Nos últimos dias, todas as manhãs e ao final da tarde, o português está junto à entrada do metro Paul Vaillant-Couturier, em Villejuif, perto de Paris, para distribuir o programa do candidato do movimento Em Marcha!, ao qual se juntou há um ano, e também para entregar panfletos com uma lista comparativa entre as promessas de Emmanuel Macron e as de Marine Le Pen.
"O combate é até ao fim com a extrema-direita e o Front National à porta. Temos que redobrar as nossas campanhas, iniciativas e ações à saída do metro. O que é preciso é convencer os indecisos, principalmente os do Mélenchon que ainda podem estar a hesitar", explicou à Lusa, sublinhando que "há que fazer tudo" para evitar a vitória de Marine Le Pen, que seria "uma catástrofe para a França em geral".
De acordo com Paulo Nunes, que é um dos responsáveis da campanha Em Marcha! na cidade de Villejuif, "convencer os indecisos" é a palavra de ordem a quatro dias da segunda volta porque "por vezes uma palavra pode chegar" mesmo que seja "preciso dar 100 panfletos para convencer uma pessoa".
"É por isso que a gente se levanta muito cedo para tentar convencer porque temos que ir buscar os votos um a um. Apesar de haver uma vantagem folgada nas sondagens, temos mesmo medo da abstenção porque quanto mais abstenção, mais riscos há que ela [Marine Le Pen] chegue ao poder", afirmou.
O engenheiro ferroviário de 40 anos, que veio para França com apenas seis meses, não pode votar por apenas ter nacionalidade portuguesa - ainda que esteja há três anos à espera da resposta para obter também a nacionalidade francesa - e envolveu-se na campanha porque é a sua "forma de participar na luta".
"Foi todos os dias a distribuir panfletos, a colar cartazes porque muitas vezes são rasgados, seja por militantes da Le Pen, antifascistas ou por pessoas que queriam o Mélenchon. À noite é colar cartazes, de manhã e à tarde nas saídas do metro, no mercado", contou o também conselheiro municipal na Câmara de Villejuif que nas últimas semanas transportou cerca de 5.800 panfletos na mala do carro assim como cartazes de Emmanuel Macron.
O trabalho de voluntariado para a campanha tem completado o seu tempo livre, mas a agenda tem funcionado graças a um "patrão que não chateia muito", a uma "esposa que ajuda", a uma "mãe que guarda os meninos", ou seja, uma família que "partilha o dever": "É complicado, mas é uma forma de militantismo que partilhamos em casa".
Horas depois do debate televisivo entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, visto por cerca de 15 milhões de franceses, os habitantes passavam a correr para ir para o metro e vários estendiam a mão aos panfletos distribuídos por Paulo Nunes, como Marco Martins, jornalista português.
"Como muita gente, acho que fiquei muito dececionado pelo debate porque não foi um debate de ideias, foram ataques atrás de ataques (…) Foi quase um jogo sujo da parte dos dois iniciado, para mim, pela Marine Le Pen, mas pouco importa porque, no fundo, os franceses não aprenderam quase nada", afirmou, considerando que os apoiantes de ambos os candidatos "ficaram confortados na linha deles".
Paulo Nunes também considerou o debate "pobre" porque "Marine Le Pen fez tudo para estragar o debate, estava na ofensiva com mentiras e calúnias", acreditando, ainda assim, que possa "mover alguns abstencionistas" em favor de Macron no próximo domingo.
"Não gosto de abrir o champanhe antes da vitória. Penso que [Emmanuel Macron] vai vencer (…) Seria bom ter um resultado entre 60 a 65%, mas tenho um pouco de medo por causa da abstenção. Seria bom que ele chegasse pelo menos aos 60 para dar um sinal forte para as legislativas e para o mundo", concluiu.
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