Como escreve o The Guardian, o homem que encontrou a cassete é Gary Dennis, um assistente num lar de idosos. Ele e a sua advogada, Gloria Allred, entregaram a cassete às autoridades norte-americanas.

Numa conferência de imprensa organizada ontem à tarde em Nova Iorque, Allred recusou-se a discutir os conteúdos da cassete em detalhe. No entanto, a advogada admitiu que não tinha "100% certeza" de que o homem que surge nas imagens é R. Kelly e que, se for, deverá ser referente a um incidente diferente àqueles que levaram o cantor a ser acusado de 10 crimes de abuso sexual agravado.

Dennis explicou que estava a limpar uma caixa com cassetes VHS antigas em sua casa quando encontrou estas imagens. O assistente disse que não conhece R. Kelly e não sabe como é que a cassete veio parar à sua posse, adiantando que o exemplar em questão também tem um evento desportivo gravado e que provavelmente ter-lhe-á sido cedido por um amigo.

O enfermeiro disse que, para seu "choque e surpresa", o cantor parecia estar a "abusar sexualmente raparigas menores afro-americanas" em vez de estar a cantar ao vivo, pelo que se disse "enojado e horrorizado" quando viu as imagens. Allred disse assumir que as raparigas que surgem no vídeo são menores porque não pareciam estar desenvolvidas à altura da captação.

Steve Greenberg, o advogado de R. Kelly, apontou para a falta de certezas dos seus acusadores, dizendo que "não é ele" e passou ao ataque, lembrando que a questão é "o que é que estas pessoas estão a fazer ao possuir aquilo que obviamente acreditam ser pornografia infantil e o que é que as autoridades vão fazer quanto a isso?"

Greenberg voltou a lembrar que o seu cliente "nega estar em qualquer vídeo com raparigas menores de idade" e disse estar-se em "época de caça" quanto a R. Kelly, referindo-se às múltiplas acusações que visam o cantor.

R. Kelly foi detido, no passado dia 22 de fevereiro e foi formalmente acusado de dez crimes de abusos sexuais. A procuradora Kim Foxx, do condado de Cook (Chicago), revelou que o músico é acusado de abusos sexuais a quatro mulheres, três das quais menores, e que os crimes foram cometidos pelo menos desde 1998.

O cantor compareceu no dia 25 de fevereiro peranteum tribunal de Chicago, depois de passar três noites na prisão. Na audiência, Greenberg conseguiu um acordo para que este pagasse uma fiança e saísse em liberdade.  A fiança do cantor estava fixada num milhão de dólares - aproximadamente 882 mil euros. O músico aguarda, agora, em liberdade a próxima audiência, marcada para o dia 22 de março.

Robert Kelly, de 52 anos, negou sempre as acusações de abusos sexuais, mas o caso voltou a ser noticiado em janeiro depois de as autoridades terem investigado novas suspeitas de crime, na sequência de uma série documental exibida no canal televisivo Lifetime.

Em 2002 foi divulgado um vídeo em que o músico aparecia a ter relações sexuais com uma menor, tendo sido absolvido em 2008 num caso em que era também acusado de pornografia infantil.

Mais recentemente, na primeira entrevista televisiva desde que saiu em liberdade, o cantor norte-americano insistiu que não era culpado dos crimes de que é acusado. No programa "CBS This Morning", em lágrimas, o cantor de R&B e hip-hop classificou as alegações como "estúpidas", "não verdadeiras", "injustas" e "absurdas". "Eu não fiz isso, não sou eu, estou a lutar pela minha vida", afirmou, com a voz embargada à jornalista Gayle King.

Na entrevista, marcada por um registo tenso, o artista apelou ainda aos espectadores para analisarem o seu passado e enfatizou que já tinha sido absolvido no caso de 2008.

Depois desta aparição televisiva, R. Kelly voltou a ser detido na passada quarta-feira, 6 de março, por não pagar a pensão de alimentos à ex-mulher, num valor acumulado de 161 mil dólares. O cantor foi solto no sábado.

Músico premiado com três Grammy, R. Kelly começou a carreira na década de 1990 com o álbum a solo "12 Play" e escreveu temas para artistas como Lady Gaga, Celine Dion e Michael Jackson. "I believe I can fly" é um dos temas de sucesso do músico.

Aos 27 anos, R. Kelly terá casado com a então adolescente cantora Aaliyah, de 15 anos, mas ambos não confirmaram o casamento.  A cantora e atriz faleceu num acidente aéreo.

O acumular de acusações começou a ter repercussões profissionais para o músico. A plataforma de streaming de música Spotify optou por retirar R.Kelly das suas playlists no ano passado, mas voltou atrás na sua decisão depois de vários artistas, como Kendrick Lamar, ameaçarem boicotar o serviço por considerarem a iniciativa uma forma de censura. No entanto, o crescer da contestação pública ao cantor foi uma das razões para a empresa sueca estrear o botão de "mute" na plataforma, que permite aos utilizadores ocultar as músicas de um determinado artista.

No entanto, com o lançamento do documentário neste ano, vários artistas começaram a distanciar-se e a renegar trabalhos que tiveram com o cantor, como Lady Gaga, que pediu para remover a canção "Do What U Want", assinada com ele, de todas as plataformas de streaming. Outra consequência para R.Kelly foi o facto da editora Sony Music ter rescindido o contrato que tinha o cantor.

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