O governador da província de Terra do Fogo, Antártida e Ilhas do Atlântico Sul, Gustavo Melella, disse também que considera a visita uma "provocação", num texto publicado na rede social X.
"Nenhum representante colonial de um Estado que atenta contra a nossa integridade territorial manchando a memória e o sacrifício eterno dos nossos Heróis das Malvinas será bem-vindo na nossa província", escreveu Melella, opositor ao governo do presidente Javier Milei. O governador declarou Cameron "'persona non grata' em toda a extensão territorial" da sua província, a mais a sul da Argentina, que inclui as Malvinas.
Pouco mais de um mês após reunir-se com Milei no Fórum Económico Mundial, em Davos, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico pousou na base aérea de Mount Pleasant, no arquipélago administrado pelo Reino Unido, que travou com a Argentina uma guerra pela sua soberania em 1982.
Durante a sua visita, Cameron disse esperar que as ilhas queiram seguir sob a administração do Reino Unido "por muito tempo, possivelmente para sempre", segundo a agência Press Association (PA).
O governo de Milei não se pronunciou sobre a visita de Cameron. "Trata-se de uma provocação nova e inadmissível, que não acontecia há 30 anos e que tem que ser rejeitada pelo governo nacional", disse em Buenos Aires o deputado opositor Santiago Cafiero, ministro no governo anterior.
Ao anunciar a viagem, o Foreign Office, Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, informou ontem que Cameron iria reiterar na sua visita "o compromisso do Reino Unido em defender o direito das ilhas à autodeterminação".
As Malvinas "são uma parte valiosa da família britânica e temos claro que, enquanto quiserem continuar parte dela, o tema da soberania não estará em discussão", afirmou o ministro, citado num comunicado divulgado pela pasta neste domingo.
O encontro entre Milei e Cameron em Davos, em 17 de janeiro, foi descrito pelo presidente argentino como "excelente". Durante a campanha eleitoral, Milei tinha dito: "Tivemos uma guerra que perdemos e temos de fazer todos os esforços para recuperar as ilhas através dos canais diplomáticos".
Por sua vez, na ocasião do encontro, o ministério britânico afirmou que o encontro foi uma "reunião calorosa e cordial", acrescentando que, sobre a questão das Malvinas, "concordariam em discordar e fá-lo-iam com educação".
Após aterrar, Cameron foi levado de helicóptero a alguns dos principais locais das batalhas da guerra de 1982. Depois, o ministro visitou em Goose Green um museu da guerra, montado num prédio onde alguns moradores da ilha foram retidos durante o conflito. "Obrigado por manterem esta memória viva", escreveu no livro de visitantes.
Segundo a agência britânica Press Association (PA), longe das câmeras, Cameron visitou, "como demonstração de respeito", o cemitério militar argentino onde estão os restos mortais de cerca de 230 argentinos mortos no conflito.
O ministro depositou depois uma coroa de flores no Monumento à Libertação na capital das ilhas, Stanley para os britânicos e Puerto Argentino para os argentinos.
O arquipélago, localizado a 400 km da costa argentina e a quase 13.000 km do Reino Unido, foi palco de uma guerra de 74 dias em 1982, que resultou na morte de 649 argentinos e 255 britânicos.
Em 2013, num referendo neste território com apenas 2.000 habitantes, 99,8% dos eleitores votaram a favor de permanecer sob soberania britânica.
A visita de Cameron é a primeira de um ministro dos Negócios Estrangeiros britânico ao arquipélago em 30 anos, desde a viagem de Douglas Hurd em 1994. O último membro do governo do Reino Unido a visitar o território tinha sido o então secretário da Defesa, Michael Fallon, em 2016.
Em 2022, a princesa Anne visitou as ilhas para comemorar o 40.º aniversário da vitória britânica na Guerra das Malvinas.
A Argentina defende que as ilhas, ocupadas pelo Reino Unido em 1833, fazem parte do seu território desde a sua independência em 1816 da coroa espanhola.
Cameron seguirá viagem para o Paraguai, aonde chegará esta terça-feira, e, depois, participará na reunião de ministros do G20 programada para quarta e quinta-feira no Brasil. Por fim, seguirá para Nova Iorque, onde visitará a sede da ONU, coincidindo com o segundo aniversário da invasão russa à Ucrânia.
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