (273), do Centro (221), do Algarve (15), dos Açores (15) e do Alentejo, que regista um caso, adianta o relatório da situação epidemiológica, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.
Caso das máscaras com certificado inválido: não foram entregues nem pagas, para já
Reagindo a uma notícia do jornal Público quanto à compra por parte da DGS de três milhões de respiradores FFP2 com um certificado inválido ou falso — das quais, apenas 1640 chegaram até agora a Portugal —, Lacerda Sales garantiu que "essas máscaras não foram distribuídas e que o pagamento não será efetuado enquanto não houver um cabal esclarecimento da situação”.
O secretário de Estado da Saúde indicou também que os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, “enquanto central de compras, já solicitou esclarecimentos sobre esta matéria", lembrando que as "máscaras devem ser adquiridas com as respetivas normas preconizadas quer pelo Infarmed, quer pela DGS, quer pelo IPQ (Instituto Português de Qualidade)".
Esta "matéria deve ser objeto de clarificação e esperamos que no início da semana que se vai iniciar, possa haver um esclarecimento mais consistente”, apontou Lacerda Sales.
Em causa está um contrato firmado por ajuste direto entre a DGS e a Quilaban, empresa detida por João Cordeiro, ex-presidente da Associação Nacional de Farmácias. A compra, efetuada a 7 de abril, teve um custo de 8,5 milhões de euros, incluindo ainda a aquisição de um milhão de máscaras cirúrgicas, mas o problema é que a entidade que certificou estes equipamentos já anulou esse processo.
"Não está provado" que limpar grandes superfícies com desinfetante "seja eficaz"
A utilização de produtos específicos para eliminar o vírus de grandes superfícies, como ruas, não é recomendada porque não é eficaz e tem efeitos negativos na saúde das pessoas e ambiente, disse hoje a diretora-geral da Saúde.
“Não está provado que seja eficaz utilizar desinfetantes em grandes superfícies, como ruas, mas pelo contrário não terá grande eficácia sob o vírus. Aliás, numa grande superfície, como estradas, ruas ou passeios, a probabilidade de lá existir este tipo de vírus é pequena, dado o tipo de transmissão que, teria, de passar de uma pessoa infetada para o solo”, afirmou Graça Freitas, na conferência de imprensa relativa à pandemia da covid-19.
E, como alguns produtos que são utilizados podem ter efeitos negativos não só no ambiente, mas na saúde das pessoas, a DGS não recomenda a sua utilização, vincou.
Contudo, algo diferente, frisou, são as medidas de limpezas habituais das câmaras com os métodos habituais.
“Contra a higienização da via pública não temos nada contra”, realçou.
Além disso, Graça Freitas explicou que a desinfeção de superfícies, como mesas, armários ou equipamentos, onde o vírus possa existir em grandes quantidades é indicada e não tem efeitos contraindicados.
Pulverizar ou fumigar desinfetante nas ruas, como alguns países estão a fazer para combater a pandemia de covid-19, não elimina o vírus e coloca riscos sanitários, advertiu a Organização Mundial de Saúde (OMS), no sábado.
"A pulverização ou fumigação de espaços exteriores, como ruas ou mercados, não é recomendada para destruir o novo coronavírus ou outros agentes patogénicos porque é inativada pela sujidade", explica a OMS num documento sobre a limpeza e desinfeção das superfícies no quadro do combate à pandemia.
A OMS acrescenta que "mesmo em caso de ausência de matérias orgânicas, é pouco provável que a pulverização química cubra corretamente todas as superfícies durante o tempo de contacto necessário para inativar os agentes patogénicos".
"É melhor estarmos preparado para que este vírus se venha a tornar habitual nas nossas vidas"
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, considerou hoje ser melhor que os cidadãos se preparem para que o novo coronavírus não desapareça por si mesmo e, ao invés, se torne habitual nas vidas das pessoas.
"É melhor estarmos preparados para que este vírus se venha a tornar habitual nas nossas vidas", considerou hoje Graça Freitas, falando na conferência de imprensa.
Com o passar do tempo, "quer exista vacina quer não", é expectável que "os seres humanos ganhem imunidade e o vírus se torne menos agressivo", reconheceu todavia a responsável.
"Se tivermos vacina, melhor. Se não, teremos de conviver com o vírus até termos imunidade natural", concretizou a diretora-geral da Saúde.
DGS vai emitir duas novas orientações sobre grávidas e recém-nascidos
A diretora-geral da Saúde adiantou hoje que “nas próximas 24 ou 48 horas” vão ser emitidas duas novas orientações relativamente ao acompanhamento de grávidas e recém-nascidos, depois de uma consensualização entre as especialidades de obstetrícia e neonatologia.
“Provavelmente, nas próximas 24 ou 48 horas sairão duas novas orientações porque separamos os procedimentos das grávidas, seguidas em obstetrícia, e os procedimentos do recém-nascido, acompanhados pela neonatologia”, afirmou.
Graça Freitas afirmou que houve “nuances” que foi preciso consensualizar entre obstetrícia e neonatologia porque, exemplificou, pode acontecer uma grávida ter testado positivo à covid-19 e o recém-nascido não, logo a mãe tem de ficar internada e o bebé não.
Pegando nesta caso, a diretora-geral disse que, depois, é necessário estabelecer o seguimento a dar à criança, que tipo de testes deve fazer e com que periodicidade, daí a criação de novas orientações.
Já sobre a possibilidade de o acompanhante da mulher poder ou não assistir ao parto, Graça Freitas vincou que a “última decisão” será sempre da equipa médica.
A maior parte dos hospitais portugueses que considera ter condições para que o acompanhante assista está a permitir, os restantes não, reforçou.
Ainda sobre esta temática, e relativamente à retoma das consultas de fertilidade, a diretora-geral salientou que essas serão feitas dentro dos termos da retoma das atividades das unidades de saúde.
Novo coronavírus SARS-CoV-2
A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.
A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).
Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.
Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.
A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.
Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.
Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.
Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.
Onde posso consultar informação oficial?
A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.
- https://covid19.min-saude.pt
- https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal
- https://www.dgs.pt/em-destaque.aspx
Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.
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