“O Governo português, naturalmente, vê sempre com bons olhos que procuremos falar da paz e todas as iniciativas nesse sentido, naturalmente, são importantes”, explicou esta quarta-feira Helena Carreiras ao ser questionada sobre a ideia do Brasil de reunir um grupo de países para mediar um acordo de paz na guerra provocada pela invasão russa à Ucrânia.
“Relativamente à Ucrânia o que temos dito, e é público, e é muito claro da nossa parte, é que há uma situação que opõe um invasor e um país que foi invadido e agredido e que, portanto, é fundamental concentrarmos a nossa atenção na criação das condições que, justamente, permitam que se chegue a uma paz justa. Ajudar a Ucrânia a defender-se é parte importante desse processo de abrir caminho para a diplomacia”, acrescentou em declarações à Lusa durante uma visita ao Brasil.
Salientando o que Portugal considera ser uma paz justa, Helena Carreiras lembrou que a invasão ao território da Ucrânia foi uma decisão unilateral: “É a Rússia quem tem que tem que parar as hostilidades. Tem que sair da Ucrânia. Não há forma de começar a pensar na paz se o invasor continuar a escalar o conflito. Eu diria que escalar é invadir, é bombardear, é agredir. E, portanto, essa é uma condição fundamental. Não há como pensar de outra maneira.”
“Isto é fundamental, a paz tem que ser justa, tem que ser sustentável e, portanto, o reconhecimento de que há, de facto, um agressor e um agredido é parte importante deste processo de construir as condições para pensar em paz”, defendeu a ministra da Defesa.
Questionada se a disposição do Governo brasileiro de negociar um acordo de paz, levando em conta pontos polémicos como a hipótese de a Ucrânia ceder territórios à Rússia poderia prejudicar a relação com Portugal, que é membro da NATO e apoia os ucranianos, a ministra preferiu salientar pontos de convergência e não de divergência com o país sul-americano.
“Sobre esta questão eu gostaria de dizer o seguinte: Portugal e o Brasil partilham de vários princípios importantes. Por um lado, a ideia de que os conflitos devem ser resolvidos de forma pacífica. Por outro lado, o respeito pelos princípios da carta das Nações Unidas e o respeito pela soberania e pela integridade territorial”, afirmou.
“Há a necessidade de que aqui, nesta guerra [da Ucrânia], neste conflito em particular, de se procurar uma paz justa. Creio que são aspetos muito importantes que o Brasil tem sublinhado e noto com muito agrado que o Brasil é o único dos BRICS [bloco formado pelo Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul] que votou favoravelmente nas Nações Unidas a condenação da invasão da Rússia (…) Tudo isso são coisas que nos unem, que nos aproximam e creio que é neste terreno de grande comunhão, de princípios e valores que temos que trabalhar e queremos seguramente continuar a trabalhar”, completou.
A ministra da Defesa iniciou uma agenda oficial no Brasil na última terça-feira, visitando a LAAD Defence & Security 2023 - Feira Internacional de Defesa e Segurança, organizada no Rio de Janeiro.
Na quarta-feira, Helena Carreiras visitou uma fábrica da Embraer localizada em Gavião Peixoto, no interior do estado de São Paulo, para conhecer a fábrica do avião militar KC-390 Millennium, desenvolvido numa cooperação que também envolve a empresa portuguesa OGMA e o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA).
A representante do Governo português encerrará a viagem após participar de um encontro com o ministro da Defesa brasileiro, José Múcio Monteiro, agendado para hoje.
À Lusa, Helena Carreiras considerou que a conversa com Múcio Monteiro deve abordar o conflito na Ucrânia e a próxima cimeira Brasil-Portugal, a realizar entre 22 e 25 de abril em Lisboa, mas também outros temas.
“Falaremos, provavelmente, da cimeira e também da guerra da Ucrânia, mas falaremos sobretudo dos projetos comuns, da cooperação que temos, de formas de promover, ampliar e desenvolver essa cooperação nos planos da economia e da defesa”, disse a ministra.
“Há um sem número de áreas em que podemos cooperar (…) Portanto, suponho, que a minha conversa [com o ministro da Defesa do Brasil] será centrada no desenvolvimento desta nossa parceria [porque] há muitas outras áreas de interesse comum”, concluiu.
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