O que vem a seguir? A pergunta, no início de março, parecia ter uma resposta tão óbvia quanto única: a velha amiga normalidade. Houve um momento em que pareceu que tudo isto ia ser um esforço coletivo heroico fechado numa pequena cronologia que relataríamos como a guerra da nossa geração e, do nada, quase tão depressa como um estalar de dedos, tudo regressaria ao normal, ficando como uma daquelas memórias nebulosas nas revistas de fim de ano. Mas quando as notícias vindas da China se intensificaram, depois de Itália e por fim de Espanha, quando nos disseram que, na melhor das hipóteses, só teremos uma vacina disponível no verão de 2021 e que, até lá, teremos de aprender a conviver com o vírus, com uma máscara a ser um acessório de roupa tão básico como a roupa interior ou as meias, com o gel desinfetante sempre por perto e os amigos e familiares, pelo menos, a dois metros de distância, percebemos que o regresso não será ao mundo que conhecíamos, mas sim a um mundo novo, com novas dinâmicas e novos conceitos, estendidos, espremidos e criados durante esta pandemia.
Nos últimos meses o mundo mudou. Fechámo-nos em casa e passámos a trabalhar remotamente, os que podiam. Aqueles cuja profissão não o permite, passaram a sair de casa como quem vai entrar numa zona proibida, de declaração de autorização numa mão e equipamentos de proteção e higienização na outra. Deixámos de nos beijar e de nos abraçar. Vimos os países imporem restrições às liberdades. As escolas fecharam e os professores viram-se obrigados a reinventar os métodos de ensino. Os campeonatos desportivos pararam e os estádios ficaram vazios. Ir colocar o lixo à rua, receber uma encomenda em casa ou sair para ir às compras passaram de coisas rotineiras para exercícios de elevada complexidade, dependentes não só da nossa prestação, como da seriedade com que as pessoas com quem nos cruzamos nas saídas higiénicas estão a levar a situação.
Ao mesmo tempo, o mundo aproveitou estes dias para se curar. A ironia é óbvia e constata a urgência daquele que ia ser o combate de 2020, antes de a humanidade estar abraços com uma pandemia.
A tudo isto somam-se tantas mudanças que um só ser humano a observar o mundo há mais de um mês de um segundo andar na Bobadela, numa rua que se faz curta por via de uma curva apertada, é incapaz de numerar. No entanto, dizer que quando isto acabar iremos regressar à normalidade é já um desejo de uma quase ingenuidade nostálgica. O mundo já mudou, a maneira como vivemos já mudou e isso não voltará ao que era antes. A pandemia vai deixar marcas, não nos vamos reencontrar com o passado e retomar a partir daí.
Perante a inevitabilidade da mudança, urge refletir-se sobre ela. Nesse sentido, o SAPO24 formou uma parceria com o projeto 100 Oportunidades, uma plataforma criada pelos Global Shapers de Lisboa e formada por jovens que são referência nas mais diversas áreas, prontos para discutir a titularidade com os tudólogos nos painéis de comentário televisivo, na rádio ou nas colunas de opinião do jornais e trazer uma lufada de ar fresco ao espaço de discussão pública, para pensar este mundo pós-pandémico.
Durante um mês, todos os dias, será publicado um texto com a assinatura de um destes jovens. A estreia da rubrica “Regresso a um Mundo Novo” está marcada para amanhã, dia 25 de abril, dia da Liberdade. Curiosamente, um ano depois do debate promovido pelo programa da RTP "Prós e Contras" em que João Marecos, advogado e um dos fundadores da página Os Truques da Imprensa Portuguesa, criticou a forma como os media encaram a participação dos jovens na sociedade, convidando-os, em regra, para falar na condição de jovens e não pelas áreas de conhecimento ou de atuação onde estão envolvidos, tendo deixado a promessa de criar uma “uma lista pública com nomes de jovens sub-30 especialistas em várias áreas”.
Essa lista foi divulgada em janeiro deste ano, num site constituído para o efeito, o 100 oportunidades, cujo manifesto tem como assinatura "100 oportunidades para acabar com as desculpas". São precisamente eles que nos vão ajudar a pensar.
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