Quando todos os dias se liga o fogão a gás para cozinhar, as chamas azuis emitem poluentes nocivos, e também gases que aquecem o planeta. Com o objetivo de perceber qual a extensão da poluição e como é que navega pelas divisões das casas das pessoas, um grupo de cientistas de Stanford iniciou uma excursão a um conjunto de casas em Nova Iorque.

De acordo com o The New York Times, esta excursão faz parte de um estudo de 10 cidades. Mostra não só a concentração destas substâncias no ar, como a sua rápida derivação para outras divisões da casa, por vezes longe do fogão.

A equipa de Standford já testou fogões em cidades como São Francisco, Denver, Houston e Melbourne, e também planeia testar na Europa. Na Ásia, que também faz parte da rota prevista, esperam encontrar espaços de convivência ainda mais pequenos, o que pode significar uma concentração e exposição a poluentes ainda maior. Acreditando que é um problema global, a equipa diz que só resta perceber quão grave é.

Os profissionais começam por ligar os seus equipamentos para recolher amostras de ar, e depois ligam o gás no máximo para perceber quão grande é a mudança. Numa das casas que analisaram, em Nova Iorque, essa mudança foi rapidamente detetada, com um aumento das concentrações de substâncias que podem afetar o sistema respiratório, agravar os sintomas de doenças respiratórias e contribuir para a asma.

Rob Jackson, professor na Stanford Doerr School e líder da equipa, explicou que o facto de as pessoas em Nova Iorque tenderem a trabalhar, relaxar e dormir nas suas casas, muito mais perto do fogão a gás do que num ambiente suburbano, é uma caraterística importante. A sua maior surpresa foi não só quão altas as concentrações dos poluentes ficam, mas também a rapidez com que se espalham pela casa.

Já num apartamento onde a equipa tentou recriar o cenário de um grande jantar de família, perceberam que, em apenas 40 minutos, os níveis de substâncias nocivas ultrapassaram o dobro na sala, o triplo no quarto, e o quádruplo na cozinha, dos limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, sigla em inglês) para exposições no período de uma hora.

Ao todo, a equipa realizou testes em oito apartamentos de Nova Iorque, durante dias inteiros, e ficou particularmente intrigada com a pecularidade de algumas casas que tinham janelas fechadas com plástico, por uma questão de isolamento - mas que também se traduz em pouca ventilação.

Alguns dos passos simples para reduzir o perigo que foram identificados passam por abrir as janelas ou comprar um purificador de ar.

A preocupação com os efeitos dos fogões a gás para a saúde das pessoas, e para o clima, levaram a que algumas cidades e estados eliminassem gradualmente ligações de gás natural em edifícios novos, e que se fortalecessem alguns padrões de eficiência.

Também em Portugal ocorreu uma discussão sobre os gases dos fogões prejudicarem a saúde, sendo que, de acordo com o relatório "Expondo os impactos desconhecidos na saúde de cozinhar com gás", divulgado em janeiro, estes são responsáveis por quase 10 mil casos de asma entre crianças portuguesas.

Segundo dados divulgados no relatório, os fogões a gás violam várias vezes por semana as normas de poluição atmosférica da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da União Europeia (UE). Os números de crianças com asma devido ao gás de cozinha é ainda assim muito menor do que em países como Espanha, França ou Itália, que têm uma percentagem muito maior de famílias a cozinhar com gás.

Os autores do documento acusaram ainda a UE de não estar a usar os poderes legais existentes para proibir os fogões a gás ou pelo menos avisar os consumidores sobre os riscos para a saúde, com rótulos nesse sentido.

Da autoria da CLASP, uma organização internacional, que promove a eficiência energética desde 1999, e da Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA), uma aliança de quase uma centena de organizações europeias, o relatório especifica que cozinhar a gás numa cozinha típica dos países do sul da Europa, sem ventilação mecânica, causa poluição por dióxido de azoto (NO2) no interior das casas numa proporção que excede várias vezes por semana as diretrizes da qualidade do ar da OMS e as normas de poluição atmosférica da UE.

Testes feitos pela TNO, uma organização dos Países Baixos para a Investigação Científica Aplicada, que contribuiu para o estudo, mostraram que os fogões a gás produzem também monóxido de carbono, partículas, e outros poluentes que podem causar efeitos graves na saúde, especialmente de crianças.

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pelo jornalista Gonçalo Lopes

*Com Lusa

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