Fluente em cinco línguas - finlandês, sueco, alemão, inglês e francês, estas três últimas línguas oficiais de trabalho do executivo comunitário -, dono de um brilhante currículo académico e de um ainda mais impactante percurso em termos políticos, o finlandês de 50 anos tinha tudo, até o carisma, para assumir o mais importante cargo político europeu.
No entanto, poderá ser precisamente a sua nacionalidade a impedi-lo de ser o candidato da maior família política europeia à presidência da Comissão Europeia. “Ser finlandês constitui um handicap (uma desvantagem), porque a Finlândia assumiu posições muito duras [inclusive com Portugal] durante a crise”, apontou uma fonte partidária, avançando que o antigo ex-primeiro ministro finlandês usou como justificação para as mesmas a necessidade de manter a coligação governamental no seu país.
Ciente que nesta corrida é ele o outsider, Stubb assumiu o percurso para chegar à presidência da Comissão Europeia como um triatlo, um desporto que conjuga três exigentes modalidades (natação, ciclismo e atletismo) e que pratica na sua vertente mais desafiante, o Ironman (homem de ferro, em tradução literal), sendo a fase decisória do congresso de Helsínquia “o percurso de natação”.
“Em termos de apoio, oficialmente os que há são escassos. Há muita gente que vai numa linha oficial, mas haverá votos fora do sentido de voto dos seus partidos. Há quase uma inércia, os apoios sucedessem quase por contágio, por efeito rebanho”, analisou a fonte partidária, referindo-se ao favoritismo do conservador alemão Manfred Weber, o candidato endossado pela chanceler alemã, Angela Merkel.
Apesar de não reunir os apoios do seu rival, o Doutorado em relações internacionais há muito que é (re)conhecido nos corredores de Bruxelas: trabalhou como especialista na representação permanente da Finlândia na União Europeia, como conselheiro do presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, e esteve nas equipas que negociaram os acordos de Amesterdão e de Nice, antes de ser eleito eurodeputado, em 2004.
Quatro anos bastaram para trocar a capital belga pelo seu país, ao ser chamado para assumir a pasta de ministro dos Negócios Estrangeiros (2008-2011). Seria esta a primeira das missões executivas que desempenhou no governo finlandês, que chegou a liderar entre junho de 2014 e maio de 2015, já depois de ser ministro dos Assuntos Europeus e Comércio (2011-2014) e antes de tutelar as Finanças.
Em 2016, uma série de gafes no Twitter – é um dos maiores adeptos desta (e de outras) rede social entre os políticos europeus – impediram a sua reeleição como líder do Partido de Coligação Nacional.
O adeus à política parecia um dado adquirido, sobretudo quando, um ano depois, assumiu a vice-presidência do Banco Europeu de Investimento - pediu licença sem vencimento para poder dedicar-se à campanha -, mas o chamamento europeu ecoou mais alto no momento em que o seu mentor, o atual vice-presidente do executivo comunitário Jyrki Katainen, anunciou que não iria concorrer à presidência da Comissão.
Nascido em Helsínquia, filho de pai sueco e mãe finlandesa, o “liberal” ou “liberal moderado”, que alicerça o seu projeto europeu na defesa do Estado de Direito e dos valores fundamentais, é também professor convidado no College of Europe, autor de 16 livros, dezenas de artigos académicos, e de centenas de colunas de opinião – em 2016, iniciou uma colaboração ativa com o Financial Times -, além de um leitor ávido, preferencialmente de Albert Camus, Väinö Linna, Kjell Westö, Arto Paasilinna, John Steinbeck e Ilkka Remes.
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