Jorge Manuel Fraga de Mendonça nasceu em Riachos, Torres Novas, em 24 de abril de 1953, e frequentou a Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional, em Lisboa.
Encenador, ator e professor, Fraga foi um dos fundadores da companhia A Centelha e da Companhia de Teatro de Viseu, cidade à qual chegou em 1976 e à qual ficou para sempre ligado, dando aulas na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico.
“Em Viseu, Jorge Fraga e os seus companheiros de aventura enfrentaram e afrontaram um conservadorismo caduco, sendo rotulados com os nomes de fármacos políticos que eram proibidos na dieta dos saudosistas. Foi o primeiro grupo profissional do distrito de Viseu. Uma pedrada no charco pela ousadia do teatro que apresentavam, quebrando modelos tradicionalistas e revolucionando esteticamente pela postura perante os poderes instituídos”, recorda uma biografia publicada em Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT), da qual Fraga foi “militante afetivo”.
No mesmo texto, a ACERT-Trigo Limpo frisa: “A sua atividade docente na área teatral permitiu que o ensino artístico fizesse parte, desde cedo, de uma alternativa para alunos de cursos superiores. Mas não se julgue que Jorge Fraga estacionou o seu frenesi permanente pelo teatro quando deixou de fazer parte de ‘grupos formais’. Sempre a saltitar por muitas cidades e projetos, junta pessoas para dar formação e deixa cordões umbili-teatrais que, muitas vezes, criam núcleos com quem cria espetáculos”.
“Por Viseu, tem sido um permanente bicho-carpinteiro, irrequieto e irreverente”, acrescentou a companhia.
Nas redes sociais têm-se sucedido comentários a lamentar a morte de Jorge Fraga quer de companhias quer de personalidades ligadas ao teatro.
“É inegável o poder criativo e artístico transformador com que o encenador Fraga chegou a Viseu, quando o panorama cultural da cidade era ainda bastante desfavorável e insípido”, escreveu o Teatro Viriato na rede social Instagram.
No “deserto cultural que se vivia, Fraga ´acendeu´ a Centelha, na altura a sua companhia artística, e fez acontecer, impulsionou outros a fazerem acontecer e esteve sempre ao lado de todos os que quiseram tornar este mundo mais belo através do Teatro. Por isso tantos o reconhecem como: O Mestre”, acrescenta aquele teatro de Viseu onde o encenador também apresentou trabalhos.
“A história do Teatro Viriato seria bem diferente se não tivesse estado presente desde sempre, com esse seu poder transformador”, acrescenta o teatro, sublinhando que “neste momento de despedida, em que as palavras são sempre escassas, fica o agradecimento comovido de toda a equipa do Teatro Viriato ao Mestre e ao Amigo”.
Também a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, lamentou a morte de Jorge Fraga, lembrando a “ação pioneira” do encenador em projetos de descentralização territorial, como a criação de A Centelha.
“Versátil, exigente e irreverente, trabalhou, ao longo dos anos, a relação entre o ensino artístico, enquanto docente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu, e as diversas comunidades, com especial destaque para a Academia”, escreveu a governante, lamentando a morte do encenador e expressando condolências aos seus familiares, amigos e admiradores.
“Martírio e paixão” e “Romaria dos agravados”, estreado em 20 de junho nos claustros do Museu Grão Vasco, em Viseu, e “Martírio e Paixão”, em cena entre 02 e 11 de agosto na Feira Medieval de Santa Maria da Feira, que Jorge Fraga encenara a convite da organização, foram os últimos trabalhos que realizou.
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